Hoje é dia de celebração, e em comemoração aos cinco anos do Folha de Piracicaba e do aniversário da cidade, resolvi trazer um tema que está em voga nos últimos dias. Com a estreia marcada para dia 20 deste mês, o filme Barbie foi uma das produções mais aguardadas pelos espectadores. As expectativas estavam altas em relação ao rumo que o filme tomaria, uma vez que Greta Gerwig, roteirista e diretora do live action, é popularmente conhecida por trazer pautas importantes dentro dos universos produzidos por ela. Mas as especulações não pararam por aí. Todos estavam muito ansiosos para saber como Margot Robbie daria vida a uma personagem tão icônica que atravessa gerações. E sem spoilers, o filme é sem dúvidas um dos maiores lançamentos deste ano. A forma como Gerwig nos faz refletir sobre assuntos tão importantes e, infelizmente, recorrentes nos dias atuais, de forma leve é genial. Um verdadeiro tapa na cara com luvas de cetim!
Além de toda narrativa e do elenco serem fenomenais, é claro que não poderia faltar as inspirações fashion para os looks da personagem, que traziam com excelência referências de looks já produzidos para a boneca ao longo de sua existência. E quando se trata de moda, é inegável o fato de “Barbie” ser sinônimo do que há de mais atual no mercado. O brinquedo foi criado por Ruth Handler e apresentado ao mercado em 09 de março de 1959, com o intuito de inovar e mostrar às meninas que elas poderiam ser livres para escolherem seu futuro, já que o papel de destaque em diferentes profissões, inclusive as predominantemente masculinas, era de uma mulher.
Tudo no universo cor de rosa da Barbie sempre foi pensado para refletir o estilo da época. Desde o penteado ao fashion pack vendido separadamente para que a boneca fosse vestida. Cada detalhe era projetado para representar o que estava em alta na temporada. As bonecas do fim da década de 50 e início de 60 apresentavam penteados populares, como o rabo de cavalo e a franja lateral, cortes chanel na altura do queixo e outros, em sua grande parte geralmente trajando um maiô de banho ou peças com a estética presente nas vitrines.
Na década de 70 a boneca começou a sofrer modificações, como um novo molde de rosto que agora levava cílios realistas, além de uma moda totalmente extravagante recheadas de estampas, cores e peças marcantes, como a famosa calça boca de sino.
Já nos anos 80, a Barbie finalmente chegou ao Brasil através da label Estrela, que em 1982 conseguiu fechar um contrato com a Mattel para a produção e distribuição da boneca no país. Com um novo visual, a boneca agora era representada com looks vibrantes e coloridos, com os penteados mais diferenciados que faziam sucesso na década em questão.
A partir dos anos 2000 a boneca sofreu um dos reboots mais perceptíveis, ganhando novas curvas, um rosto menos infantilizado e diferentes versões ligadas a moda, filmes e afins, atrelados à personagem. Atualmente, a identidade da marca vem buscando cada vez mais retratar a diversidade e a inclusão. Diferentes tons de pele, alturas, com vitiligo, prótese mecânica e até síndrome de down, a Barbie está finalmente conseguindo reconquistar a imagem de empoderamento feminino tão prezado por sua criadora no começo de tudo
Agora que conseguimos entender melhor essa relação forte entre a personagem e o universo fashion, gostaria de voltar brevemente às premieres de divulgação do live action. Acho válido ressaltar a sagacidade do Stylist de Margot Robbie ao referenciar looks icônicos já utilizados pela Barbie ao longo de sua existência. Dentre as recriações mais marcantes estão o conjunto rosa de 1985, parte da coleção “Day to Night”. Temos também a versão de um dos conjuntos mais cobiçados entre os colecionadores, o da edição “Sparkling Pink Barbie”. E claro, o meu favorito de todos, O look de 1960 da boneca “Solo in the Spotlight”.
Para finalizar essa conversa, acho importante relembrar uma polêmica que rondou esse brinquedo por anos. A questão da distorção de imagem em crianças e adolescentes. Não é novidade que a boneca é considerada um dos maiores símbolos de beleza e perfeição, e o fato da popularidade demasiada de sua figura fazia com que muitas pessoas se submetessem a regimes malucos e procedimentos estéticos a fim de se aproximarem o máximo possível desse estereótipo. Mas o questionamento que fica é: como aquele propósito inicial foi se perdendo ao longo dos anos? A boneca é realmente a principal causa de tantos transtornos?
Bom, a crítica presente no filme nos faz refletir bastante a respeito do tema, principalmente ao evidenciar a masculinidade frágil presente em uma indústria majoritariamente dominada por homens. Fica clara a percepção de como o patriarcado conseguiu imbuir a sociedade a ponto de fazer meninas e mulheres acreditarem que para serem boas o suficiente elas precisariam ser iguais a um brinquedo, ou melhor, um objeto. O real significado de igualdade e poder de escolha da mulher que a boneca representava, por ameaçar a integridade masculina, acabou sendo deturpada ao longo dos anos como forma de desestimular um senso de igualdade entre os gêneros. Sejamos honestos, se você não se encaixa no padrão heteronormativo, certamente já deve ter se sentido colocado nesse lugar de inferioridade. Portanto, acho importante termos um cuidado maior ao filtrar o que chega até nós e o que decidimos ou não compartilhar com os demais. Muitas coisas ainda estão enraizadas e é mais que necessário o avanço em busca de equiparação.
