O quanto avançamos, e o quanto nos falta avançar?
O pensamento e a fala de expoentes negros, com exclusividade para o PiraCult
Allan Oliver
Apesar de progressos importantes no combate ao racismo, ainda enfrentamos preconceitos e julgamentos. Sou um produtor preto e, ao longo da minha trajetória, percebi como acusações falsas podem rapidamente ganhar destaque, especialmente quando atingem pessoas pretas. Mesmo com os avanços, ainda sentimos que nossa palavra é frequentemente colocada em dúvida, ou julgada com mais severidade e sempre sem aprofundamentos. Acredito que, enquanto sociedade, precisamos garantir que todos sejam avaliados de forma justa e objetiva. Minha experiência me lembra da importância de persistirmos nessa luta, pois a igualdade verdadeira só virá quando nossa cor de pele não influenciar a forma como somos vistos. É necessário avançarmos mais, para que todos tenham voz e respeito em igualdade.
Lucas Reduccino
O Dia da Consciência Negra nos remete à luta histórica e às conquistas do povo negro no Brasil, mas também destaca as desigualdades que ainda persistem. Houve avanços importantes, como o aumento da representatividade em espaços de poder e a implementação de políticas públicas de inclusão. No entanto, enfrentamos desafios profundos, como o racismo estrutural, a violência policial e a falta de oportunidades igualitárias. A construção de uma sociedade mais justa exige que continuemos questionando o sistema e trabalhando coletivamente para garantir que os progressos beneficiem a todos. A conscientização não deve se restringir a um único dia; precisa ser uma prática cotidiana e constante.
Viviane Souza
Neste mês de novembro, em que se comemora o Dia da Consciência Negra, percebe-se que algumas coisas mudaram, mas ainda falta muito. Vejo que uma pequena parte dos negros consegue estudar para ter um trabalho digno, com um bom salário, uma boa moradia, alimentação adequada e boas condições de saúde, mas esses ainda são poucos. Muitas mulheres negras ainda trabalham como diaristas ou empregadas domésticas por não terem outra opção ou oportunidade. A falta de estudo as leva a se submeter a esse tipo de trabalho, pois precisam sustentar suas familias. Não que não seja um trabalho digno-eu mesma sou diarista, não por falta de opção, mas porque foi a maneira mais fácil de conciliar com a minha carreira de atriz, que, por sua vez, também não é fácil, já que viver só de arte é desafiador para se manter. Outro ponto a ser discutido é o racismo, que ainda impera. Como é possível que ainda se importe com a cor da pele, se isso é apenas um detalhe? Somos todos iguais, seres humanos, filhos de um mesmo Deus. O preconceito e o julgamento não deveriam acontecer nos dias de hoje, mas ainda acontecem, e é difícil mudar. Somos observados e julgados quando entramos em alguns lugares. As pessoas nos olham ejá pensam coisas erradas. Eu vejo olhares estranhos quando entro em certos lugares, pela maneira como estou vestida. Não me preocupo em me vestir de maneira “chique”; uso roupas e calçados que gosto, que me fazem sentir bem, mas isso atrai olhares maldosos. Eu não me incomodo, sou bem resolvida quanto a isso. No entanto, sei que há pessoas que se sentem mal, que sofrem, e algumas até chegam a se machucar por causa dessas atitudes. Que mais pessoas negras possam estudar e trabalhar em lugares que não sejam apenas para limpar ou servir. Que possam alcançar cargos importantes, ter uma vida digna, com um bom salário, alimentação adequada e direito a um bom atendimento de saúde, educação e moradia. Será que é pedir demais que pessoas como nós sejam tratadas com igualdade? Não merecemos ser tratados da mesma forma que qualquer outra pessoa?
Mama África
Sou D’Odette, mas muitos me conhecem como Mama África. Sempre fui muito alegre e apaixonada pelo Carnaval. Fundei a Portela junto com outros apaixonados pelo samba, e naquela época, desfilava em várias escolas, sem esconder meu amor por todas elas. Meu falecido marido, Anezio Teixeira, mais conhecido como Barbosa, também era um grande carnavalesco. Ele era famoso como o “Rei do Surdão” quando tocava, mas também o chamavam de “Príncipe Solitário”. Tivemos nosso primeiro filho, que nasceu prematuro, com sete meses, mas, infelizmente, ele viveu por poucos dias. Depois, veio minha filha, e lembro-me de ter rezado a Santa Catarina para que ela nascesse com saúde. Quando ela chegou ao mundo, graças a Deus, estava bem, mesmo sendo prematura também. Um padre nos presenteou com um quadro da santa, e foi assim que escolhi o nome dela. Infelizmente, meu casamento durou poucos anos, pois meu marido faleceu. Desde então, cuidei da minha filha sozinha, com a ajuda da minha mãe, que viveu até os 92 anos. Quando ela partiu, continuei a vida apenas com minha filha. Me aposentei trabalhando com a família Botelho, e hoje sou atleta e batuqueira do tambu de umbigada. A vida nunca foi fácil quando eu era jovem, mas tive a sorte de encontrar pessoas boas pelo caminho. Meus padrinhos de casamento, que eram turcos, cuidaram de todos os preparativos do velório do meu marido, e sou muito grata por isso. Depois de tudo isso, segui minha vida no atletismo e, com orgulho, acabei aparecendo no Esporte Espetacular. Também tive a honra de participar da minissérie “Hoje é Dia de Maria”, na Globo. A vida continua, e ainda há muito o que melhorar, mas sei que o nosso lugar está onde quisermos. O lugar da mulher é onde ela decidir estar. Axé!
Catharina Martins Teixeira
Sou Catharina, filha da D’Odette, conhecida como Mama África. Na minha vida, nada veio fácil. Como nada é fácil, temos que lutar muito. Mas, assim como minha mãe, encontrei boas pessoas no caminho. Só que tudo que conquistei, tive que correr muito atrás. Hoje, depois de tanto correr e com a educação que sempre recebi da minha avó e continuo recebendo da minha mãe, sou formada em estilista e massoterapeuta. Já fiz cursos de necropsia, artesã, perícia criminalista, design de guarda-roupas, teatro e perícia grafotécnica, que estou cursando agora, além das aulas de teatro. Na época da pandemia, participei de um curta gravado na rodoviária chamado “Penélope”, com a participação especial da atriz da Globo, Lina Agifu. Às vezes, faço aula de dança contemporânea, quando sou convidada. Enfim, sou batuqueira e percussionista, danço e toco. Tenho muito orgulho de mim, porque sempre sigo os ensinamentos da minha mãe. Esse mundo é cheio de desafios, então procuro sempre o caminho certo. Acredito que aquilo em que você confia, dá certo! Confia e vai. Deus sabe de todas as coisas. Agradeço a cada sopro de vida, sempre junto com minha mãe. Amém!
Sarah Bedia
Os temas raciais têm sido pauta de diversas discussões, na mídia e fora dela. Pessoas pretas têm ganhado espaço para expor suas perspectivas e vivências, gerando identificação e consciência racial por parte de alguns. Entretanto, uma fração considerável da população brasileira, ainda não compreende o racismo como uma estrutura social nociva que precisa ser combatida. Sobre esse aspecto, ainda impera apenas a ideia de atitudes de cunho ofensivo e discriminatório, em contextos individuais e isolados. Não encarar a real proporção do racismo, limita o alcance da luta e expande os danos que ele provoca. A ferramenta mais potente contra esse cenário, em meu ponto de vista, é a disseminação de informações que agreguem conhecimento.
Andre Santos Nëpomuceno
Acredito que falta ao Brasil reconhecer-se como uma nação predominantemente negra. Fui escolhido para ser um ídolo infantil através da personagem Juca, da série Blippi, por uma seleção internacional, que por sua vez, se fosse nacional, provavelmente seria mais do mesmo, a branquitude ocupando as vitrines e ditando panoramas estéticos, políticos e sociais. Acho que estamos caminhando a curtos e pequenos passos, porém mais significativos. Contudo, acredito que toda essa mudança ainda é fortemente regida por tendências capitalistas e mercadológicas. Consciência Negra ainda é pretexto para enriquecimento.
Daiane Heloísa
20 de novembro, Dia da Consciência Negra, é uma data importante para refletirmos sobre a história e os avanços da população negra no Brasil. Como mulher negra e empreendedora trancista, destaco o reconhecimento da profissão de trancista em 06/07, data comemorada em Piracicaba, como um marco significativo. Apesar dos avanços, como a maior aceitação dos cabelos naturais e a quebra de barreiras por atrizes e figuras públicas, ainda enfrentamos preconceito, principalmente em ambientes de trabalho, escolas e cargos de liderança. A discriminação capilar e as barreiras sociais e econômicas ainda exigem muita luta e transformação para garantir mais equidade e respeito à cultura afro-brasileira.
Letícia Oliveira
A Consciência Negra no Brasil reflete conquistas e desafios na luta contra o racismo. Houve avanços, como maior acesso à educação e políticas afirmativas que buscam igualdade de oportunidades para negros e brancos. Movimentos sociais e culturais têm sido cruciais para dar visibilidade à história e identidade negra, promovendo orgulho e reconhecimento. Contudo, a igualdade plena ainda está distante: a população negra continua enfrentando discriminações sutis e diretas, inclusive no ambiente escolar, refletindo o racismo estrutural que perpetua desigualdades e violência. É fundamental ampliar o debate educacional, fortalecer políticas públicas e combater as raízes do racismo para construir um Brasil mais justo e inclusivo.
Valentina Leão
Bom, eu acredito que tivemos um avanço muito bom ao longo dos anos mas não podemos parar por aí, precisamos continuar melhorando e valorizando a identidade, história e cultura do povo afrodescendente. Infelizmente a opressão e a discriminação ainda afeta a vida de várias pessoas diariamente no mundo todo e isso é muito triste. Esse é um momento que precisamos pensar em nossas atitudes e como podemos melhorar enquanto pessoa. Precisamos refletir sobre tudo que já foi conquistado mas também sobre as coisas que ainda precisam ser superadas. A luta pela liberdade e igualdade não pode parar, juntos nós conseguiremos um lugar onde todos sejam respeitados, tenham os mesmos direitos e oportunidades independente da cor da pele.
Débora Brito
Avançamos em representatividade nos meios midiáticos e também avançamos na academia. Os índices de analfabetismo diminuíram significativamente. Houve também um tímido avanço nas escolas públicas com a implementação da Lei 10.639/03 e da Lei 11.645/08. A equiparação da Injúria Racial como Crime de Racismo também ajudou, bem como a proliferação de celulares com câmera de qualidade que andam flagrando e ajudando a prender muitos racistas Temos muito a avançar no quesito letalidade. O avanço de governos de extrema-direita tem dizimado a população negra do país em escalas assustadoras. Falta ainda representatividade em espaços de poder e ações afirmativas para equiparar o abismo econômico que ainda assola a população negra do país.
Áriston Batista
O racismo estrutural sustenta desigualdades brutais no Brasil: enquanto as cotas promovem maior inclusão de jovens negros nas universidades, a violência policial ainda é alarmante, com quase 90% dos mortos por policiais em 2023 sendo negros. No ambiente escolar, as crianças negras continuam expostas a ofensas racistas, como “macaco”, sem que o bullying seja abordado de forma adequada. Inspirar-se em figuras como Adriana Barbosa (Preta Hub), Nina Silva (Movimento Black Money) e Elaine Teotônio (Instituto Afropira), que promovem autoestima, cultura afro-brasileira e afroempreendedorismo, pode ser um caminho. Para enfrentar essas desigualdades, é essencial que instituições e empresas abracem o “S” do ESG, priorizando ações reais de inclusão e justiça social.
Rosangela Pereira
Desde os tempos de Madrinha Eunice, Abdias Nascimento e Zumbi dos Palmares até os dias de hoje, grandes artistas e líderes negros têm lutado por equidade e protagonismo na cultura. Figuras como Mussum, Benedita da Silva, Conceição Evaristo, Elza Soares, Gilberto Gil, Jair Rodrigues, Lélia Gonzalez, Leci Brandão, Milton Nascimento, Ruth de Souza, Sandra de Sá, Tim Maia, Zezé Motta e muitos outros abriram caminho para que, finalmente, politicas públicas culturais mais inclusivas comecem a se concretizar. Se estamos colhendo frutos hoje, não foi nada fácil. A luta do movimento negro para consolidar não apenas o dia 20 de novembro, feriado nacional de Zumbi, como também o dia 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e outras lutas, como a Revolta dos Malês, a Balaiada e a Revolta da Chibata, que são invisibilizadas, mas foram importantíssimas. Em Piracicaba, avançamos já tivemos Marias e Cristos negros na PAIXÃO DE CRISTO. Neste ano de 2024, tivemos uma curadora negra no 19° FENTEPIRA-Festival Nacional de Teatro de Piracicaba, além de excelentes debatedores negros. Artistas negros vêm protagonizando os cenários da cidade com um destaque real e crescente. O Festival CURAU, liderado por uma mulher negra, cresce a cada edição, assim como o Festival AFROPIRA, concebido, criado e realizado por uma artista negra. Somos a RESISTÊNCIA! Leis de incentivo têm apoiado projetos voltados para a negritude e a periferia. Conquistamos muito, mas ainda precisamos de muito mais ainda há o feminicidio, que atinge, em sua maioria, mulheres negras, há uma carência de negros em cargos de liderança em todas as esferas, tanto governamental quanto na sociedade civil. Enfim, o lugar do negro e da mulher é onde eles quiserem estar. Como herdeira dessa ancestralidade, agradeço à minha Tia Dita (Vó Dita do Tambu), à minha prima Esme (do samba-lenço) e à minha Tia Carmela Pereira (multiartista), mulheres negras artistas que contribuíram para que eu me tornasse uma mulher atuante na cultura. Continuamos na luta. EVOÉ!!!
Miguelzinho do Cavaco
O Dia da Consciência Negra é um convite para refletirmos sobre conquistas e desafios. Hoje, vemos mais representatividade negra em todas as áreas: na mídia, nas artes e em espaços de poder. Políticas de inclusão trouxeram avanços e abriram portas para uma geração de jovens negros. Porém, a desigualdade racial e o preconceito ainda são barreiras que pesam na vida de milhões de brasileiros. Eu, como artista negro, venho buscando ser um espelho para crianças e jovens negros, para que eles acreditem que podem ser o futuro espelho para outros que venham depois. O 20 de novembro nos lembra que precisamos de ações contínuas para transformar esse cenário e construir uma sociedade realmente igualitária e justa, onde cultura e educação são pilares fundamentais para essa transformação.
Mazé
Em nome da Pastoral Afro, celebramos o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, reconhecendo as vitórias e conquistas do povo negro ao longo da história. Nossas matrizes africanas estão enraizadas em tudo o que vemos e vivemos, seja na música, na comida, na cultura e em muito mais do que possamos imaginar. Tendo em vista o povo negro como etnia, e não como raça, avançamos na luta por igualdade, respeito e direitos, por meio de ações afirmativas, como as cotas, mas ainda enfrentamos muitos desafios. O caminho é longo e exige a união de todos para que as próximas gerações possam viver em um Brasil realmente livre de racismo e com oportunidades iguais para todos. A caminhada continua, e só com ação e consciência coletiva poderemos alcançar um futuro mais justo e digno para o povo negro. Para marcar esta data tão significativa, convidamos todos para a Missa Afro, que será celebrada no dia 20 de novembro, às 9h, no Teatro Erotides de Campos.
Ronaldo Barcellos
Em 1970, no quinto Festival da Canção, surgiu um cantor negro, de meia idade, de alta estatura, com música e roupas modernas, cabelo black power nunca visto no pais. Foi consagrado, ganhou o festival e muitos corações, sendo imediatamente, alçado ao seleto e minúsculo grupo de pretos bonitos. A dança era fantástica, o estilo de cabelo conhecido nos subúrbios americanos foi imediatamente copiado por milhares de jovens negros Brasil a fora. Foi o primeiro momento em que o cabelo chamado pixaim, soube o significado de moda. Anos depois, os dreads foram chegando devagar com Gile Djavan, disseminando uma outra forma de usar o cabelo do preto como adereço de beleza étnica; até então, o corte permitido era o Príncipe Danilo, bem baixinho, rente a nuca, tipo militar. O saudoso professor Darci Ribeiro, lançou um modelo de escolas com tempo integral; o que tirou muitos jovens da rua e os levou pra sala de aula, numa escola que lhes dava alimentação, profissão e esperança. Outros projetos facilitaram a vida de jovens negros e periféricos que sonhavam fazer um curso de terceiro grau, politicas afirmativas ajudaram no desempenho deles em várias universidades com o sistema de cotas. Doutores negros, cientistas, jornalistas, antropólogos… deram orgulho pra suas familias e ancestrais provando que podiam ir muito além do que jogar bola e cantar pagode. Ainda há muito a conquistar: jovens pobres e favelados quase em sua totalidade negros, foram prejudicados durante a pandemia; onde as aulas eram acessadas via computador, como se fossemos evoluídos como os africanos do Quênia que têm sinal de wifi nas ruas. Precisamos de políticas que aproxime a igualdade de condições para avançar na cultura porque beleza negra ninguém mais tem coragem de dizer que não existe.
Nathy Pezzato
Pela primeira vez, neste ano, a Consciência Negra será feriado nacional, mas o racismo continua sendo estrutural. O 20 de Novembro, que entrou no calendário escolar a partir da Lei 10.639 de 2003, obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Como Zumbi e Dandara, lutamos com estratégias de resistência, para que as portas nos sejam abertas. Do Brasil colonial, onde o racismo estrutural se perpetua desde a época da escravidão, até o século XXI, o caminho que ainda precisamos percorrer se faz, mais do que nunca, ao discorrer não somente com o objetivo de homenagear Zumbi dos Palmares, que nos conduz pela ancestralidade a novos horizontes, mas também para relembrar as lutas dos movimentos negros contra a desigualdade social. E SIM, vale ressaltar que a “Consciência Negra” tem cor, e que o embranquecimento jamais terá o tom ou as marcas das chibatas e mordaças que por anos “os nossos” silenciaram.
Mauricio Ribeiro
Quando intentei publicar essa série especial de depoimentos para trazer novas luzes sobre o 20 de novembro, comecei a procurar pessoas que a meu ver pudessem cooperar com suas reflexões e vivências. Confesso que me frustrei um pouco. Um pouco pelos que receberam o convite e sequer me responderam (aprendamos: o ‘não’ também é resposta); um outro pouco pelos cinco convidados que declinaram da oportunidade não porque não tenham intimidade com o tema, mas porque não se sentem à vontade para (se) expor, dar a cara pra bater, mostrar o que pensam. Uns por falta de crença na mudança, outros pelo contexto do ‘onde’ e ‘com quem’ trabalham. Deixemos-lhes quietos! Falo eu! Coloco a minha cara branca corajosamente para fechar essa série, que se pretende histórica, mesmo sem ter (evidentemente) nenhuma vivência de preconceito sofrido ou luta assumida. Mas evoco o meu lugar de fala, filho de uma branca e um preto. Um preto que por descer o morro de short e sem camisa, pra buscar sua mulher no asfalto, foi ‘conduzido ao plantão policial por não portar um documento. Evoco minha ascendência genética, de antepassados nigerianos, conforme descobri num exame de DNA. Branco na pele, mas com uma história ancestral que ninguém pode apagar. Fica nesta edição, a minha singela contribuição, em ter compilado os textos que aqui se publicaram. Pelo tanto que foi mudado, e pelo outro tanto que se pretende mudar.