Revisão de literatura realizada pelo Hospital das Clínicas da USP destaca a presença de bactérias nocivas em pacientes com endometriose, sugerindo seu papel na progressão da doença
Pesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo conduziram uma revisão de literatura para analisar a disbiose do trato genital feminino em relação à endometriose.
A revisão revelou uma conexão promissora entre o microbioma vaginal e a endometriose, trazendo novas perspectivas para o tratamento dessa doença que afeta 190 milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo.
A análise incluiu 12 estudos caso-controle, destacando a presença elevada de bactérias como Enterococcus e Pseudomonas em amostras de pacientes com endometriose profunda. Essas bactérias foram encontradas tanto no microbioma vaginal quanto nas lesões da doença, em comparação com os microbiomas de participantes sem endometriose.
Microbioma vaginal e disbiose
O microbioma vaginal é um ecossistema complexo composto por diversos microrganismos, como bactérias, vírus e fungos, que desempenham um papel essencial na saúde íntima feminina. Esse ambiente é predominantemente ocupado por lactobacilos, que ajudam a manter o pH vaginal entre 3,8 e 4,5. Esse nível de acidez cria um ambiente desfavorável ao crescimento de bactérias patogênicas, funcionando como uma barreira natural contra infecções.
Como explica Marcos Tcherniakovsky, Ginecologista e Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), quando ocorre a diminuição da predominância de Lactobacillus e o aumento de bactérias oportunistas, instala-se a disbiose.
“É justamente esse desequilíbrio que tem sido associado ao agravamento dos processos inflamatórios na endometriose, pois altera a resposta imunológica do corpo, facilitando a proliferação de lesões endometriais e influenciando no metabolismo do estrogênio, hormônio que tem um papel central no agravamento dos sintomas da endometriose”, afirma o especialista.
Perspectivas
A endometriose não tem cura, mas importantes avanços vêm sendo alcançados no tratamento da doença, permitindo que as mulheres que sofrem com os sintomas possam ter uma qualidade de vida melhor.
“Essas pesquisas apresentam resultados promissores no uso de antibióticos e probióticos para restaurar o equilíbrio microbiano em pacientes com endometriose, o que pode ajudar a aliviar os sintomas de dor e reduzir os marcadores inflamatórios associados à doença”, explica Tcherniakovsky.
Atendimento especializado
A endometriose é uma doença complexa e multifatorial com componentes genéticos, imunológicos e ambientais. Por isso, o diagnóstico requer uma investigação clínica por um profissional especializado. Além do exame ginecológico clínico, o médico pode ainda solicitar exames laboratoriais e de imagem como o ultrassom endovaginal e ressonância magnética da pelve, ambos com preparo intestinal.
Artigo: Frontiers | Endometriosis and dysbiosis: State of art (frontiersin.org)
Pesquisa: The Endobiota Study: Comparison of Vaginal, Cervical and Gut Microbiota Between Women with Stage 3/4 Endometriosis and Healthy Controls – PubMed (nih.gov)
Foto: Banco de Imagem