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⭐ Piracicaba, 9 de março de 2025 ⭐

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Nova técnica contra câncer de mama, que congela o tumor, atinge 100% de eficácia

Silvia Audi

A manchete acima, publicada dia 28/01/2025, pelo site Extra olnine (https://extra.globo.com/saude/noticia/2025/01/nova-tecnica-contra-cancer-de-mama-que-congela-o-tumor-atinge-100percent-de-eficacia.ghtml) revela uma técnica promissora no combate ao câncer de mama. Dentro deste contexto, oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN Piracicaba e diretor do Centro de Oncologia Campinas, faz uma análise crítica do assunto, seguido de seu posicionamento sobre o tema.

De acordo a publicação no site Extra online, uma esperança promissora, principalmente para a saúde das mulheres. Uma técnica de congelamento do tumor, testada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), teve 100% de eficácia contra o câncer de mama em testes iniciais. O tratamento, que começou em Israel e já é utilizado em países como EUA e Japão, tem a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas como o procedimento ainda não é coberto pelos planos de saúde ou oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS), é pouco realizado no Brasil.

Ainda, a matéria afirma que o estudo na Unifesp é a primeira pesquisa com o congelamento na América Latina. Trabalhos do tipo ajudam a comprovar a eficácia do tratamento e podem ampliar o seu acesso na rede pública e privada. É o que explica, em comunicado, Afonso Nazário, professor da Unifesp responsável pelos testes com a técnica junto à também docente da instituição Vanessa Sanvido.

“Nós estamos otimistas de que vai dar certo e de que poderemos, futuramente, contar com o procedimento no SUS. As agulhas utilizadas no procedimento têm um valor alto. Com a expansão do uso, acreditamos que o custo da agulha vai cair e se tornar mais acessível. Nosso objetivo é tirar da fila do SUS de 20 a 30% das pacientes”, afirma o texto.

A técnica, chamada de crioablação, foi testada no dia 13 de janeiro na Unidade Diagnóstica do ambulatório de Mastologia do Hospital São Paulo (HSP/HU Unifesp). É a primeira vez que uma instituição pública do país conduz o tratamento. Ele é minimamente invasivo e consiste na aplicação na mama de nitrogênio líquido para gerar temperaturas extremamente baixas e congelar e destruir as células cancerígenas.

Em continuidade, o site Extra olnine revela que nos testes da Unifesp, foram conduzidos três ciclos de dez minutos, alternando entre o congelamento e o descongelamento do tumor mamário, segundo Nazário:

“Inserimos, por meio de uma agulha, o nitrogênio líquido a uma temperatura de cerca de 140 graus negativos na região afetada, o que forma uma esfera de gelo, destruindo o tumor. A incisão deixada pela agulha é igual ou até menor à própria biópsia realizada pela paciente”.

Uma das vantagens da crioablação, continua, é que ela pode ser feita em ambulatório com anestesia local, sem necessidade de internação hospitalar. Além disso, a técnica é indolor, tem alto grau de precisão e é realizada rapidamente. Na Unifesp, a realização do congelamento foi feita de forma experimental, como parte da pesquisa de pós-doutorado da professora Vanessa.

O protocolo é aplicado em pacientes com tumores menores de 2,5 centímetros e que têm indicação primária de cirurgia, explica a pesquisadora da Unifesp.

No primeiro momento, foi avaliada a técnica junto à operação, e a taxa de sucesso foi alta: “A primeira parte do estudo consistiu na realização da crioablação seguida de cirurgia. Essa etapa inicial, que contou com aproximadamente 60 casos, obteve uma eficácia de 100% para tumores menores do que 2 cm”.

Agora, o objetivo é avaliar se a crioablação consegue substituir a cirurgia convencional:

“A fase atual do protocolo consiste na comparação de um grupo em que é feita a crioablação sem a necessidade de realização de uma operação, com outro grupo em que é feita a cirurgia tradicional. Nesta fase, mais de 700 pacientes participarão da pesquisa em 15 centros de saúde do Estado de São Paulo”, diz Vanessa.

O procedimento na Unifesp foi realizado por meio de uma parceria com a empresa KTR Medical, representante da Ice Cure e da solução ProSense no Brasil, o Hospital Israelita Albert Einstein e o HCor.

Análise crítica da matéria, por Fernando Medina, oncologista diretor do CECAN

De acordo com o oncologista do CECAN Piracicaba e diretor do Centro de Oncologia Campinas, o artigo descreve um estudo multicêntrico brasileiro com 34 pacientes com câncer de mama em estágio inicial, com tumores de 0,5 cm a 1,9 cm. As pacientes foram submetidas a dois ciclos de congelamento e descongelamento. O estudo apontou uma taxa de ablação completa de 88%, com 100% de sucesso em tumores menores que 1 cm.

O oncologista apresenta Resultados e Comparativos:

*   Taxa de ablação: A taxa de 88% de ablação completa é um resultado promissor, especialmente o índice de 100% em tumores menores que 1 cm. Essa informação é crucial, pois indica a eficácia da técnica em estágios iniciais da doença.

*   Comparativo com outros estudos: O artigo menciona estudos similares nos Estados Unidos e no Japão, que também demonstraram resultados positivos. Essa comparação é importante para contextualizar a pesquisa brasileira e mostrar que a crioablação é uma técnica promissora em diferentes contextos.

*   Não necessidade de cirurgia: A sugestão de que a crioablação pode eliminar a necessidade de cirurgia para retirada do tumor é um ponto interessante e que merece mais investigação. É crucial entender se as células tumorais realmente se tornam inativas após o procedimento e se o risco de recorrência é baixo.

As vantagens da Crioablação, segundo Medina:

*   Minimamente invasiva: A natureza minimamente invasiva do procedimento é um ponto positivo, pois geralmente está associada a uma recuperação mais rápida e menos complicações.

*   Ausência de dor: A ausência de dor para a paciente é outro fator importante, contribuindo para o conforto durante e após o procedimento.

*   Procedimento ambulatorial: A possibilidade de realizar a crioablação de forma ambulatorial é vantajosa tanto para o paciente quanto para o sistema de saúde, pois reduz custos e tempo de internação.

*   Redução de custos: A alegação de que a crioablação representa uma redução de custos é relevante, especialmente no contexto do sistema de saúde brasileiro. No entanto, seria interessante ter mais detalhes sobre essa questão, como a comparação de custos com outros tratamentos.

Medina ainda ressalta a seguir as limitações do estudo:

*   Tamanho da amostra: O estudo envolveu apenas 34 pacientes, o que pode ser considerado um número relativamente pequeno. Estudos com amostras maiores são necessários para confirmar os resultados e determinar a eficácia da crioablação em diferentes grupos de pacientes.

*   Falta de detalhes: O artigo não fornece muitos detalhes sobre o estudo, como o tipo de câncer de mama, o tempo de acompanhamento das pacientes após o procedimento e os critérios de avaliação da resposta ao tratamento. Essas informações são importantes para uma análise mais aprofundada dos resultados.

Conclusão

“O estudo apresentado no artigo demonstra que a crioablação é uma técnica promissora para o tratamento de câncer de mama em estágio inicial, com vantagens significativas em relação a outros métodos. No entanto, é importante ressaltar que a pesquisa ainda está em andamento e mais estudos são necessários para confirmar os resultados e determinar o papel da crioablação no tratamento do câncer de mama a longo prazo”, diz Medina.

A técnica da crioablação, na opinião do oncologista

“A crioablação é uma técnica minimamente invasiva que utiliza temperaturas extremamente baixas (geralmente com nitrogênio líquido ou argônio) para destruir células cancerosas. No câncer de mama, tem sido estudada como alternativa à cirurgia tradicional em casos selecionados”.

Medina descreve as situações em que a crioablação pode ser indicada.

1. Tumores pequenos: Geralmente tumores ≤ 1,5 cm (estágios iniciais, como T1).

2. Câncer de mama primário não metastático: Principalmente em pacientes idosas ou com comorbidades que contraindicam cirurgia.

3. Tumores hormonorresponsivos (ER+): Podem responder melhor quando combinados com terapia hormonal adjuvante.

4. Pacientes que recusam cirurgia: Ou em casos de recidiva local limitada.

5. Contexto paliativo: Para controle de sintomas em tumores avançados.

6. Ensaios clínicos: Ainda em investigação para expandir indicações.

O oncologista lista abaixo os resultados atingidos, vantagens e desvantagens da técnica inovadora.

Resultados:

– Eficácia: Estudos mostram taxas de sucesso de 75-90% em tumores ≤ 1,5 cm, com destruição completa em casos selecionados.

– Controle local: Comparável à lumpectomia quando combinada com radioterapia, porém dados de longo prazo (≥5 anos) são limitados.

– Recorrência: Taxas variam de 1-10%, dependendo do tamanho do tumor e margens de tratamento.

Vantagens:

1. Minimamente invasivo: Sem incisões cirúrgicas, preservando a anatomia da mama.

2. Recuperação rápida: Procedimento ambulatorial, com retorno às atividades em 1-2 dias.

3. Menos complicações: Risco reduzido de infecção, sangramento ou deformidade mamária.

4. Excelente resultado cosmético: Sem cicatrizes significativas.

5. Anestesia local: Ideal para pacientes frágeis ou com contraindicações à anestesia geral.

6. Custo potencialmente menor: Comparado à cirurgia convencional.

Desvantagens:

1. Limitações técnicas:  

– Tumores > 2 cm ou multifocais têm menor eficácia.

   – Dificuldade em tratar tumores próximos à pele ou parede torácica (risco de lesão térmica).  

2. Dependência de imagem: Requer equipamentos avançados (ultrassom ou ressonância) para guiar o procedimento.

3. Complicações potenciais:  

– Dor temporária, edema, hematoma ou necrose gordurosa.

– Riscos de lesão cutânea ou muscular.

4. Falta de dados consolidados: Eficácia a longo prazo ainda não estabelecida frente à cirurgia padrão.

 5. Não remove tecido para análise: Dificulta avaliação de margens ou status linfonodal.

6. Cobertura limitada: Nem todos os planos de saúde cobrem o procedimento.

Considerações finais

“A crioablação é promissora para tumores pequenos e selecionados, mas não substitui a cirurgia como padrão-ouro. Seu uso deve ser individualizado, preferencialmente em protocolos de pesquisa. A combinação com radioterapia, quimioterapia ou terapia hormonal pode melhorar os resultados. Estudos em andamento (ex.: ICE3, FROST) buscarão definir seu papel no manejo do câncer de mama”, finaliza o médico.

Foto: Divulgação

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