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⭐ Piracicaba, 9 de março de 2025 ⭐

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Aspirina pode ajudar a evitar a propagação do câncer, revela estudo

ASPIRINA

Pesquisa publicada pela Nature indica que medicamento comum para tratar dores de cabeça foi capaz de estimular o sistema imunológico a combater células cancerígenas que se espalham pelo corpo

A metástase, processo de disseminação das células cancerígenas do tumor primário para outros órgãos, é responsável por 90% das mortes relacionadas ao câncer em todo o mundo, segundo estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma nova descoberta publicada nesta quarta-feira (5/03) na prestigiada revista científica Nature pode trazer esperança para milhões de pacientes: pesquisadores da Universidade de Cambridge revelaram o mecanismo pelo qual a aspirina, um medicamento amplamente disponível e de baixo custo, pode ajudar a prevenir a metástase de certos tipos de câncer.

O estudo demonstrou que a aspirina atua reduzindo a produção de tromboxano A2 (TXA2), um fator de coagulação que normalmente suprime células T do sistema imunológico. Quando essa supressão é eliminada, as células T ficam livres para reconhecer e destruir células cancerígenas que tentam se espalhar pelo corpo.

“Esta é uma descoberta realmente interessante que ajuda a explicar observações anteriores de que pacientes que tomavam aspirina em baixas doses apresentavam menor incidência de metástases em alguns tipos de câncer como mama, intestino e próstata”, explica Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co. e presidente do Instituto Oncoclínicas.

No entanto, a especialista faz um importante alerta:

“Apesar da descoberta ser animadora, ainda se trata de um estudo em fase inicial. Novas etapas, com análise das respostas em humanos, são necessárias antes de qualquer mudança nos protocolos de tratamento”.

A pesquisa começou de maneira inesperada. Os cientistas estavam investigando genes relacionados à metástase em camundongos quando descobriram que aqueles sem o gene que produz a proteína ARHGEF1 apresentavam menos metástases no fígado e nos pulmões. Seguindo esta pista, os pesquisadores traçaram a cadeia de eventos celulares e descobriram a conexão com o TXA2 – o mesmo fator afetado pela aspirina.

Em experimentos com camundongos portadores de melanoma, os animais que receberam aspirina apresentaram redução significativa na frequência de metástases em comparação ao grupo controle, confirmando a teoria.

“É importante ressaltar que a aspirina pode causar efeitos colaterais graves em algumas pessoas, como sangramentos e úlceras do aparelho digestivo. Por isso, é fundamental que qualquer uso preventivo seja cuidadosamente orientado por um médico que conheça o histórico do paciente. É imperativo que a população em geral, da mesma forma, evite o uso de qualquer tipo de medicação sem o devido aconselhamento profissional”, acrescenta Ferreira.

A descoberta poderá beneficiar especialmente ensaios clínicos já em andamento, como o Add-Aspirin, que busca determinar se a aspirina pode impedir ou retardar o retorno de cânceres em estágio inicial. Os resultados deste estudo ajudarão os pesquisadores a identificar quais pacientes têm maior probabilidade de se beneficiar do tratamento.

“A possibilidade de ter um medicamento acessível e bem conhecido como a aspirina na prevenção de metástases é animadora, especialmente em um contexto global onde terapias mais caras, como as baseadas em anticorpos, não são universalmente disponíveis. No entanto, precisamos aguardar resultados de estudos mais amplos para entender completamente como aplicar essa descoberta na prática clínica”, conclui o diretor médico da Oncoclínicas&Co.

O professor Rahul Roychoudhuri, líder da pesquisa, destacou que existe uma “janela terapêutica única de oportunidade” quando o câncer começa a se espalhar, momento em que as células cancerígenas estão particularmente vulneráveis ao ataque imunológico. A aspirina poderia ser uma forma de aproveitar essa vulnerabilidade.

A pesquisa foi financiada principalmente pelo Medical Research Council, com fundos adicionais do Wellcome Trust e European Research Council.

Foto: Banco de Imagem

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