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Em 2022, balança comercial da RMP teve saldo positivo de US$ 1,4 bilhões

13/08/2013
REUTERS/Nacho Doce
Piracicaba tem saldo comercial negativo acumulado na balança comercial, mas concentra parcela significativa da corrente de comércio, segundo o Observatório da Região Metropolitana de Piracicaba 
A balança comercial da Região Metropolitana de Piracicaba (RMP) registrou saldo positivo de aproximadamente US$ 1,4 bilhões em 2022 – US$ 991 milhões a mais do em 2021, quando o saldo foi US$ 440 milhões, os dados foram apresentados pelo Observatório da RMP.
O valor (em US$) exportado pela região foi 31,5% superior ao do ano de 2021, porém o volume exportado cresceu menos – 24,7%. Pelo lado das importações houve um crescimento de 8,5% nos valores importados e queda de 12% nos respectivos volumes comprados. Nos dois casos se observa um descolamento entre valores e volumes comercializados, o que, neste caso, representa aumento dos preços tanto para as exportações quanto para as importações.
De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior, esses aumentos de preço são reflexo de disrupções em importantes cadeias de fornecimento internacionais, decorrentes ainda da pandemia e dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, que comprometeram a produção e a logística dos principais players do comércio internacional.
O preço unitário do que foi exportado pela RMP foi bastante inferior ao preço do que foi importado – US$ 1,13 contra US$ 6,02. Enquanto o valor total das exportações foi 1,35 vezes maior que o das importações, o volume exportado foi 7 vezes maior do que o importado. Isso aponta para um problema, que não é muito diferente do que se observa no restante do país: o baixo valor agregado das nossas exportações.
A forte dependência de Piracicaba da importação de peças para veículos e para máquinas fez o município ter o pior saldo comercial da RMP. Isto demonstra que as empresas de bens de capital e veículos instaladas no município têm uma pauta de importações com muitos insumos comprados no exterior, revelando a estratégia de integração às cadeias globais de suprimentos. Assim, o risco dessas empresas aumenta em uma conjuntura de desequilíbrio dos mercados internacionais.
Esse fato revela grandes oportunidades de novos empreendimentos para o município e para a região, uma vez que somos importadores líquidos de peças para montagem de automóveis e máquinas. Adotar políticas públicas e ações inovadoras visando substituir essas importações por produção local e a autonomização do complexo automotivo regional pode se constituir em meta importante do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado com vistas a fortalecer a Balança Comercial da RMP.
Apesar de Piracicaba ser um município com saldo comercial negativo acumulado na balança comercial, é também aquele que concentra parcela significativa da corrente de comércio (soma das importações e exportações) da região – 60,5%. Saldos comerciais positivos nem sempre indicam integração das economias municipais com o resto do mundo. As correntes de comércio são muitas vezes tidas como mais importantes do que o saldo comercial, pois a exposição das economias ao mercado internacional pode elevar a produtividade local. Isso ocorre, pois a importação de artigos pode servir como estímulo à inovação e melhoramento contínuo local como consequência da concorrência internacional.
O município de Leme apresentou o melhor saldo comercial entre os municípios da RMP – pouco mais de US$ 482 milhões -, com destaque para as exportações de soja e derivados; seguido de Limeira – US$ 213,6 milhões – com destaque para exportações de Produtos químicos orgânicos e celulose (pasta química de madeira).
Commodities agrícolas ainda têm forte presença na pauta exportadora da região, apesar da participação da indústria no PIB da RMP ser relativamente alta – 34,2% contra 20,7% no estado de SP.
Em relação ao destino das exportações, os compradores preferenciais da RMP foram os países da América Latina (27,6%) – destaque para Argentina (5,9%), México (3,5%), Peru (3,2%) e Colômbia (3,1%) – seguidos dos EUA (24,6%), da União Europeia (10,4%) e da China (7,4%). Em relação aos EUA é relevante salientar que o país absorve 58% de todas as exportações de Máquinas de terraplanagem e perfuração da região, ao passo que também exporta para a RMP peças para montagem desses mesmos bens.
A origem das importações da RMP é bastante concentrada – aproximadamente 69% de tudo que é comprado vem de apenas 4 países: EUA (21,7%), Coreia do Sul (18,6%), China (18,3%) e México (10,4%). A participação expressiva dos EUA e da Coreia do Sul na pauta de importações se explica pela presença de indústria automobilística coreana e de bens de capital americana na região e suas demandas por componentes não produzidos no mercado nacional.
Apesar da indústria ter uma participação elevada no valor adicionado regional, a pauta de importações aponta para a possibilidade de que a nossa produção industrial tem uma parcela não desprezível de valor agregado no exterior.
Perspectivas para o comércio regional 2023
Apesar da melhora nas previsões de crescimento da China e da União Europeia, América Latina e EUA, que concentram a maior parte das vendas da RMP, tem previsão de crescimento econômico baixo ou incerto, o que deve pode afetar negativamente os negócios da região no mercado internacional.
América Latina
A AL representou quase 28% das vendas internacionais da RMP em 2022. Para o ano de 2023, se prevê baixo crescimento (1,2%) e inflação elevada para os países da região, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). Dentre os países com maior expressividade nas exportações da RMP estão Argentina (5,9%), México (3,5%), Peru (3,2%) e Colômbia (3,1%), compradores de máquinas de terraplanagem e perfuração, automóveis, Fio-máquinas e barras de ferro ou aço, extratos e essenciais, produtos cerâmicos, papel e celulose, autopeças, produtos químicos orgânicos, máquinas e aparelhos para colheita ou debulha de produtos agrícolas etc. A expectativa de baixo crescimento da região deve afetar especialmente as indústrias produtoras de bens de capital, produtos siderúrgicos, metalúrgicos, produtos cerâmicos e automóveis. Esses são alguns dos produtos que compõem a variável investimento na produção interna bruta e que geralmente é a mais sensível ao crescimento econômico. Em outras palavras, têm alta elasticidade renda, ou seja, pequenas variações no crescimento econômico tendem a provocar variações maiores na demanda, para baixo ou para cima.
EUA
É um dos principais compradores da RMP, representando quase 25% de tudo o que foi vendido em 2022. As expectativas para o crescimento da economia americana em 2023 não são promissoras. O país, que atingiu o limite da dívida pública recentemente, dependerá do congresso para continuar honrando pagamentos aos credores e proteger a nota de crédito dos EUA. Porém, há expectativas de que isso não ocorra, pois deputados republicanos estão bastante resistentes em aumentar novamente o limite de empréstimos do tesouro americano, fazendo crescer o risco de crise financeira e as incertezas sobre o crescimento econômico do país. É relevante lembrar que de tudo o que a RMP exporta, 17% são máquinas de terraplanagem e perfuração vendidos aos EUA. Esses bens de capital têm forte correlação com o crescimento econômico das economias mundiais, o que podem causar impactos negativos na balança comercial regional no ano de 2023.
UNIÃO EUROPEIA
O bloco representou pouco mais do que 10% das nossas exportações. No início deste ano foi previsto, com mais otimismo, uma saída do bloco da previsão de recessão. Essa mudança de perspectiva surgiu da indicação de autoridades e líderes empresariais no Fórum Econômico Mundial de Davos e do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a previsão de crescimento mundial e do bloco será revisada para cima para este ano. Mesmo com a baixa representatividade do bloco nas vendas internacionais regionais, a melhora nas previsões de crescimento da UE pode representar oportunidades para os nossos principais produtos de exportação para o bloco – sumo de frutas, soja mesmo triturada, álcool, máquinas de terraplanagem e perfuração, açúcar, produtos químicos orgânicos, extratos e essências e celulose.
CHINA
É o principal comprador do Brasil e figura entre os principais compradores de produtos da RMP, representando 7,4% das nossas vendas em 2022, em especial de açúcar, soja e celulose. O país passou por condições econômicas bastante delicadas no segundo semestre do ano passado. Neste ano, se prevê uma melhora dessas condições com o fim da política “covid zero” e com as medidas de crescimento econômico adotadas pelo governo chinês que devem impulsionar a construção civil e a infraestrutura abrindo mercados para a produção regional de máquinas de terraplanagem e perfuração, produtos metalúrgicos e siderúrgicos, material elétrico e hidráulico, produtos cerâmicos etc.
O que esperar da condução das relações externas brasileiras do atual governo?
Um novo governo se inicia com a proposta de reinserir o Brasil nas discussões globais sobre meio ambiente, comércio, migração, entre outros. Novas perspectivas comerciais se abrem com a sinalização dada pelo governo Lula de retomada das tratativas para a integração sul-americana a partir do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), entre outras instâncias, bem como a retomada do diálogo com os demais atores globais.
A participação do Brasil no Fórum Econômico de Davos sinalizou ao mundo a intenção do Brasil de retornar às discussões sobre meio ambiente e clima, relegadas a um plano inferior no governo anterior. Some-se a isso a revogação, pelo chanceler Mauro Vieira, da medida que retirava o Brasil da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), bloco regional intergovernamental composto por 33 países latino americanos que tem como objetivos a cooperação para o desenvolvimento e a concertação política.
Alguns temas de interesse no âmbito da CELAC como transportes, infraestrutura e energia podem ter impacto nas vendas internacionais da RMP. A região é produtora de bens de capital, produtos metalúrgicos e siderúrgicos – insumos absorvidos pelos setores mencionados – e tem potencial para produção de energia renovável a partir do bagaço da cana, o que abre oportunidades para as futuras demandas derivadas dos acordos negociados no âmbito desse bloco.
Por outro lado, atenta aos assuntos sobre meio ambiente, mudança climática e energia, a UE está em processo de implementação de legislação que barra importações de commodities vinculadas ao desmatamento e de adoção de um mecanismo de ajuste de fronteira de carbono, que deve conferir sobrepreço aos produtos importados intensivos em emissão de CO2 .
Apesar dessas medidas causaram preocupação nos países em desenvolvimento, elas também podem representar alguma oportunidade em relação à produção de energia limpa para a região que foi vocacionada para o projeto Polo Paulista de Fomento à Economia de Baixo Carbono, lançado no final de 2021.
O reflexo das medidas adotadas pela UE e da condução da política externa do atual governo na balança comercial da RMP dependerá do quanto a região está disposta a repensar estratégias de produção que se alinhem a esse novo cenário e consiga extrair dele oportunidades de comércio.

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