Nova medida do governo norte-americano visa reduzir os custos com deportações forçadas e incentivar a “autodeportação” de estrangeiros sem documentação, gerando críticas de ativistas e especialistas em imigração
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (5) um novo programa que oferece um incentivo financeiro de US$ 1.000 (cerca de R$ 5.700) e passagem aérea gratuita para imigrantes em situação irregular que optarem por deixar o país de forma voluntária.
A medida foi apresentada pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) como uma estratégia para reduzir os elevados custos com deportações forçadas — que, segundo estimativas oficiais, chegam a US$ 17.121 por pessoa.
Com a proposta, o governo espera cortar até 70% dos gastos relacionados à remoção de imigrantes.
Incentivo à “autodeportação”
A nova política marca uma ampliação das ações de “autodeportação”, termo utilizado para definir a saída voluntária de imigrantes, sem intervenção judicial ou policiamento.
Para participar do programa, os imigrantes devem utilizar o aplicativo CBP Home, uma versão reformulada do CBPOne, lançado no governo Biden para controle de pedidos de asilo na fronteira sul.
Pelo aplicativo, os participantes organizam sua própria saída dos Estados Unidos.
O pagamento do valor prometido é feito apenas após a confirmação da chegada ao país de origem, como forma de evitar fraudes ou desistências de última hora.
O DHS também informou que os inscritos no programa serão classificados como “baixa prioridade” para detenção e remoção, enquanto organizam sua partida.
Além disso, existe a possibilidade — ainda pouco clara — de preservação da elegibilidade para retorno legal ao território norte-americano no futuro.
Críticas e desconfiança
Apesar de apresentado como medida humanitária e racional do ponto de vista orçamentário, o programa foi imediatamente criticado por organizações de direitos humanos e especialistas em imigração.
Segundo esses grupos, a iniciativa pode ser interpretada como coercitiva, disfarçando sob o rótulo de voluntariedade uma pressão disfarçada para expulsar estrangeiros.
Há ainda preocupações jurídicas e éticas em relação à promessa de que os participantes possam manter o direito de retornar legalmente no futuro.
Segundo advogados de imigração, a simples participação no programa poderá ser utilizada contra os estrangeiros em processos futuros.
Contexto político
Desde o início de seu segundo mandato, em janeiro de 2025, Trump tem mantido uma postura rígida em relação à imigração, uma das bandeiras centrais de sua política.
O atual governo fixou como meta atingir um milhão de deportações por ano.
De acordo com dados recentes, cerca de 152 mil pessoas foram deportadas entre janeiro e abril de 2025, número inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior, durante o governo Biden, quando 195 mil deportações foram executadas.
Com a nova política, o governo Trump busca agilizar os processos e aliviar o sistema migratório, que enfrenta sobrecarga e críticas internas.
O debate promete esquentar ainda mais nos próximos meses, especialmente com as eleições legislativas se aproximando e a imigração sendo novamente tema central na agenda política norte-americana.
Impacto da medida de Trump sobre imigrantes pode ser sentido em Piracicaba
Embora a decisão do governo dos Estados Unidos pareça, à primeira vista, restrita ao cenário norte-americano, suas consequências podem repercutir em cidades como Piracicaba, especialmente devido ao fluxo migratório e aos laços familiares e econômicos entre brasileiros e os EUA.
Presença de piracicabanos nos Estados Unidos
Piracicaba e região possuem centenas de cidadãos que vivem ou já viveram nos Estados Unidos, muitos dos quais emigraram em busca de melhores condições de vida ou oportunidades de trabalho, especialmente nos setores de construção civil, serviços domésticos e alimentação.
Com a nova política de incentivo à saída voluntária de imigrantes irregulares, parte desses brasileiros pode ser diretamente afetada, sobretudo aqueles que vivem no país de forma indocumentada.
Ainda que os nomes e dados sejam sigilosos, é sabido que famílias piracicabanas mantêm laços ativos com parentes nessas condições.
Repercussão nas famílias e na economia local
Caso o programa leve a um aumento no retorno de brasileiros indocumentados ao Brasil, Piracicaba poderá registrar um fluxo maior de repatriados, o que pode provocar:
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Reencontros familiares, mas também desafios de reintegração no mercado de trabalho local;
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Redução nas remessas financeiras enviadas aos familiares no Brasil, que muitas vezes representam uma fonte de renda complementar significativa para algumas famílias piracicabanas;
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Demanda por apoio social e psicológico, sobretudo em casos de retorno forçado ou abrupto.
Possíveis reflexos no debate local sobre imigração
A medida também pode estimular o debate sobre políticas públicas de acolhimento e reintegração de migrantes retornados.
A Prefeitura de Piracicaba, por meio da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, pode ser provocada a desenvolver ações específicas se houver um aumento perceptível na chegada de ex-moradores dos EUA.
Além disso, instituições de ensino, ONGs e igrejas locais — que tradicionalmente atuam no apoio a famílias com membros no exterior — poderão ter papel relevante nesse novo contexto.