Unidade será instalada na Guiana Francesa e recebe críticas por parte de autoridades locais, que veem o projeto como um “retrocesso colonial”
A França confirmou a construção de uma prisão de segurança máxima na floresta amazônica de seu território ultramarino, a Guiana Francesa, com o objetivo de isolar líderes do tráfico de drogas e indivíduos condenados por radicalismo islâmico.
O anúncio foi feito neste domingo (19) pelo ministro da Justiça francês, Gérald Darmanin, ao jornal Le Journal du Dimanche, e já provoca reações negativas entre autoridades e moradores locais.
A instalação, orçada em US$ 450 milhões (R$ 2,5 bilhões), terá capacidade para 500 detentos, sendo 60 vagas reservadas a um regime prisional de altíssima segurança.
Destas, 15 serão destinadas a pessoas condenadas por terrorismo ligado ao radicalismo islâmico. A inauguração está prevista para 2028, no município de Saint-Laurent-du-Maroni, próximo à fronteira com o Suriname e o Brasil.
“Minha estratégia é simples — atingir o crime organizado em todos os níveis. Essa prisão será uma salvaguarda na guerra contra o narcotráfico”, afirmou Darmanin.
A localização remota, em plena selva amazônica, é considerada pelo governo francês como um elemento tático: dificultará a comunicação entre os chefes de redes criminosas e seus contatos externos.
O projeto é descrito como um “regime extremamente rigoroso”, voltado a indivíduos considerados de alta periculosidade.
Reação local: protestos e críticas severas
A decisão do governo francês, no entanto, gerou forte oposição na Guiana Francesa. Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana, demonstrou indignação com o anúncio, afirmando que o projeto jamais foi debatido com as autoridades locais.
Segundo ele, o plano de 2017 previa apenas uma nova unidade para reduzir a superlotação do sistema prisional local — e não um centro de detenção para criminosos transferidos da França continental.
“A Guiana não deve se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas”, declarou Fereira em nota oficial.
Na mesma linha, o deputado franco-guianense Jean-Victor Castor classificou a decisão como “um insulto à nossa história” e um “retrocesso colonial”, lembrando que Saint-Laurent-du-Maroni foi sede de um campo penal notório entre os séculos XIX e XX, onde funcionou a antiga colônia penal da Ilha do Diabo, retratada no best-seller francês Papillon.
Contexto regional e histórico
A Guiana Francesa apresenta a maior taxa de homicídios proporcional da França, com 20,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2023 — quase 14 vezes superior à média nacional.
A região é marcada por desafios estruturais, alta criminalidade e influência do narcotráfico. Passageiros da região são frequentemente flagrados tentando levar cocaína para a Europa via voos com destino ao aeroporto de Orly, em Paris.
A construção da prisão em um local historicamente associado à repressão penal revive o trauma colonial e levanta preocupações sobre a forma como o Estado francês conduz sua política de segurança em territórios ultramarinos.