Pacientes com câncer necessitam de um cuidado especial com a alimentação. Alimentar-se adequadamente é um passo importante para o sucesso do seu tratamento
A variação de peso é bastante comum e esperada durante o tratamento oncológico, porém é preciso ter muito cuidado com isso. A perda de peso em pacientes com câncer pode interferir no progresso da terapia, por isso é importante ingerir alimentos que supram as necessidades calóricas do corpo.
Assim, é essencial ter um bom acompanhamento nutricional para garantir uma quantidade e qualidade adequadas de nutrientes ajudando, dessa forma, a reduzir o risco de desnutrição no momento em que o corpo mais precisa lutar.
Especialista em oncologia, a nutricionista Ana Júlia Linhares traz todas as orientações necessárias para atravessar o tratamento de forma mais segura e saudável.
Revista US – Pacientes portadores de câncer costumam perder peso e apetite em função da doença. Quais são as razões para isso?
Ana Júlia Linhares – Pacientes em tratamento oncológico podem sofrer com a perda de peso e o estado nutricional pode ser comprometido por diversos fatores: tratamento antineoplásico proposto, tipo de tumor e sua localização (resultando na diminuição de ingestão e absorção de nutrientes por obstruções e ressecções tumorais do trato gastrintestinal), alterações metabólicas e inflamatórias promovidas pela própria neoplasia, impacto psicológico da doença e até mesmo pela dificuldade de comer (resultante dos efeitos colaterais do tratamento: dificuldade de mastigação, de deglutição, enjoos, vômitos, perda de apetite).
Qual a importância da alimentação durante o tratamento do câncer?
A alimentação é essencial para garantir o estado nutricional do paciente evitando uma desnutrição, uma sarcopenia ou, em casos mais severos, uma caquexia. Por isso é extremamente importante o acompanhamento nutricional especializado durante o tratamento. Além disso, a nutrição também tem por objetivo aumentar a imunidade durante esse período.
Quais são os alimentos que reforçam a imunidade?
Eu gosto muito da geleia real, que é um polivitamínico natural produzido pelas abelhas, e que costuma trazer resposta bastante satisfatória. Além dela, costumo priorizar frutas cítricas (ricas em Vit C), frutas vermelhas (ricas em antioxidantes), oleaginosas, cenoura, beterraba, folhas verde-escuro. O mais importante é dar preferência aos alimentos naturais e evitar alimentos processados, embutidos, industrializados e cheios de compostos artificiais.
Existem alimentos que podem de certa maneira aliviar os efeitos adversos mais comuns do tratamento, como o enjoo, a constipação a boca seca e a diarreia? Quais são?
Sim, com certeza! Para o enjoo eu gosto muito do gengibre, que pode ser usado de diversas formas: chás, ralado, em pó, na água. Para constipação: muita água (isso independe de estar ou não constipado, é essencial se hidratar muito durante o tratamento oncológico), alimentos ricos em fibras e integrais.
Para a diarreia eu oriento comer banana prata, maçã sem casca, purê de batata. Muitas vezes é necessário entrar com probióticos para reequilibrar o funcionamento do intestino, tanto para quem está com diarreia, como na constipação. Para boca seca eu aconselho andar sempre com uma balinha no bolso, ela estimula a produção de saliva e ajuda bastante a melhorar o sintoma, além de beber muita água, claro!
E a fadiga, como pode ser evitada?
Por incrível que pareça quanto mais sedentário o paciente ficar, mais fadiga ele vai sentir. O ideal é estimular que ele seja tão ativo quanto seu organismo permitir. Fazer uma caminhada leve de 15 minutos por dia, logo de manhã, já ajuda muito a melhorar a fadiga (claro que o paciente deve sempre respeitar seu limite e disposição, mas a maioria das vezes eles conseguem, só sentem preguiça).
Qual a importância da ingestão de líquidos durante o tratamento? Quais são indicados, além da água?
A água representa cerca de 70% do corpo de um indivíduo, portanto a hidratação é essencial para a vida. Ela regula a temperatura corporal, o processo de respiração, formação do bolo fecal, eliminação de toxinas pelo organismo e transporte de nutrientes a todas as partes do corpo. O paciente oncológico, em tratamento quimioterápico, precisa se hidratar para evitar toxidade aos rins, além da hidratação estar diretamente relacionada com a imunidade.
É possível complementar a alimentação com suplementos? Como devem ser utilizados?
A suplementação deve ser muito individualizada, pois os pacientes têm necessidades diferentes. Mas pacientes que estão tendo perda de peso significativa e não estão conseguindo se alimentar de forma adequada e suficiente, costumo indicar suplementos hipercalóricos para aumentar o aporte nutricional. Eles podem ser adicionados a sopas, sucos, vitaminas.
A desnutrição interfere no prognóstico do paciente?
Muitas vezes sim. Um paciente que vem perdendo peso constantemente é um sinal de alerta, é tudo que o nutricionista não quer ver, pois pode se desdobrar em uma caquexia. A caquexia é uma síndrome complexa e multifatorial que se caracteriza pela anorexia, perda tecidual, atrofia da musculatura esquelética, miopatia, perda ou não de tecido gorduroso, atrofia de órgãos viscerais e fadiga. Inclui alterações metabólicas, hormonais e anormalidades citoquímicas que contribuem para perda de peso. Aumenta o risco de morbimortalidade do paciente.
Leia na Revista Us
Esta e outras matérias você encontra na terceira edição da Revista Us.
www.portalpiracicabahoje.com.br/home/revista-us-edicao-003