Pacientes com câncer têm novas esperanças
Esperança e fé os corações mais desesperançados. Boas notícias no tratamento do câncer que trazem confiança a pacientes: a terapia com células CAR-T. O jornal Folha de Piracicaba convidou o oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba, para esclarecer sobre o tema.
“A terapia com células CAR-T (Chimeric Antigen Receptor T-cell) é um tipo de tratamento imunoterápico avançado que utiliza células T do próprio paciente, modificadas geneticamente para combater o câncer. O mecanismo de ação, etapas, racional e indicações desse tratamento são”:
Mecanismo de Ação
Reconhecimento do Antígeno: As células T são equipadas com um receptor quimérico de antígeno (CAR) projetado para reconhecer um antígeno específico na superfície das células cancerígenas.
Ativação e Proliferação: Uma vez que as células CAR-T se ligam ao antígeno-alvo, elas são ativadas e começam a proliferar.
Eliminação do Câncer: As células CAR-T ativadas liberam citocinas e outras moléculas que matam as células cancerígenas.
Etapas da Terapia com Células CAR-T
Coleta de Células T: As células T do paciente são coletadas através de um processo chamado aférese.
Modificação Genética: As células T coletadas são modificadas em laboratório para expressar o receptor CAR específico para o antígeno alvo do câncer.
Expansão: As células CAR-T modificadas são multiplicadas em laboratório até que haja um número suficiente para o tratamento.
Infusão: As células CAR-T expandidas são infundidas de volta no paciente, onde elas podem procurar e destruir as células cancerígenas.
Racional
O racional por trás da terapia com células CAR-T é aproveitar o poder do sistema imunológico do próprio paciente para combater o câncer de forma mais eficaz. Ao modificar geneticamente as células T para reconhecer e atacar células cancerígenas, essa abordagem oferece uma forma direcionada e potente de terapia contra o câncer.
Indicações
A terapia com células CAR-T é principalmente indicada para alguns tipos de câncer hematológico (câncer do sangue) que não responderam a outras formas de tratamento. As indicações aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration) incluem:
· Leucemia linfoblástica aguda (LLA) em crianças e adultos jovens.
· Linfoma difuso de grandes células B (DLBCL).
· Linfoma de células do manto (MCL).
Outras indicações estão sendo pesquisadas em ensaios clínicos, incluindo o tratamento de mieloma múltiplo e alguns tipos de câncer sólido.
Os resultados da terapia com células CAR-T têm sido promissores, especialmente em certos tipos de câncer hematológico, como a leucemia linfoblástica aguda (LLA) e o linfoma difuso de grandes células B (DLBCL).
Alguns estudos chave que destacam esses resultados incluem:
Estudos em Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA):
ELIANA Trial: Este foi o primeiro estudo global de fase 2 da terapia com células CAR-T (tisagenlecleucel) em crianças e jovens adultos com LLA recidivada ou refratária. O estudo mostrou uma taxa de remissão completa de 81% dentro de três meses após o tratamento.
ZUMA-3 Trial: Um estudo de fase 1/2 avaliando o axicabtagene ciloleucel em adultos com LLA recidivada ou refratária mostrou uma taxa de remissão completa de 71% com uma duração mediana da remissão de 6,8 meses.
Estudos em Linfoma Difuso de Grandes Células B (DLBCL):
ZUMA-1 Trial: Este estudo de fase 2 avaliou o axicabtagene ciloleucel em pacientes com DLBCL recidivado ou refratário. Os resultados mostraram uma taxa de resposta global de 82% com uma taxa de resposta completa de 54%.
JULIET Trial: Um estudo global de fase 2 avaliando o tisagenlecleucel em pacientes com DLBCL recidivado ou refratário mostrou uma taxa de resposta completa de 40% com uma duração mediana da resposta de mais de 12 meses.
Outros Estudos e Avanços
Pesquisas estão em andamento para melhorar a eficácia e segurança da terapia com células CAR-T, incluindo o desenvolvimento de CAR-T de “segunda geração” com co-estimuladores adicionais para aumentar a persistência e atividade das células CAR-T.
Estudos estão explorando o uso de células CAR-T em outros tipos de câncer, incluindo mieloma múltiplo, linfoma de Hodgkin e alguns cânceres sólidos.
Apesar dos resultados promissores, a terapia com células CAR-T ainda enfrenta desafios, como a gestão de efeitos colaterais graves, a necessidade de infraestrutura especializada para a fabricação e administração das células CAR-T, e o alto custo do tratamento. Pesquisas contínuas visam superar esses obstáculos e expandir a aplicabilidade da terapia com células CAR-T para um espectro mais amplo de pacientes com câncer.
Desafios
A terapia com células CAR-T tem mostrado resultados promissores no tratamento de certos tipos de câncer, mas ainda enfrenta vários desafios que precisam ser superados para ampliar sua aplicabilidade e eficácia. Os principais desafios incluem:
Toxicidade: A terapia com células CAR-T pode causar efeitos colaterais graves, como a síndrome de liberação de citocinas (CRS) e a neurotoxicidade. O gerenciamento desses efeitos colaterais requer monitoramento cuidadoso e intervenções médicas específicas.
Resposta Duradoura: Embora muitos pacientes apresentem respostas iniciais positivas, a duração da resposta varia, e alguns pacientes podem sofrer recaída. Desenvolver estratégias para prolongar a persistência e a eficácia das células CAR-T é um desafio importante.
Custo e Acessibilidade: A terapia com células CAR-T é um tratamento altamente personalizado e tecnicamente complexo, o que resulta em custos elevados. Tornar essa terapia mais acessível e reduzir os custos é um desafio significativo.
Infraestrutura e Logística: A fabricação e administração das células CAR-T requerem infraestrutura especializada e cadeia de suprimentos específica. A expansão dessa terapia para mais centros e países exige o desenvolvimento de sistemas logísticos adequados.
Aplicabilidade em Cânceres Sólidos: Até o momento, a terapia com células CAR-T tem sido mais bem-sucedida em cânceres hematológicos. Adaptar essa abordagem para tratar cânceres sólidos apresenta desafios adicionais, como a seleção de antígenos-alvo adequados e a superação do microambiente imunossupressor do tumor.
Resistência ao Tratamento: Alguns pacientes podem desenvolver resistência à terapia com células CAR-T, com as células cancerígenas encontrando maneiras de escapar da detecção e destruição pelas células CAR-T. Entender e superar esses mecanismos de resistência é um desafio importante.
Variação Individual: A resposta ao tratamento pode variar significativamente entre os pacientes devido a diferenças genéticas, imunológicas e no microambiente do tumor. Personalizar ainda mais a terapia com base nas características individuais do paciente e do tumor pode melhorar os resultados.
Superar esses desafios requer pesquisa contínua, inovação tecnológica e colaboração entre cientistas, médicos, indústria e reguladores. O progresso nessas áreas tem o potencial de tornar a terapia com células CAR-T mais segura, eficaz e acessível para um número maior de pacientes com câncer.