Texto: Fernanda Bassette / Agência Einstein
Academia Americana de Pediatria publicou novas diretrizes reforçando o risco de morte súbita, caso o bebê durma na mesma superfície que os pais
Colocar o recém-nascido para dormir na mesma cama em que os pais não é seguro e aumenta os riscos de morte súbita, ressaltou a Academia Americana de Pediatria (AAP) em suas novas diretrizes para o sono seguro do bebê. As novas recomendações da entidade americana foram publicadas no mês passado após seis anos sem atualizações, reforçam uma orientação que já é preconizada pelos especialistas e devem ser seguidas por entidades do mundo todo.
A morte súbita ocorre quando o bebê morre inesperadamente, sem nenhuma causa aparente ou doença prévia que justifique. Geralmente ocorre durante o sono noturno e trata-se da principal causa de mortalidade entre crianças com menos de um ano de idade, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Nos Estados Unidos, segundo a AAP, cerca de 3.500 bebês morrem todos os anos por alguma causa relacionada ao sono.
Não há uma causa específica ou determinante para o problema. Entre as possibilidades de morte súbita estão alguma predisposição que cause uma falha no mecanismo de despertar; gatilhos ambientais, como dormir na mesma cama que os pais ou irmãos, dormir de bruços ou de lado (por aumentar o risco de sufocamento); o calor excessivo ou quando a mãe fumou ou bebeu durante ou após a gravidez.
Mesmo quarto, camas separadas
Embora a AAP desaconselhe dormir na mesma cama, a entidade orienta que o bebê deve dormir no mesmo quarto em que os pais – pelo menos nos primeiros seis meses de vida – em uma superfície plana e firme.
Dormir no mesmo ambiente é importante para a criança e para a mãe porque facilita e estimula o aleitamento materno, já que a mãe não precisa se deslocar para outro quarto para amamentar. O sono da mãe já é mais fragmentado e naturalmente preparado para acompanhar o sono da criança nos primeiros meses de vida”, ressalta a neuropediatra Letícia Azevedo Soster, especialista em medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein.
Além disso, as novas diretrizes reforçam que a criança deve dormir deitada de costas/barriga para cima (e não de lado ou de bruços) e sem coberta (nos dias mais frios, o bebê deve ser adequadamente agasalhado e não ficar sob cobertores). Os pais também não devem decorar o berço com brinquedos macios, bichos de pelúcias, almofadas ou protetores de berço, pois eles aumentam o risco de o bebê ficar preso e se sufocar.
Essas diretrizes tratam de uma questão muito cultural de colocar a criança para dormir na mesma cama pela sensação de que é mais seguro ou confortável. É o que acontece quando os pais colocam o bebê para dormir de lado ou de bruços, por exemplo. Muitos têm a ideia de que a criança dorme melhor assim, pois costuma despertar com mais facilidade quando dorme de barriga para cima”, diz Letícia.
Outros ambientes fora do berço também podem colocar os bebês em risco, como dormir em sofás, poltronas ou almofadas, diz o documento.
Inclinação máxima de 10%
A diretriz americana também orienta coibir a venda de produtos para o sono de bebês que tenham mais de 10% de inclinação – hoje em dia há casos de colchões com inclinação de até 30%.
A inclinação de 10% é mínima, quase nada. Geralmente bebês com refluxo usam colchões com inclinação maior. O problema é que existe o risco de o bebê adormecer e a cabecinha cair para a frente ou para os lados. Essa posição do queixo no peito pode dificultar a respiração”, alerta a neuropediatra.
Segundo Letícia, o refluxo é uma situação fisiológica do lactente – acontece quando o bebê mama e o leite naturalmente volta. O problema, explica a neuropediatra, é quando isso se torna patológico: quando por exemplo alguns bebês não sabem o momento de parar de mamar e acabam mamando demais, e por consequencia tendo muito leite, que pode refluir e engasgar.
Risco antigo
No final dos anos 1990, pesquisadores de Porto Alegre, já alertavam sobre os riscos da morte súbita dos lactentes ao publicarem um estudo no Jornal de Pediatria em que analisaram as causas de morte desses bebês e sugerir que os casos eram subnotificados e que não havia campanhas de esclarecimento e prevenção.
Dos 335 casos que ocorreram no período analisado, 21 se enquadravam nos critérios da síndrome da morte súbita do lactente, mas nenhum teve essa causa declarada no registro do óbito. Segundo os pesquisadores, os bebês não tinham nenhuma doença prévia, as mortes ocorreram nos meses frios (outono e inverno), nenhum deles dormia de barriga para cima, 71% das mães eram fumantes e 42% usaram álcool durante a gestação.
Para Letícia, as novas diretrizes reforçam a importância da educação pré-natal dos pais.
Os pais precisam ser informados dos riscos de alguns comportamentos do sono antes de a criança nascer. A melhor forma de evitar a morte súbita é ensinar os pais”, finalizou a médica.