Quando se tornam adultas, estas crianças têm que enfrentar os desafios da vida, mas não possuem as competências necessárias para enfrentá-los
Qualquer coisa em excesso pode ter efeitos adversos e essa lógica vale para a superproteção dos filhos. Em geral, pais superprotetores querem garantir que suas crianças não serão feridas física ou emocionalmente.
Eles buscam protegê-las do mal, da infelicidade, das experiências negativas, da rejeição, do fracasso e das desilusões.
É por isso que, muitas vezes, estes pais constroem uma espécie de redoma para seus filhos por meio de restrições constantes e atitudes controladoras, só que, mais tarde na idade adulta, estes podem relutar em abrir as suas próprias asas e voar, diz Filipe Colombini, psicólogo parental.
Segundo o especialista, quando se tornam adultas, estas crianças têm que enfrentar os desafios da vida, mas não possuem as competências necessárias para enfrentá-los, porque foram “mantidas na redoma” o tempo todo.
Colombini esclarece que a tendência dos pais de superproteger seus filhos pode estar ligada a dificuldades que estes têm com habilidades parentais, ou, ainda, com a ausência de modelos de parentalidade (quando não tiveram, por exemplo, o suporte adequado dos avós).
Ainda que seja difícil se reconhecer como um pai ou mãe superprotetor, existem alguns sinais que podem demonstrar esses comportamentos.
Um deles é quando ocorre uma “fusão” entre o que a criança está pensando ou sentindo com os pensamentos e sentimentos dos pais.
Nestas situações, segundo o psicólogo, os pais se sentem impelidos a defender e a fazer tudo pelo filho para que este não sofra.
Além disso, percebemos que muitos pais acabam tendo um hiperfoco em seu filhos, pois também possuem dificuldades ou limitações em suas vidas pessoais, porque têm uma rede de suporte pequena, problemas conjugais ou ainda são portadores de transtornos mentais, diz Filipe.
Em geral, pais que têm dificuldades em regular as suas próprias emoções tendem a agir de maneira impulsiva em prol da proteção do seu filho, mesmo que este não precise ser protegido, conclui.
As consequências da superproteção para o desenvolvimento infantil
Ser excessivamente dedicado a proteger as crianças de qualquer potencial perigo faz com que muitos pais enxerguem ameaças onde elas não existem.
Como resultado, ficam constantemente alarmados e com medo.
De fato, as crianças podem ficar indefesas em algumas situações, por isso precisam de muitos cuidados e atenção.
Mas, por outro lado, é muito importante que elas aprendam a resolver as coisas sozinhas, desenvolvendo habilidades que serão essenciais na vida adulta.
A mensagem subliminar que a superproteção transfere para as crianças é que elas não são realmente capazes, competentes ou boas o suficiente para administrarem a vida por si mesmas.
Os perigos da superproteção infantil são muitos, confira os principais, segundo Colombini:
- Diminuição de oportunidades para que as crianças possam aprender com suas próprias experiências.
- Limitação para o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e necessárias para lidar com os acontecimentos rotineiros.
- Dependência de adultos nas mais variadas situações, evitando se expor, se arriscar, resolver problemas, tomar decisões, se organizar, entender ou regular seus sentimentos.
- Dificuldades para lidar com raiva, frustração, tristeza e em “saber esperar”.
- Necessidade constante da aprovação e atenção do outro.
- Pouca autonomia e independência, o que pode ocasionar baixa autoestima, afetando de forma negativa também a resiliência, a capacidade criativa e o autocontrole.
- Aumento da ansiedade, já que existe o receio de experimentar e conhecer situações novas e desconhecidas. Existe também um risco maior de transtorno de ansiedade e depressão na vida adulta.
Como evitar a superproteção infantil?
A orientação e o treinamento parental são excelentes para se evitar a superproteção infantil.
Mas também para melhorar as atitudes, caso o comportamento seja identificado.
Existem, ainda, algumas dicas que funcionam muito bem para se evitar o problema, como:
- não fazer pela criança o que ela pode fazer sozinha (como calçar um tênis, pegar um copo, se alimentar);
- deixar o pequeno errar e auxiliar no passo a passo (explorando possibilidades, testando e tendo a chance de aprender com seus erros)
- dar liberdade para a criança brincar (ao ar livre, explorando o ambiente e as coisas a seu redor, com supervisão, porém, sem exageros, prezando pela sua autonomia).