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⭐ Piracicaba, 8 de junho de 2025 ⭐

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Como um novo protocolo de gerenciamento do sangue pode reduzir a mortalidade materna

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Recomendado pela OMS, o modelo busca qualificar práticas clínicas na prevenção de hemorragias e no tratamento da anemia durante a gestação e o parto.

Tratar o sangue como um órgão vital. Essa é a premissa central do novo guia da Organização Mundial da Saúde para o Gerenciamento do Sangue do Paciente (Patient Blood Management – PBM), que propõe uma mudança estrutural na forma como os sistemas de saúde cuidam da saúde hematológica. Ao prevenir complicações como anemia e hemorragias, o modelo pode reduzir mortes evitáveis — inclusive entre gestantes e mulheres no pós-parto, para quem a perda de sangue ainda é uma das principais causas de morte.

A mortalidade materna segue como um desafio crítico no Brasil. A cada dois minutos, uma mulher morre por complicações da gravidez, do parto ou do puerpério — muitas vezes evitáveis. Segundo relatório da OMS publicado em abril de 2025, os avanços na redução desses óbitos estagnaram em várias regiões, com média de 59 mortes por 100 mil nascidos vivos nas Américas. No Brasil, a razão caiu de 69 para 67 entre 2000 e 2023 — uma redução de apenas 2,9%. As hemorragias obstétricas continuam entre as principais causas diretas, ao lado de hipertensão gestacional e infecções. Dados preliminares do Ministério da Saúde indicam que, em 2024, pelo menos 149 mulheres morreram por causas hemorrágicas diretas, reforçando a necessidade de prevenir e manejar melhor essas complicações.

Recomendado pela organização como estratégia estruturante, o Gerenciamento do Sangue do Paciente reúne práticas clínicas voltadas à prevenção da anemia e ao controle de sangramentos, com o objetivo de evitar intervenções mais agressivas, como transfusões desnecessárias. Mais do que um conjunto de protocolos, trata-se de uma abordagem preventiva, centrada no paciente, com foco em qualificar o cuidado e melhorar os desfechos clínicos.

Na atenção obstétrica, o Gerenciamento do Sangue do Paciente pode fazer toda a diferença. Ao antecipar riscos e qualificar o manejo clínico da anemia e das hemorragias, a abordagem permite prevenir complicações graves e melhorar os desfechos maternos. Em Pernambuco, a Dra. Lorena Corrêa, médica hematologista da UFPE, que atua na implantação do modelo no CISAM — referência em saúde da mulher, compartilha experiência positivas com a estratégia.

“Quando corrigimos a anemia no pré-natal, melhoramos a função da musculatura uterina, o que ajuda a prevenir a hemorragia antes mesmo que ela aconteça. Nos casos de sangramento, seguimos protocolos estruturados e treinamos continuamente as equipes. Isso nos permite tratar de forma rápida e segura. Já temos resultados consistentes, com taxa de transfusão controlada e nenhuma morte materna por hemorragia em nosso serviço”, descreve a hematologista, que participou da elaboração do primeiro Consenso Nacional sobre o tema.

A avaliação é compartilhada por especialistas que acompanham de perto o tema. A professora Carmen Simone Grilo Diniz, da Faculdade de Saúde Pública da USP, e referência em saúde materna e direitos reprodutivos no Brasil.

Ela reforça que, “as hemorragias continuam sendo responsáveis por uma parcela significativa das mortes maternas evitáveis no Brasil”. Segundo a docente, “o Gerenciamento do Sangue do Paciente pode ser uma ferramenta valiosa nesse enfrentamento, desde que articulado a protocolos bem estruturados e a uma política de cuidado que priorize a prevenção e a resposta oportuna diante dos riscos”, afirma.

No Brasil, além de Pernambuco, há experiências com o Gerenciamento do Sangue do Paciente que vêm sendo implementadas em hospitais públicos de estados como São Paulo, Ceará, Pará, Bahia e Distrito Federal. Em abril de 2025, o Ministério da Saúde deu início a ações em parceria com a UNIFESP que sugerem um possível processo de integração da abordagem às políticas nacionais de atenção obstétrica e hospitalar.

Enquanto novas políticas como a Rede Alyne buscam reorganizar a assistência obstétrica e ampliar o acesso ao pré-natal, o Gerenciamento do Sangue do Paciente surge como ferramenta técnica essencial para qualificar o cuidado e prevenir desfechos fatais. Ao ser incorporado de forma estruturada ao SUS, o modelo pode contribuir para um parto mais seguro, equitativo e centrado nas necessidades das mulheres.

Foto: Banco de Imagem

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