Por Fabiane Fischer
A pandemia do novo Coronavírus provocou uma série de mudanças na vida das pessoas, em seus negócios, relações. O racismo, os preconceitos e a pobreza não só ficaram mais evidentes como também ganharam importantes discussões à luz dos fatos, o que nos ajudou a refletirmos sobre como devemos nos comportar num futuro que já chegou.
Ao percebermos que o vírus alcançou o mundo todo de forma simultânea, foi inevitável nos sentirmos pequenos e assustados diante desse e de outros males que estão na humanidade. Não tínhamos treinamento, receita ou regra para nossa reação. A sensação de impotência provocou algo quase que obrigatório em muitos de nós: um mergulho no eu interior e o escancaramento dos paradigmas e vícios que carregamos por gerações. Um mundo grande que ficou pequeno diante da disseminação da doença. Valores e hábitos tidos como normais perderam força ou importância.
A partir de então, sobreviver e proteger-se se tornou a mais importante ação humana. Nossa saúde ganhou mais atenção, as casas voltaram a ser o centro das atenções. Mas mesmo assim, nos sentimos carentes e no meio de tantas incertezas pudemos olhar de forma mais empática para o outro. Esse olhar mais humanizado, que troca o “eu” pelo “nós”, o “meu” pelo “nosso” suscitou nas pessoas uma série de reações solidárias. Aquilo que antes era pedido acabou se tornando mais natural. Parece que “todo mundo ficou no mesmo barco”, mesmo sendo claro para todos nós que alguns enfrentaram a crise em iates e outros em boias furadas. É uma desigualdade social muito grande.
Mas se todos estamos interligados, o impacto econômico, a redução de cargos e salários e a diminuição drástica das rendas informais impactaram em todos nós. Afinal, a economia tem todos debaixo de suas asas. Mas antes de qualquer economia tem a vida.
E na reflexão solidária, numa analogia, percebemos que muitos têm dois cobertores e a grande maioria não tem nenhum. Se a vida vale mais do que as posses, doar se tornou um gesto mais natural, receber também. Na minha posição pública e com a influência do cargo que assumi em abril, tive a oportunidade de olhar de frente para uma realidade que muita gente não conhece: precisamos sim tomar conhecimento de que todos os dias tem gente que ainda morre de fome. E senti na pele o esforço diário para que ninguém morra de fome em nossa cidade. A saúde das pessoas precisa ser pauta de todos os nossos dias, e foi a pandemia que ampliou a luz sobre este assunto. Todos estamos mais preocupados com nossa saúde, com as ações e protocolos que devem ser seguidos.
Mas é certo que, também neste movimento coletivo, estamos dando lugar a uma preocupação genuína com a saúde do outro. E com todas as atitudes geradas durante este período de pandemia, entender que se estamos em condição privilegiada devemos sim olhar e agir com quem precisa daquilo que podemos ter sobrando. Este olhar inclusivo faz com que primeiro reconheçamos que o outro faz parte da nossa vida e nós fazemos da dele. Mas, sobretudo, nos torna co-responsáveis por transformações práticas que se repetidas geram grandes impactos sociais. Desde uma doação de qualquer item para qualquer pessoa até a mobilização de um bairro ou cidade num projeto solidário.
Neste momento o impacto da mobilização é direto na saúde, porque proporciona não só melhores índices mas até algo um pouco mais difícil de mensurar: a felicidade. Medir sua quantidade não podemos, mas certamente as pessoas mais felizes terão benefícios em autoestima, imunidade, em sua saúde mesmo. Eu não tenho dúvidas que a solidariedade é um alimento para corpo e alma e beneficia quem doa e quem recebe.
Ao nos envolvermos com causas sociais reconhecemos em nós a mudança que queremos no mundo. Ao darmos lugar para quem está em posição muitas vezes mais vulnerável que a nossa, incluímos, acolhemos e principalmente reconhecemos o outro. É uma cura de nosso olhar, de nosso coração. Para uma doença muito maior que qualquer vírus: a falta de informação e a indiferença. E a vacina para isso virá do amor e da verdade.