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Outubro Rosa: Como lidar com o diagnóstico de câncer de mama?

Psicólogo detalha como o diagnóstico de uma doença afeta profundamente nosso sistema nervoso

O diagnóstico de câncer de mama é, para muitas mulheres, um dos momentos mais desafiadores emocionalmente. Uma enxurrada de sentimentos como medo, ansiedade e tristeza podem tomar conta, e é natural se sentir emocionalmente abalada. Mas por que essas reações são tão intensas? E como elas podem influenciar no tratamento?

Segundo o psicólogo Richard Avila, que é mestre em Ciências da Saúde e é o fundador do Espaço Terapêutico Nosco, a neurociência nos ensina que, apesar dos desafios emocionais que o câncer de mama traz, o cérebro tem a capacidade de se adaptar e se fortalecer por meio de práticas que promovam a resiliência emocional. “O autocuidado, o apoio social e a atenção às expectativas são aspectos fundamentais no enfrentamento dessa jornada. Ao investir em práticas que promovam a neuroplasticidade e a saúde mental, podemos enfrentar esse desafio com mais equilíbrio e esperança”, destaca ele.

O impacto emocional do diagnóstico de câncer de mama

Um diagnóstico de câncer de mama traz à tona uma série de emoções intensas que variam de pessoa para pessoa. O psicólogo Richard Ávila elencou alguns dos sentimentos mais comuns desse momento:

– Medo e ansiedade: O medo do tratamento, do desconhecido e do futuro é uma resposta natural à percepção de ameaça. A neurociência mostra que o medo é fortemente mediado pela amígdala, que interpreta o câncer como um perigo imediato, desencadeando uma reação ansiosa.

– Negação: A negação também é uma resposta comum e, de certa forma, uma tentativa do cérebro de proteger o indivíduo de um choque emocional. O córtex pré-frontal pode tentar minimizar ou reprimir a percepção de perigo para aliviar a sobrecarga emocional imediata.

– Raiva e injustiça: Sentimentos de raiva ou frustração muitas vezes surgem quando a pessoa se questiona: “Por que isso aconteceu comigo?”. Essa raiva é uma resposta biológica, desencadeada pela ativação do sistema nervoso simpático, que tenta buscar uma explicação ou culpado para a situação.

– Tristeza e depressão: A tristeza profunda é outra resposta comum, refletindo a compreensão das possíveis perdas associadas ao câncer, seja a perda de saúde, a mudança de papéis sociais ou até a mortalidade. A neurociência sugere que o desequilíbrio na produção de neurotransmissores, como a serotonina, pode estar associado a esses estados emocionais.

Felizmente, o cérebro não está destinado a ficar preso em padrões de resposta emocional desadaptativos. 

“A neurociência moderna demonstrou que o cérebro possui uma incrível capacidade de adaptação, conhecida como neuroplasticidade. Isso significa que, com o tempo e com o suporte adequado, é possível treinar o cérebro a lidar melhor com o estresse e com as emoções negativas associadas ao câncer”, explica Avila.

 E quais são as melhores estratégias para lidar com o diagnóstico?

Existem pelo menos três estratégias principais que promovem a neuroplasticidade emocional, ou seja, a capacidade do cérebro de lidar melhor com algum diagnóstico difícil. O mindfulness (atenção plena) é o primeiro ponto citado pelo psicólogo:

 “Pesquisas indicam que a prática regular da atenção plena pode aumentar a conectividade entre o córtex pré-frontal e o sistema límbico, ajudando a regular as respostas emocionais. A meditação mindfulness, em particular, tem mostrado ser eficaz na redução da ansiedade e do estresse, melhorando a resiliência emocional”, detalha.

A prática de exercícios físicos é outro tópico citado pelo profissional, visto que a atividade física regular tem o poder de estimular a produção de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, responsáveis pela regulação do humor. O exercício também ajuda a reduzir a resposta do sistema nervoso simpático ao estresse.

Por fim, o psicólogo cita o apoio social como fundamental para lidar com esse momento.

 “O apoio de amigos, familiares e grupos de suporte é um fator crucial na resiliência emocional. A neurociência mostra que o contato social positivo estimula a liberação de ocitocina, um hormônio que promove sentimentos de bem-estar e segurança”, revela.

Embora os pontos acima foquem nos aspectos neurocientíficos, vale mencionar ainda que o tratamento psicológico, especialmente com abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), pode ser uma ferramenta valiosa no enfrentamento do câncer de mama. A TCC ajuda as pacientes a identificar e modificar pensamentos negativos, desenvolvendo melhoras na regulação emocional e nas habilidades de enfrentamento.

 O emocional das pacientes pode impactar no tratamento da doença?

Outra área da neurociência aplicada ao câncer de mama envolve o papel das expectativas no tratamento. Segundo Richard Ávila, o conceito de “efeito placebo”, em que a expectativa de melhora pode induzir uma resposta positiva no corpo, é bem documentado. Por outro lado, o efeito nocebo, onde as expectativas negativas resultam em piora dos sintomas, também é uma realidade.

Estudos de neuroimagem mostraram que as expectativas podem modificar a atividade cerebral, afetando diretamente como o corpo responde ao tratamento.

 “Pacientes que acreditam na eficácia do tratamento tendem a experimentar menos dor e menor percepção de estresse, devido à ativação de áreas cerebrais associadas à recompensa e à redução da percepção de ameaça. Isso significa que, ao abordar o câncer de mama, a maneira como pensamos e nossas expectativas em relação ao tratamento podem sim desempenhar um papel importante na nossa resposta emocional e física”, resume o psicólogo.

Foto: Banco de Imagem