“O abuso se torna uma roda viva de dor e sofrimento que pode durar anos”, comenta a terapeuta Wanessa Moreira
Com a chegada do novo folhetim da Rede Globo, “Mania de Você”, era de esperar que assuntos importantes e polêmicos viessem à tona, e não demorou muito para que o tema “relacionamento tóxico” virasse um dos assuntos mais importantes da trama, após Robson (Eriberto Leão), diminuir e humilhar de todas as formas sua esposa Fátima (Mariana Santos).
“Pessoas como o Robson são mais comuns em nosso cotidiano do que as pessoas imaginam. Trata-se de um homem extremamente inseguro e que deseja provar primeiro para ele mesmo que é capaz. O comportamento hostil e exigente com as pessoas é uma extensão da própria rigidez com ele mesmo. Servir as ordens duvidosas do chefe mostra o quanto ele mesmo é submisso e está disposto a tudo para ter o seu valor reconhecido por alguém que está em uma posição superior a dele. Ele enxerga as pessoas no trabalho como representantes de sua atuação, como se tudo girasse ao seu redor, então exige cada detalhe dos funcionários para garantir que sempre será visto como um excelente gestor para quem reparar nos funcionários que ele comanda”, explica a terapeuta Wanessa Moreira sobre o perfil do personagem.
Além das atitudes grosseiras dentro de casa, o personagem tenta de toda forma diminuir os funcionários do resort onde trabalha, tentando ganhar elogios dos clientes e cativar cada vez mais a atenção de seu chefe, Mavi (Chay Suede). O relacionamento tóxico se trata de uma relação que não existe vínculo de respeito, mas em que uma pessoa dita às regras e a outra é subjugada, tornando-se um ciclo de abusos, podendo chegar até a violência física.
“O agressor está sempre altamente ansioso e com medo de que algo saia do seu controle ou não funcione como ele determina. Isso faz com que ele fique com a realidade distorcida, ao ponto de não se importar demonstrando descaso e frieza com sua esposa. Só observa o que ela faz de errado e a diminui, porque ele enxerga nela a fraqueza dele, enxerga nela aquele homem desinteressante que ele mesmo era antes de fingir para si próprio que é um homem importante e está sempre inseguro com medo de perder o espaço que conquistou se submetendo a quem tem poder e oprimindo quem depende dele”, comenta Wanessa Moreira.
Segundo informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, quase 700 mulheres foram vítimas de feminicídio no primeiro semestre do ano passado, média de quatro casos por dia. Este número é 3,2% maior que o total registrado no primeiro semestre de 2021, quando 677 mulheres foram mortas.
O personagem vivido pelo ator Eriberto Leão joga holofote em outro tema que precisamos falar – o machismo. “Nas redes sociais, mulheres me contam que, através da novela, começaram a entender que estavam em relacionamentos abusivos”, relatou o ator em entrevista ao Fantástico.
“Diminuir a capacidade de uma mulher se sentir bonita e interessante é uma violência absurda porque isso anula sua vida”, ressaltou Mariana Santos na mesma entrevista.
“A vítima enxerga bondade no abusador e não consegue perceber o tirano que o seu companheiro se tornou. No caso do personagem, ele força o tempo todo a esposa a caber no modelo ideal para que ele possa mostrá-la como se fosse um troféu de sua posse – diminuir e oprimir para ela caber na ‘função’ de ser a esposa dele, somente isso”, complementa a terapeuta.
“O abuso se torna uma roda viva de dor e sofrimento, que pode durar anos, até que a pessoa se machuque, chegue ao fundo do poço e começa a se reerguer novamente. É fundamental a educação amorosa para as pessoas terem acesso à informação que o amor precisa, deve e serve para curar e unir. Tudo que é ao contrário disso, nem de longe é amor, podemos nomear como quiser – obsessão, posse, medo, rejeição, mas amor não. O amor liberta e transforma”, finaliza Wanessa Moreira.
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