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Cruzada Fatal de Pernas

Juliana Previtalli - Campanha Paradas Pro Sucesso

A cena é a de uma mulher sentada defronte a policiais. Está sendo interrogada.

Ela é jovem, bela e está vestindo um tubinho branco muito curto.

Usa saltos altos.

Acende um cigarro e traga.

Ela está muito segura de si e assim o demonstra em sua postura.

Em certo momento ela cruza e descruza as pernas.

Pode-se notar que ela não usa roupa íntima.

Juliana Previtalli - Charge Cruzada de Pernas

Quem viveu os anos 1990 certamente se recorda da icônica cena da atriz Sharon Stone no filme “Instinto Selvagem” a qual acabo de descrever.

Nessa mesma época, em Piracicaba, uma jovem igualmente bela e apaixonada tinha cerca de 18 anos. Seu nome é Ivanete mas todos a chamam de Nete.  Quando esse filme estreou nas salas de cinema de Hollywood, tamanhos foram o sucesso e a repercussão, que logo a nossa personagem planejou reproduzir, ao seu namorado, aquela cena carregada de elementos sedutores.

Então, Nete vestiu-se, colocou um salto agulha, prendeu os cabelos e, para que a cena ficasse completa, acendeu um cigarro. Fumou. E a repetiu em outras noites. Quando percebeu, já estava dependente do cigarro.

O que leva um jovem a iniciar o tabagismo?

A maioria dos fumantes torna-se dependente da nicotina antes dos 19 anos de idade. Há vários fatores que levam as pessoas a fumar, dentre eles, a publicidade direta e indireta, dirigida, principalmente, aos adolescentes, jovens e mulheres e fornece uma falsa imagem de que fumar se associa ao bom desempenho sexual e esportivo, ao sucesso, à beleza, à independência e à liberdade. No Brasil, a publicidade de produtos de tabaco é proibida. No entanto, encontram-se várias estratégias da indústria do tabaco para convencer as pessoas a consumirem seus produtos. O fácil acesso à compra e o baixo preço dos cigarros contribuem para que os jovens os experimentem. Já a tentativa de serem aceitos por grupos de amigos fumantes e o espelho que veem nos pais e ídolos consumidores de cigarros, também os impulsionam para um futuro de dependência à nicotina.

No caso do tabagismo, vale destacar o papel que a publicidade exerceu e ainda exerce na adoção do consumo de derivados do tabaco, especialmente o cigarro. A publicidade veiculada pelas indústrias aliou as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos (adolescentes, jovens, mulheres, faixas economicamente mais pobres e com menor nível de escolaridade, entre outras) ao uso do cigarro. Utiliza a imagem de ídolos e modelos de comportamento de determinado público-alvo, portando cigarros ou fumando-os, ou seja, uma forma indireta de publicidade que ainda tem forte influência no comportamento tanto dos adolescentes e jovens quanto dos adultos.

No início dos anos 1990 Nete começou a fumar para chamar a atenção do namorado e seu objetivo foi alcançado. Eles têm um relacionamento sério e formaram família com a chegada de um filho. Ela e o marido ainda fumam cigarros. Viveram juntos por 15 anos até que seus caminhos, um dia, se separaram. Cada um seguiu sua vida, mas não largaram do cigarro, esse sim um companheiro inseparável.

Eu a conheço no início do ano de 2020, quando idealizei a Campanha Paradas pro Sucesso e uma amiga a chamou para uma LIVE no Instagram. Os depoimentos de pessoas acerca de suas histórias de vida com o tabagismo são importantes e trazem engajamento. Ela está hoje com 45 anos. Seu filho, 25. Eu a convido a fazer o tratamento para parar de fumar. Ela vai à primeira consulta animada. Inicia as medicações, mas as interrompe. A conta da farmácia é cara. Não volta ao meu consultório nos retornos agendados. Consegue ficar longe dos cigarros, mas às custas de mal estar, enjoos e irritabilidade (a famosa abstinência).

Nete consegue ficar 180 dias sem fumar.

Mas sem o tratamento adequado, ela engordou 15 kilos.

Como ela é bonita e vaidosa, não resistiu e recaiu no vício. Comprou um maço de cigarros e voltou a fumar. Quer emagrecer.

Juliana Previtalli é médica, idealizadora da campanha antitabagista Paradas Pro Sucesso.

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