Equipe realiza trabalho multissetorial e multicampi a estudantes e servidores
É fundamental ouvir as pessoas com deficiência: são elas que vão apresentar suas demandas de acessibilidade. A fala é de Sandro Luis Francischini, Coordenador de Inclusão e Direitos Humanos (CoIDH), vinculada à Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (SAADE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O CoIDH é uma das várias unidades que, integradas, formam uma rede de acolhimento e acompanhamento de pessoas com deficiência na UFSCar – desde alunos ingressantes, passando por servidores, colaboradores, até estudantes de graduação e pós-graduação dos quatro campi.
“Buscamos proporcionar às pessoas com deficiência um melhor bem-estar aqui na Universidade. Isso é um dos primeiros passos”, conta Francischini.
A UFSCar abraça os diversos casos de deficiência: pessoas com deficiências físicas; sensoriais (pessoas surdas ou com deficiência auditiva); com deficiências visuais; com surdo-cegueira; pessoas com deficiências intelectuais; pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com deficiências múltiplas.
Além da SAADE, vinculada diretamente à Reitoria, articulam o trabalho para pessoas com esses perfis as pró-reitorias de Graduação (ProGrad), Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE) e Gestão de Pessoas (ProGPe), junto a outras unidades e áreas de conhecimento.
Acessibilidade de estudantes
No Campus São Carlos, a Coordenadoria de Acompanhamento Acadêmico e Pedagógico para Estudantes (CAAPE), vinculada à ProGrad, atua ao lado da CoIDH/SAADE realizando o acompanhamento acadêmico e pedagógico de estudantes de graduação de grupos incluindo pessoas com deficiência/autistas e estudantes com transtornos funcionais – como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – comprovados por laudo médico. Esse acompanhamento aos estudantes com deficiências/autistas, no Campus São Carlos, foi iniciado em 2019, segundo a pedagoga Eliana Marques Ribeiro Cruz, pedagoga da CAAPE.
“Para estudantes ingressantes por reservas de vagas, para pessoas com deficiências (incluindo pessoas autistas), este acompanhamento é automático e inicia-se no ingresso ao curso. Para estudantes ingressantes pela ampla concorrência, o serviço deve ser solicitado, a qualquer tempo, via e-mail (caape@ufscar.br) e com apresentação de laudo médico”.
Nessa rede multissetorial, a CAAPE é a que oferece um serviço estritamente pedagógico realizado por uma pedagoga e atua exclusivamente no Campus São Carlos.
“É um acompanhamento que diz respeito ao acolhimento e encaminhamento, a partir de demandas apresentadas por cada estudante, de necessidades de adaptações pedagógicas e de potencialidades, com vistas à condução acadêmica do curso, visando à sua conclusão”, relata Eliana Marques.
Paralelamente – e no caso de pessoas com deficiência auditiva, já que a UFSCar conta com pessoas no seu quadro discente, técnico-administrativo e docente com deficiência auditiva.
“A Universidade oferece o serviço de interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras), com um corpo de técnico-administrativos de sete pessoas, além de colaboradores eventuais que ajudam”, completa Francischini.
Já nas frentes de saúde, moradia e assistência estudantil, a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE) disponibiliza
“apartamentos adaptados na moradia estudantil de São Carlos; assistentes sociais para referenciamento socioassistencial, acompanhamento básico em saúde, saúde mental e odontológico”, elenca Sabrina Ferigato, Pró-Reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis.
Além disso, o Projeto Incluir viabiliza bolsas diretas (pagas a PCDs), bolsas indiretas (para estudantes que desenvolverão projetos e produtos voltados para acessibilidade) e auxílios para aquisição de recursos de tecnologias assistivas.
Infraestrutura acessível
Os quatro campi da UFSCar estão buscando aprimorar a estrutura para receber as pessoas com deficiência. Isso inclui a supressão de barreiras arquitetônicas, acessibilidade nos espaços públicos e coletivos, adaptação de material e mobiliários. As orientações são passadas pelo CoIDH para a Gestão da Universidade, a partir das demandas desse público.
“Se você observar, as carteiras e as cadeiras que estão em sala de aula, elas não atendem as pessoas com deficiência física, então, como houve um grande ingresso de pessoas com deficiência física esse ano de 2025, vamos começar a implementar isso”, aponta o Coordenador de Inclusão e Direitos Humanos.
“Temos nos empenhado em garantir a acessibilidade de nossos prédios, mas infelizmente ainda temos um longo caminho a trilhar até que as pessoas com deficiência tenham condições plenas de circulação e deslocamento”, avalia a Vice-Reitora Maria de Jesus Dutra do Reis.
“No entanto, a UFSCar assumiu o compromisso de ser uma universidade cada vez mais inclusiva e diversa. Vivenciar nossa comunidade acadêmica acreditando e lutando por isto, com a participação ativa das pessoas incluídas, é muito gratificante. Seguiremos juntas e juntos trabalhando para melhorar cada vez mais nosso espaço coletivo”.
Dois exemplos desse avanço são os espaços adaptados para pessoas neurodivergentes na Biblioteca Comunitária (BCo) e no Restaurante Universitário do Campus São Carlos.
Sob demanda
As demandas apresentadas pelos estudantes são encaminhadas para as Coordenações de Cursos para as devidas providências.
“A gente procura conversar direto com essas pessoas para conhecer as demandas. Lembrando que são demandas bem específicas. Fazemos essa escuta, em reuniões remotas ou presenciais, o que for melhor. Após a reunião, formulamos um documento de orientação encaminhado para a coordenação de curso. Aí cabe a cada coordenação de curso informar o docente das especificidades de cada caso”, destaca Francischini.
No Campus São Carlos esse trabalho é realizado em parceria com a CAAPE.
Para se ter uma ideia, atualmente, no Campus São Carlos, são acompanhados por uma pedagoga da CAAPE 181 estudantes com deficiências/autistas – com recorde de ingresso em 2025. Nos demais campi, os números aproximados chegam a 40 estudantes em Sorocaba, 10 em Araras e cinco em Lagoa do Sino.
“Esses números não representam a exatidão de estudantes com deficiências/autistas, pois podem haver estudantes que não solicitaram o acompanhamento pedagógico”, ressalta Eliana Marques, pedagoga da CAAPE.
Esta, aliás, é uma informação importante:
“nem todo estudante de graduação com deficiência apresenta demanda por acompanhamento pedagógico”.
Francischini, do CoIDH, reforça a mensagem:
“É muito importante que a pessoa queira o apoio. Nenhum apoio que a gente faz para os estudantes com deficiência é imposto. Ele tem que requerer, ele tem que querer”.
Acessibilidade dos servidores
Na UFSCar, qualquer servidor com deficiência pode procurar o apoio da equipe, por meio do Serviço de Saúde do Trabalhador (SeST) da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (ProGPe). Para aprimorar esse atendimento, foi recriada, em 2022, a Equipe Multiprofissional de Acompanhamento aos Servidores com Deficiência, “que sistematizou procedimentos de avaliação e acompanhamento das pessoas do quadro de pessoal da UFSCar que ingressaram ou vieram a desenvolver algum tipo de deficiência ao longo de sua vida funcional”, explica Jeanne Liliane Marlene Michel, Pró-Reitora de Gestão de Pessoas (ProGPe).
A partir desse trabalho de reestruturação, delineou-se, segundo a Pró-Reitora, duas atividades distintas: a primeira é a identificação da deficiência por meio de um ato pericial, seja por ocasião do ingresso de pessoas com deficiência em concursos, seja para a concessão de algum tipo de requerimento relacionado a essa condição para trabalhadores que já compõem o quadro da Universidade. A segunda é o monitoramento das condições de trabalho e a proposição de estratégias para melhorar a vida profissional de servidores que têm alguma deficiência e precisam de adaptações. “Portanto, neste momento estamos trabalhando na proposta de desdobramento da equipe inicialmente constituída em dois grupos diferentes para atender essas duas finalidades”, completa Jeanne Michel.
Campanhas, eventos e políticas
Outro passo importante de acolhimento às pessoas com deficiência é o combate ao preconceito – o chamado capacitismo. Para isso, a UFSCar organiza campanhas permanentes, orientando, conversando e dialogando com todas as pessoas. A campanha “Discriminação não cabe na UFSCar. Aprenda, ensine: Violência é crime”, aborda, entre diversos temas, o capacitismo (https://www.ufscar.br/noticia?codigo=15885&id=campanha-da-ufscar-combate-o-capacitismo).
Também foi realizado, no início de abril, no Campus São Carlos, o 1º Encontro do UFSCar Acessível, para o acolhimento aos alunos ingressantes com deficiências. O evento foi organizado por uma comissão de estudantes PCDs junto a diversos setores da UFSCar, dentro do contexto do projeto “Em Redes”, da ProGrad, voltado para o acolhimento aos ingressantes de grupos específicos, como indígenas, internacionais e pessoas com deficiências, ingressantes por reservas de vagas.
A ProGPe e a SAADE organizam, ainda, a cada semestre e com o apoio da equipe multicampi, um evento de acolhimento de servidores.
“Além disso, estamos em diálogo com a Reitoria para a criação de um grupo de trabalho para discutir uma proposta de política institucional para as pessoas com deficiência, tanto trabalhadores como estudantes”, complementa a Pró-Reitora de Gestão de Pessoas.
“Considero fundamental a discussão de uma política institucional para pessoas com deficiência que integre as ações da ProGPe, ProACE e SAADE, para que possamos trabalhar conjuntamente os desafios de inserção de um número cada vez maiores de trabalhadores e estudantes com as mais variadas formas de deficiência. Este é o caminho para que a UFSCar seja cada vez mais inclusiva”.
Para acessar os serviços, basta entrar em contato com a SAADE pelo e-mail saade@ufscar.br.