Dados do último Censo da Educação Superior mostram que, entre 2012 e 2023, a oferta de cursos de graduação à distância no Brasil cresceu 700%. Especialistas defendem que esse cenário revela a democratização dos cursos em áreas remotas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, na última segunda-feira (19), o decreto que estabelece as regras da nova política de educação à distância elaborada pelo Ministério da Educação (MEC). Entre as principais mudanças, o texto proíbe que modelo 100% online seja aplicado nos cursos de licenciatura ou da área da saúde e Direito, valendo apenas o sistema presencial ou semipresencial, o que gerou questionamentos entre especialistas do setor.
“Mais uma vez, o MEC toma decisões sem explicar o que, de fato, irá melhorar. Esse decreto é ruim, pois a tendência é de limitar o acesso a uma parcela da população, aumentando o preço e diminuindo a capilaridade entre, por exemplo, os estudantes de áreas remotas que enfrentam restrições logísticas. Hoje, em qualquer cidade com mais de 10 mil habitantes existe oferta de EAD, e ela chega inclusive nas aldeias indígenas e nas comunidades quilombolas, onde o presencial não chega”, avalia Francisco Borges, mestre em Educação e consultor de gestão e políticas públicas voltadas ao ensino da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT).
Borges destaca que o novo decreto também determina o limite de 70 alunos por turma em aulas ao vivo por vídeo, o que, na visão do consultor, não se justifica devido aos avanços que as próprias plataformas digitais proporcionaram nos últimos anos.
“Qual a diferença entre uma aula online com 70 pessoas ou com 100 ou 120, se o chat é mediado por Inteligência Artificial, com respostas imediatas e filtradas? Se, em caso de dúvidas, os alunos podem acessar apostilas e outros conteúdos digitalizados, sem precisar sair do computador? O MEC, a meu ver, não incentiva o bom uso da tecnologia a favor da educação”, completa.
Dados do último Censo da Educação Superior mostram que, entre 2012 e 2023, a oferta de cursos de graduação à distância no Brasil cresceu 700%. O atual Ministro da Educação, Camilo Santana, frequentemente mostra preocupação com esse aumento, questionando principalmente a qualidade dos cursos online. Por outro lado, Francisco Borges defende que não há qualquer indício que aponte para isso, ressaltando o papel da Educação à Distância para a inclusão social.
“Estamos falando de um cenário que democratizou o acesso à educação. Por muito tempo, o ensino superior presencial se apresentava como uma alternativa inviável para uma realidade social em consolidação, pois o deslocamento do trabalho para a unidade de ensino, por exemplo, é um obstáculo muito grande, pois cabe destacar que a maioria dos estudantes no ensino superior é formada por adultos trabalhadores. Manter uma agenda de 4 ou 5 dias de aulas em sala, por mais de 3 horas, é uma variável de inadequação à realidade de uma sociedade pós pandemia – que se habituou ao remoto e ao uso das chamadas de vídeo até para as atividades sociais e de trabalho”, afirma o consultor da Fundação FAT.
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