De acordo com pesquisa, um aumento de mil matrículas no EMI está associado à redução de 114 jovens em idade escolar grávidas no município

O levantamento intitulado “Impacto do Programa de Ensino Médio Integral (EMI) em Desigualdades de Gênero” realizado pelas pesquisadoras Lorena Hakak e Kelly Santos, em parceria com o Instituto Natura, destaca resultados significativos na redução da gravidez na adolescência, no aumento do ingresso e conclusão no ensino superior, e na ampliação de postos de trabalho para mulheres no Brasil. O EMI, que oferece educação em período integral e com proposta pedagógica focada no Projeto de Vida, tem se mostrado especialmente transformador para jovens em situações de vulnerabilidade socioeconômica.

Conforme os dados da pesquisa¹, em cidades com mais de 100 mil habitantes, para cada 100 matrículas no EMI, observa-se uma diminuição de 14,3 jovens grávidas em idade escolar no município. Em cidades com menos de 100 mil habitantes, essa redução é de 1,3 jovens grávidas a cada 100 matrículas no EMI. Então, o efeito da expansão de 100 matrículas de EMI por município reduziu em aproximadamente 23.700 os nascimentos de mães entre 15 e 17 anos no período analisado pela pesquisa. Esse efeito de diminuição persiste a longo prazo, à medida que o EMI se expande, ajudando as jovens a darem continuidade aos seus estudos e a aumentarem suas chances de obter melhores oportunidades de emprego no futuro.

O número também é significativo para os avanços na educação superior. Um aumento de 100 matrículas no EMI gera 73,7 novos registros de mulheres no ensino superior e 52,9 novas conclusões por município com o modelo implementado. As políticas de educação integral têm permitido que as jovens priorizem a formação acadêmica, adiando decisões como o casamento e a entrada precoce no mercado de trabalho, ampliando suas oportunidades de formalização e crescimento profissional. Com o aumento de 100 matrículas no EMI, há 38 novos postos de trabalho ocupados por mulheres em municípios que implementaram a política.

Segundo o diretor-presidente do Instituto Natura para a América Latina, David Saad, a implementação do Ensino Médio Integral tem mostrado que a educação é um instrumento poderoso para transformar trajetórias.

“Ao reduzir a gravidez precoce, aumentar o ingresso no Ensino Superior e impulsionar a ocupação feminina no mercado de trabalho, o modelo de educação contribui não apenas para o desenvolvimento das jovens, mas também para o avanço socioeconômico das famílias e comunidades em que estão inseridas”, explica David.

“É importante salientar que a gravidez precoce não se restringe a áreas vulneráveis ou famílias de menor renda, também ocorre entre jovens de classes privilegiadas, onde o acesso a bens e serviços de saúde pode suavizar suas consequências e torná-la menos visível, evidenciando a desigualdade estrutural, já que, em regiões periféricas e contextos de pobreza, essa rede de suporte nem sempre está disponível. O problema é a falta de políticas públicas eficazes para garantir atenção integral a todas as jovens.”, completa.

Em comparação com as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), um aumento das matrículas para atingir 25% dos alunos no EMI está relacionado à queda de 17 jovens grávidas em média por município ou redução da gravidez na adolescência em 0,15%. Um aumento de 56 postos de trabalho ocupados por mulheres em média por município e um aumento de 110 matrículas de mulheres no ensino superior e de 79 conclusões de mulheres em média por município.

O cenário e dados nacionais reforçam a relevância de políticas educacionais que ampliem o acesso e a permanência no ensino. Cerca de 60% dos ingressantes e 61% dos concluintes do Ensino Superior no Brasil são mulheres. A diferença salarial entre homens e mulheres de 22 a 23 anos no mercado formal é de 9% e 5% do total de gravidezes são de jovens entre 15 e 17 anos, com tendência de queda.

1.     Os dados abrangem o período de 2016 a 2022, analisando nascimentos, matrículas no Ensino Superior e vínculos empregatícios em municípios com o programa EMI.

Foto: Banco de Imagem