Professor destaca que a preparação vai muito além da leitura
Comemorado em 23 de abril, o Dia Mundial do Livro foi criado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para celebrar o poder da leitura, incentivar o hábito de ler e valorizar o papel da literatura na formação cultural e crítica dos indivíduos. No contexto dos vestibulares, a leitura tem papel central. Embora o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não adote uma lista oficial de obras obrigatórias, como ocorre em outros processos seletivos, é possível observar certa constância na escolha de autores e estilos ao longo dos anos.
Segundo o professor de literatura Guilherme Suman, da plataforma Aprova Total — especializada na preparação para vestibulares —, nomes como Machado de Assis, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa aparecem com frequência nas questões. Isso não garante a presença desses autores nas provas, mas o peso de suas obras na literatura brasileira os torna essenciais na preparação.
“Mais importante do que decorar títulos ou resumos é compreender como esses autores escrevem e os temas que abordam. A ironia refinada de Machado, as epifanias e a prosa introspectiva de Clarice, o neologismo e a força regional de Guimarães Rosa, ou a linguagem enxuta de Graciliano Ramos são marcas que ajudam o estudante a reconhecer e interpretar trechos com mais precisão. Identificar esses traços estilísticos aumenta consideravelmente as chances de acerto” aponta o professor.
O Enem tende a valorizar períodos como o Romantismo, Realismo, Modernismo, Simbolismo e Pré-Modernismo, embora outras correntes também possam aparecer. Os textos literários frequentemente servem como ponto de partida para discussões mais amplas, conectando passado e presente, arte e sociedade, linguagem e política.
Autores contemporâneos também aparecem na prova, ainda que com menor profundidade. Nessas situações, o próprio enunciado ou o texto de apoio costuma fornecer os elementos necessários para a interpretação. E esse repertório não se forma apenas com livros didáticos: filmes, canções, podcasts, obras clássicas e modernas — tudo contribui para uma leitura mais crítica
Suman ressalta que interpretar não é apenas uma questão de opinião.
“Estamos falando em compreender o texto: seus signos, seus elementos característicos, suas referências. Para isso, estudar literatura, história, filosofia e ampliar o vocabulário são atitudes fundamentais”, afirma.
Ele também alerta para os efeitos do uso excessivo das redes sociais, que pode comprometer a concentração, a leitura e a capacidade de inferência — habilidades essenciais para um bom desempenho.
Ler para a vida
Quando incorporada ao cotidiano desde cedo, a leitura deixa de ser uma obrigação escolar e se torna uma aliada constante no aprendizado. Estudantes que cultivam esse hábito têm mais familiaridade com diferentes tipos de texto, ampliam o vocabulário e ganham autonomia para interpretar o mundo. Isso não só facilita o caminho até a universidade, como também torna o processo mais leve e natural.
O conteúdo das provas, especialmente do Enem, dialoga com temas sociais, culturais e filosóficos — e quanto maior a bagagem acumulada ao longo da vida, mais fácil será fazer essas conexões. A prova se transforma em um reflexo do que já se conhece, e não em um desafio isolado ou distante da realidade do aluno.
Celebrar o Dia Mundial do Livro, portanto, vai além de reconhecer a importância da leitura: é reafirmar que, em um mundo saturado de informação rápida e superficial, a literatura permanece como um caminho para desenvolver pensamento crítico, sensibilidade e repertório.
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