Corrente comercial somou US$ 20 bilhões entre janeiro e março de 2025; déficit brasileiro foi de US$ 654 milhões, com destaque para importações de bens de alto valor agregado
Mesmo diante das tensões econômicas causadas pelo “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o comércio bilateral entre Brasil e EUA registrou um recorde histórico no primeiro trimestre de 2025.
De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (14) pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 20 bilhões entre janeiro e março — o maior valor já registrado para o período desde o início da série histórica.
O resultado representa um crescimento de 6,6% em relação ao mesmo período de 2024 e mostra que, apesar das medidas protecionistas norte-americanas, as relações comerciais seguem firmes. Ainda assim, o Brasil fechou o trimestre com déficit de US$ 654 milhões, já que importou mais do que exportou.
Exportações brasileiras crescem, mas não superam importações
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 9,65 bilhões no primeiro trimestre, com destaque para produtos da indústria nacional, sucos, óleos combustíveis, café não torrado e aeronaves.
Entre os destaques, a carne bovina teve alta de impressionantes 111,8%, entrando para a lista dos dez produtos mais exportados para os EUA. O setor industrial brasileiro teve um desempenho expressivo, com US$ 7,8 bilhões em vendas para o mercado norte-americano — o maior valor já registrado para um primeiro trimestre.
Importações puxadas por petróleo e alta tecnologia
Por outro lado, as importações brasileiras dos EUA somaram US$ 10,3 bilhões, dominadas por bens manufaturados, representando 89,2% da pauta de compras.
Destaques incluem máquinas, medicamentos, equipamentos eletrônicos e, principalmente, petróleo bruto, que teve alta de 78,3% nas importações. Esse aumento reverte uma tendência de queda anterior e reforça o crescimento do setor energético no país. As compras de gás natural, em contrapartida, caíram no início do ano.
Guerra tarifária e tensões globais
Em março, o governo dos EUA aumentou tarifas sobre produtos como aço e alumínio, afetando diretamente exportações brasileiras.
Embora o impacto direto ainda não tenha sido quantificado pelo MDIC, o diretor de Estatísticas, Herlon Brandão, admitiu a possibilidade de influência negativa na balança comercial de março.
Donald Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas, reduzindo o índice para 10%, exceto para a China — que passou a sofrer taxas de até 145%.
A medida acirrou ainda mais a guerra tarifária, com retaliações anunciadas por países como China, União Europeia, México e Canadá.
Relação estratégica e de longo prazo, diz Amcham
Para Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, os dados refletem não só a resiliência da parceria entre Brasil e EUA, como também o potencial de crescimento.
“As empresas envolvidas desejam ampliar ainda mais o comércio e os investimentos bilaterais.É essencial manter um ambiente previsível, transparente e construtivo”, destacou.
A entidade reforça que a manutenção do diálogo entre os setores público e privado é vital para que o comércio continue gerando inovação, empregos e desenvolvimento para ambos os países.