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⭐ Piracicaba, 22 de abril de 2025 ⭐

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Folclore político em Piracicaba e no Brasil

Este artigo tem como premissa digressões sobre o tema do folclore político. Do ponto de vista de “Gênero Jornalístico”, caracteriza-se mais pela publicação de pequenas notas, via de regra bem humoradas, sobre ações engraçadas ou negativas praticadas por políticos brasileiros.

É comum no dia a dia dos jornais, serem publicadas estas notas politicas bem humoradas, que variam entre 5 a 20 linhas. O mais ilustre de todos os jornalistas-humoristas do país, Millor Fernandes, com seus “Ai-kais”, no semanário “O Pasquim” e depois na revista “Veja”; a coluna “Painel”, da Folha de S. Paulo, o “Informe JB” (Jornal do Brasil), entre outros.

A maior referência ao campo é sem dúvida o jornalista Sebastião Nery, que por muitos anos colaborou com vários jornais brasileiros, com suas histórias, estórias, fábulas e lendas sobre a política brasileira e as reuniu posteriormente num livro “Folclore Político, 1950 histórias”, publicado pela Geração Editorial, em 2002. Trata-se da reunião de pequenas notas publicadas ao longo de vários anos em que o jornalista permaneceu ligado e próximo ao poder, até ser eleito deputado estadual e depois deputado federal pelo PDT de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro. Durante várias ocasiões, Nery foi membro dos júris de seleção e premiação do Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

Outro grande incentivador desta prática é o jornalista e consultor político Gaudêncio Torquato, só que agora já diante da modernidade, publica sua “Porandubas” através do seu site e as distribui pela internet. Além disso, enfeixou-as recentemente num grande volume impresso, transformadas em livro, com belas histórias deste campo.

Contudo não se trata de assunto contemporâneo. Como relata o historiador piracicabano Hugo Pedro Carradore, em livro similar, intitulado “Folclore do jogo do bicho”, liga aquele campo, o jogo do bicho, com o da política: “Em 1º de março de 1923, dia em que faleceu Rui Barbosa, a “águia” foi super carregada. E deu… Durante a semana, a milhar mais jogada em todo o país foi a 6259 (jacaré), número correspondente ao decreto que proibiu o jogo do bicho em todo o território nacional” .

Cabe a explicação de que “Águia de Haia” era o apelido com que Rui Barbosa ficou conhecido, por ter representado o Brasil em conferência em Haia/Holanda, tendo por lá grande desenvoltura, o que lhe valeu o apelido.

 O pioneirismo de Sebastião Nery

O jornalista  Sebastião Augusto de Sousa Nery  nasceu em Jaguaquara,Bahia em 8 de março de 1932 (hoje com 82 anos) é um jornalista , político brasileiro e um dos fundadores do campo do que denominamos hoje de Folclore Político. No prefácio de sua obra completa, intitulada “Folclore político, 1950 histórias”, define seu trabalho como “folclore não é a história,é a versão popular dela” E, mais adiante que o “humor é uma linguagem absolutamente séria, necessária e eterna”.

Seu primeiro livro sobre Folclore Político foi publicado em 1973 e ainda discutindo dimensões teóricas sobre o campo que acabara de inaugurar no país, afirmava que “o Folclore Político a gente nunca sabe o que é verdadeiro e o que é inventado”. Ou como definiu o jornalista Joel Silveira, prefaciado a obra de Nery “ ele é um contador do estilo francês da  petit historie, a história com “h” minúsculo.”

Estudou num seminário em Salvador na Bahia e depois foi a Minas Gerais onde estudou direito e ciencias sociais, iniciando-se no jornalismo  como reporeter de “O Diário” ligado à arquidiocese de Belo Horizonte. Filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro, depois ao Partido Comunista Brasileiro e foi exercendo, paralelamente, as atividades de jornalista e ativista político, tendo sido eleito para os cargos de deputado estadual e federal, já então sob a orientação de Leonel Brizola, no PDT, Partido Democrático Trabalhiosta. Trabalhou em vários jornais : Diário Carioca, Tribuna de Imprensa, Ultima  Hora, Folha de S.Paulo e Rede Bandeirantes, onde sempre atuou como comentarista político e foi colcionando as histórias do seu livro mais famoso e paradigmático.

Desde que publicou seu primeiro livro sobre o tema, em 1973, Nery não parou mais de investir nas pequenas histórias ,com temas engraçados sobe os políticos. De lá até 2002, frequentou vários jornais brasileiros com elas. Da “Folha de S.Paulo” , “Tribunas de Imprensa”, “Ultima Hora”, “Correio do Povo”, entre outros, passando por uma apresentação na Televisão ,através da Rede Bandeirantes, onde apresentava suas historietas e fazia comentários políticos, Nery percorreu outros jornais importantes, fez palestras e participou ativamente da política.

As provocações do “Capiau” na Tribuna de Piracicaba e de Erasmo Spadotto na “Folha”

Com larga tradição no campo da história da imprensa e do humor gráfico, a cidade de Piracicaba/SP sempre deu ênfase às “histórias verdadeiras e inventadas”, ao jeito de Nery, que lhe deram muita o que falar no campo do folclore político.Na atualidade, três grandes personagens continuam a cultivar – à sua maneira – o campo do folclore político. De um lado, o diretor o jornal “A Tribuna de Piracicaba”, Evaldo Vicente, com a coluna “Capíau, sempre editada na primeira página do seu periódico e o cartunista Erasmo Spadoto, chargista da nossa “Folha de Piracicaba”.

A coluna “Capiau”, um diminutivo carinhoso que se dá ao substantivo “caipira”, ou so neologismo ciado pelo folclorista piracicabano João Chiarini “caipiracipacano”, surgiu em 2007, em substituição à coluna Grafite, que tinha também este perfil. Evaldo não admite “nem morto”, mas a coluna foi criada por ele com o apoio do jornalista Miromar Rosa, Já Erasmo Spadotto é hoje, após 30 anos colaborando diariamente com o “Jornal de Piracicaba” e agora na “Folha de Piracicaba”, o maior provocador do riso político na ciade, com sua produção incesssante e contínua, com seu repertório mágico e sempre bem vindo. Criador do personagem “Capivaras”, publicadas em tiras diárias,depois transformadas em livro, tornou-se um grande crítico das questões locais, nacionais e internaiconais. Para isso utiliza-se de um personagem criado quando da aparição de centenas de animais que passaram a viver nas cercanias da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” e depois espalharam-se pelas margens do Rio Piracicaba, trazendo com elas o carrapato estrela,perigosos à saúde pública e elementos fundamentais para a criação das historietas.

Um pouco de folclore político no Brasil

Linguajar janístico – Há duas pérolas entre as mais citadas, entoadas pelo então professor de português e depois presidente do Brasil, Jânio Quadros. Ao ser questionado por uma jovem jornalista “por que fez isso”, respondeu do alto da sua sabedoria: “Fi-lo porque qui-lo”. Noutra vez lhe perguntaram porque bebia tanto: “Se fosse liquido, bebê-lo-ia. Se fosse sólido, comê-lo-ia”. Os maldosos emendavam, “como não é possível comê-lo-á”, um cacófato que fazia referência ao nome da esposa de Jânio: Eloá Quadros.

Em São Paulo – Candidatos exóticos como as mulheres-fruta, a última candidata foi a mulher-pera, a deputada. Além dela, Agenor Bisteca (PSDC), Psiu (PMN), Ailton Meleca (PTN) e Josué topa tudo (PHS).

Apelidos no Brasil– Juscelino Kubitscheck era “Nono”; Getúlio Vargas, Gegê; Luís Inácio, virou “Lula”; Prudente de Morais era “Biriba”; Afonso Pena, “Tico-Tico” e Artur Bernardes, “Seu mé” … por que será? Epitácio Pessoa era “Tio Pitta” e Eurico Dutra era chamado de “catedrático do silêncio”, porque falava mal e pouco.

Pé de valsa – O ex-presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, o JK, além de hábil político era exímio dançarino. E com isso, ia trazendo alegria e intranquilidade nas cidades por onde passava. Por ele as moças suspiravam. Por ele, os maridos renegavam os votos. Coisas da política. E dona Sarah, coitada, que inventou o primeiro comitê feminino para ajudá-lo em suas campanhas, vivia “alquebrada”, tal era o peso da sua infelicidade!

Bons tempos – Programas de televisão e rádio, no princípio da retomada das eleições diretas no Brasil sempre foram sugestivos. Sem muito dinheiro para campanhas na tv e no rádio, o ex-candidato Ciro Gomes usava no rádio o mesmo som dos programas de televisão. Até que um dia saiu-se com esta: “ … e vejam como estão esburacadas as nossas ruas! ” Vejam? No rádio? Tempos de vacas magras e mil improvisos, que marcaram o princípio da propaganda eleitoral gratuita.

Fotos rasgadas – O velho presidente FHC sempre foi o terror das meninas, aos moldes de JK, por onde passava nos seus tempos de professor, sociólogo e político. Dizem que, enjoada com tanta traição, Dona Ruth Cardoso rasgou as fotos do casamento e deixou-as na porta do elevador por onde o ex-marido subia, sempre na alta madrugada!!!

Newtão – Personagem folclórico lá pelas Minas Gerais, o ex-governador Newton Cardoso ficou muito bravo quando chegou para uma atividade na ONU, quando leu a faixa “Welcome Newton”. Quando voltou a Belo Horizonte, não teve dúvidas e mandou grafar outra faixa: “Newtão come wel”.

A camisa de JK – Duro e querendo ir a um baile, o ex-presidente Juscelino Kubitscheck inventou de vender uma camisa para arrumar dinheiro para as entradas. Lavo, passou, embrulhou bonito e consegui a grana. Dia seguinte foi procurado pelo comprador, que reclamou do prejuízo: a camisa tinha rasgado todinha. Ao que JK lhe perguntou: “Mas fez o que a noite inteira com a camisa?” Ao que o comprador lhe respondeu: “Dancei samba, maxixe, mambo, tango e o escambau”. Irritado, JK lhe disse: “Mas meu amigo, essa é uma camisa de tecido fino… só pode dançar valsa!”. Deu as costas e nunca mais falou com o interlocutor.

Dona Eloá e a vassoura — Uma das imagens mais marcantes das campanhas eleitorais foi exibida na campanha eleitoral para presidente da república desenvolvida por Jânio Quadros. Na ocasião, por sugestão de sua esposa, Da. Eloá Quadros, foram usadas vassouras como símbolos da campanha. Todo mundo tinha uma em casa. Custo zero. E tema infalível: “Varrer a corrupção”. Deu no que deu.

Metódico – O ex-vice presidente da República, Marco Maciel era metódico em tudo. Inclusive no casamento. Domingo à noite era sagrado que, depois da missa, seguida de pizza com vinho, era hora de “namorar”. Até que num certo domingo à noite, Maciel recebe um telefonema do ex-ministro chefe, Golbery do Couto e Silva, informando que um avião o aguardava para uma viagem urgente a SP. Maciel vira-se para a esposa, informa que Golbery o havia chamado e sai-se com essa: “Teje namorada!”

Itamar Franco hours concours – O caso mais vexatório ocorreu com o ex-presidente Itamar Franco, num dos seus dias de presidente. Ele foi passar o carnaval no Rio de Janeiro, recebeu camarote especial, bebeu, brincou a vontade a até arrumou uma namorada para aqueles dias. Lilian Ramos. Apareceram juntos, fotografados de baixo para cima pelos fotógrafos dos jornais brasileiros e internacionais. Que no dia seguinte estamparam as fotos do presidente “alegre”! E a acompanhante “sem calcinha”. Foi um vexame. O assessor de imprensa pediu demissão.

Jingles eleitorais marcantes – Uma das novas armas das campanhas eleitorais é o jingle. Música rápida, procura mostrar questões específicas do plano de governo, realçam o nome, o número do candidato e o cargo que está disputando. As marchinhas “Varre vassourinha”, de Jânio, nos anos 60 e o tradicional “Eymael”, composta pelo alfaiate do político, que lhe deu a música de presente, estão no universo imaginário das pessoas como as mais marcantes.

Diabão – Além de escrever cartas com pseudônimos para os jornais da época, o Imperador também escrevia cartas a sua amante, dona Domitila de Castro. E nelas assinava com o pseudônimo “Diabão” … Este Capiau promete investigar aqui na terrinha quais os apelidos dos “Diabões” locais…, mas não vai publicar não, que o Capiau quer manter-se vivo até os 90 anos, pelo menos! E não conhece nenhuma Domitila aqui na cidade …

O imperador ocioso – Essa prática vem do final do Império, quando D. Pedro II, muito sem ter o que fazer, escrevia para a imprensa com pseudônimos sugestivos como Simplício Maria das Necessidades, Sacristão da Freguesia de São João do Itaboraí, O inimigo dos marotos, Piolho Viajante, O anglomaníaco, O espreita, O Ultrabasileiro, O filantropo, O derrete chumbo a cacete. O Imperador não gostava de ser criticado! Cenário não muito distante da realidade que hoje vivemos, infelizmente.

Revista O Cruzeiro – O velho Assis Chateaubriand, dono dos diários Associados e da Revista O Cruzeiro, era um craque do ponto de vista editorial. Certa feita pediu a um dos seus fotógrafos que conseguisse uma foto do ex-presidente Juscelino Kubitscheck de “robe de chambre”, fazendo a barba. JK topou a brincadeira e virou capa da revista. Hoje, certamente nossas editorias fotográficas são todas muito menos audaciosas!

Jânio — E Jânio renunciou, segundo dizem, após um “porre a base de whisky”. Jânio também é lembrado por ter proibido biquínis nas paias do Rio de Janeiro e briga de galos.

Sala do Cafezinho – tradicionais no Senado e na Câmara Federal, as Salas do Cafezinho são os locais em que o folclore político circula com maior vigor. Por lá, não raro, brincadeiras e alfinetadas entre eles, dão combustível para a área. Aqui em Piracicaba, durante muitos anos, o chefe do gabinete do prefeito Adilson Maluf, Luiz Mattiazo, era o rei a fofoca política no Restaurante Brasserie. Hoje, em Piracicaba, só mesmo esse velho Capiau para recordar estas coisas.

Millor – Definição de Millor Fernandes sobre o folclore político “é a maldade dita pelas costas!”

 

SERVIÇO

Disponível na internet,  http://books.google.com.br/books?id=LTc6MpZwpM4C&pg=PA239&hl=pt-BR&source=gbs_selected_pages&cad=2#v=onepage&q&f=false

 

 

 

 

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