Foi lançado recentemente, a biografia de José Coral, uma das mais importantes e significativas lideranças do mundo político, empresarial, médico de nossa cidade. Com seus hoje 85 anos bem vividos, transita por múltiplas áreas da vida piracicabana nestas mais de oito décadas de vida pessoal e profissional.
Seu pioneirismo no agronegócio, é marcante e significativo, com grande enfoque no livro escrito por Marcos Bulzara. Que já havia assinado outras publicações históricas em nossa cidade, como os 80 anos da Acipi, entre outros.
Com o mesmo entusiasmo e competência que transita pelo agronegócio, ainda tem tempo, nestes anos, de dedicar-se ao Conselho Deliberativo do E.C.XV de Novembro, com opiniões firmes e seguras sobre o andamento do clube nos seus bastidores, desconhecidos pela maioria da população de nossa cidade. Nos dias de reuniões, curiosamente, sentamo-nos lado ao lado de outro conselheiro ilustre, Daniel Sonoda, diretor do Pecege. Não há explicações para o fato. Nem para as constantes caronas que pego com ele, nos finais da reunião, entre o estádio e o apartamento em que moro no centro da cidade, onde deixa escapar uma ou outra confidência sobre o trabalho que dá cuidar do nosso velho Quinzão.
Mas o bancário visionário, o agricultor competente, pai, avô e marido exemplar, católico fervoroso, tem também um lado importante, igualmente destacado na obra de Bulzara, que ouso aqui, complementar. Ele foi vereador nos anos de 1970, primeiro pela ARENA, Aliança Renovadora Nacional, depois pelo PDS, Partido Democrático Social e, por fim, PFL, Partido da Frente Liberal e participante ativo em congressos municipalistas naquela época, ao lado do então prefeito João Herrmann, que pertencia ao MDB e a quem fazia oposição.
Enfrentou, como se verá mais adiante, ferrenha batalha através da imprensa local, sobre as “queimadas de cana”, constantemente criticadas.
Jose Coral, o vereador.
José Coral exerceu por dois mandatos, o cargo de vereador na cidade de Piracicaba. Elegeu-se pela primeira vez em 1977 e permaneceu no legislativo até 1988, tendo papel decisivo nos debates sobre as questões dos negócios no campo da agricultura na cidade, o que lhe rendeu visibilidade e polêmicas, como os desdobramentos de uma entrevista que concedeu ao Jornal de Piracicaba, na época, dizendo que a questão das queimadas de cana e seus reflexos na cidade eram apenas “blábláblá”, que destacaremos também neste texto.
Foi filiado ao ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e ao PDS (Partido Democrático Social), que a sucedeu; e exerceu o cargo de vereador no período de 1977 – 1981, tendo sido eleito no primeiro mandato com cerca de 1800 votos. Ocupou o cargo de Segundo Secretário da Mesa em substituição ao vereador Elias Domingos da Silva, que renunciou ao cargo no período de 21/08/78 a 31/01/79. Em 04/02/80 filiou-se ao PDS (Partido Democrático Social).
Reeleito em 15/11/82 para o período de 01/02/1983 a 31/12/1988, com cerca de 1700 votos. A partir de 1986, com a reorganização partidária no Brasil, filiou-se então ao PFL (Partido de Frente Liberal), então sob a liderança do deputado Mendes Thame em Piracicaba. “Para mim, Thame era tudo. Não existiu político tão honesto e competente como ele. Nos conhecíamos há mais de 40 anos e acompanhei de perto seu trabalho. Era de uma idoneidade impressionante.” Coral apoiou naquela eleição a candidatura a prefeito do ex-vereador e deputado estadual Jairo Matos. Entre os anos de 1985/86 foi Membro da Comissão de Finanças da Câmara.
Das várias iniciativas na época, podemos destacar o projeto de lei, apresentado em 15 de março de 1977, que previa uma área de estacionamento de bicicletas e motocicletas no Largo fronteiriço à Catedral de Santo Antônio. Naquela época, inúmeros trabalhadores que vinham dos bairros para o centro da cidade, conduziam bicicletas, que ficavam ao relento, sem um local apropriado. Mesmo aprovado, o projeto não foi implantado pelo prefeito da época.
Propôs também, em 25 de fevereiro de 1986 um projeto que dispunha sobre forma de pagamento de Contribuição de Melhoria em casos que especifica que poderia ser paga até 24 prestações mensais, sem qualquer acréscimo, quando se tratasse de contribuintes reconhecidamente pobres, assim entendidos aqueles cujas rendas familiares fossem igual ou inferior ao valor correspondente a três salários mínimos vigentes na região. Fez ainda indicações diversas apontando para a necessidade de melhorias na Avenida Limeira, nos bairros Algodoal e Nossa Senhora de Fátima.
Com forte identidade no meio rural da cidade, foi igualmente pioneiro ao sugerir a Criação de perímetro urbano em povoados da zona rural, bem como a encampação pela CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) das redes de energia elétrica na zona rural da cidade. Indicou ainda a reparação geral de estradas municipais que ligam o bairro Monte Branco a bairros vizinhos e a complementação da sinalização na rodovia Piracicaba – Tupi – São Paulo. Foi dele também o pedido para a instalação de rede esgoto e asfaltamento nas ruas do Jardim Alvorada, Bairro Algodoal e melhoramentos públicos nas ruas do loteamento Nossa Senhora Aparecida, no bairro Guamium e a reparação de mata-burros na estrada de Anhumas. Além dessas, pediu a reparação da estrada dos Berti. Pediu a execução de serviços de reparação de estradas rurais, de pontes da zona rural, cascalhamento, entre outras providências.
Desenvolveu outras indicações também para a melhoria da iluminação pública no bairro da Vila Rezende, solicitou a instalação de abrigo de ônibus para passageiros no Jardim Primavera. Pediu também, na mesma época, alterações no trânsito na confluência das Avenidas Rui Barbosa e Manoel Conceição, na Vila Rezende. E também pleiteou uma entrada com maior segurança pra o distrito de Tupi, bem como a instalação de linhas regulares de ônibus para aquele distrito. Foi dele também o pedido para abertura de passagem de nível nos trilhos da FEPASA na Av. João Teodoro. E inúmeras as solicitações para que a prefeitura mantivesse em condições de tráfego as estradas rurais no período da safra da cana de açúcar na cidade.
Solicitou ainda vários pedidos de informações sobre assuntos gerais da cidade, dentre eles sobre sistema de telefone na zona rural ; sobre a instalação de indústria Hima S/A indústria e comércio dentro das normas ambientais da CETESB ; ao Presidente do “SINFAS” sobre aposentaria rural ; e ainda outro de informações sobre inquérito policial T (Tal fazia referência a um roubo de herbicidas ocorrido em uma fazenda localizada no distrito de Espírito Santo do Turvo, com indícios que os responsáveis pelo tal furto eram pessoas que residiam em Piracicaba).
Dentre as moções enviadas pela Câmara, subscreveu outras duas, uma de autoria de Antônio Fernandes Faganelo e outros, de 22 de março de 1977 de Repúdio à atuação do Presidente da Federação Paulista de Futebol. E outra de Newton da Silva e outros, de aplauso ao Presidente da República pela concessão de férias de 30 dias aos trabalhadores da CLT.
Permaneceu durante 12 anos na política local, prestando um grande serviço para a comunidade. Naquela época a Câmara tinha apenas meia dúzia de funcionários e eram os próprios vereadores que corriam atrás dos problemas da cidade, rascunhavam as indicações e requerimentos, e a secretaria da casa datilografava e encaminhava para as sessões. Nos sábados pela manhã era comum pegar os seus filhos e irem de carro para ver como estavam as estradas da zona rural e os bairros da periferia da cidade. Era bem participativo e acompanhava realmente o que acontecia.
Dos embates, um em especial gosta de registrar um especialmente. Na época o prefeito, Adilson Maluf a intenção era dobrar o salário, tendo como parâmetro URV que funcionava naquele período. E junto também vinha aumento para os subsídios dos vereadores. Ele votou contra. Foi o único a votar contra. Os vereadores da época não queriam, mas ele votou. Não o deixaram discutir na tribuna o seu voto contrário. Durante várias sessões, o secretário da Câmara, que era o Lino Vitti, fazia a leitura das matérias que constavam da ata, e ele pedia, ao final para que os vereadores “aprovassem” aquele documento. Coral levantou-se e afirmou, “Sr. Secretário, eu votei contra” e sugeriu, “Coloque no final da ata, com o voto contrário de José Coral”. E assim percorremos várias sessões. Depois de algum tempo, um cidadão piracicabano entrou com uma ação na justiça pedindo a anulação da medida. Ele ganhou na justiça local. Na época o prefeito apelou e recorreu. Perdeu também. E para terminar, o processo foi até o Supremo em Brasília.
Em certa ocasião, quando estava em Brasília, no escritório do então Ministro do Planejamento, Delfim Neto, acompanhado de lideranças dos usineiros e outros líderes de associações e cooperativas agrícolas. Em determinado momento chegou um advogado da equipe do Ministro, com um processo debaixo do braço. Naquele momento nós estávamos nos identificando ao Ministro, e quando falou o seu nome, José Coral, o advogado informou que o Adilson Maluf tinha perdido também em terceira instância. E completou dizendo que “ele vai ter que vender alguma propriedade para pagar também os vereadores, a quem ele também tinha prometido o aumento”. Sempre foi persistente, toda segunda, quando faltavam dez minutos para as oito da noite, quando começava a sessão, ele já estava por lá. Eram uma equipe de sete vereadores contra 14 que pertenciam ao MDB, que apoiavam o prefeito. Mas davam trabalho ao prefeito porque eram um grupo que analisava formado por Irineu Bonassi, Adele Bacchi, Elias Domingos da Silva, José Alcarde Correa. Ele gostava de ver a folha de pagamento da prefeitura, quem ganhava horas extras.
Noutra vez o então prefeito nomeou um dos vereadores como advogado da prefeitura. Ele o fez voltar atrás. Ele pegava também durante as sessões, o Diário Oficial do Município, o vereador-advogado acabou exonerado. Foram ações como estas que o deixaram muito feliz e que leva para toda a vida. Quando o grupo votava contra, estava apresentando as razões e argumentos. E todos faziam questão de registrar, para que o partido contrário tivesse ciência de que estava aprovando questões que nem sempre eram aceitas, do ponto de vista legal.
Foram contemporâneos de José Coral naquele período os vereadores Irineu Ulisses Bonassi, José Ignácio Sleimann, (Mugão), Braz Rosilho, Elias Domingos da Silva, Ari de Camargo Pedroso, José Alcarde Correia, Luís Antonio Rolim, Geraldo Bernardino, Paulo Alcides Bortoleto, João Claudio Angeli, Milton Nascimento, Adalberto Maluf,, Newton da Silva, João Sachs, Antonio Messias Galdino, Antonio Fernandes Faganelo entre outros, que participaram do XIV e XIX encontros nacionais de vereadores em Salvador e Campo Grande, respectivamente.