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⭐ Piracicaba, 13 de abril de 2025 ⭐

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Sarau de Outono, entre Prosas e Versos

Adolpho05

Aconteceu no dia 27 de março, no Museu Histórico e Pedagógico “Dr. Prudente de Moraes”, da Secretaria de Cultura de Piracicaba, a retomada das atividades dos saraus literários, criado por iniciativa da escritora Ana Marly Jacobino. Nessa retomada, sob a criação, planejamento e apresentação da escritora Elisabete Bortolin, da Academia Piracicabana de Letras, o evento contemplou música, artes plásticas, literatura, poesia, conto e sorteio de livros aos presentes.

Na abertura, a diretora do museu, Ana Torrejais, enalteceu a volta da mostra, nesse primeiro momento, denominada “Sarau das Artes, Quando o Outono Chegar”, destacando as ações desenvolvidas no Museu que leva o nome do primeiro presidente civil da república, Prudente de Moraes, localizado na região central da cidade, na casa onde ele viveu por muitos anos, tendo atuado como vereador em nossa cidade, antes de se eleger Presidente da República.

A promoção do evento esteve a cargo da Academia Piracicabana de Letras, Centro Literário de Piracicaba, Grupo Oficina Literária de Piracicaba. Na abertura, Elisabete Bortolin prestou homenagem à escritora e produtora cultural de Piracicaba, Carmen Pilotto (ler íntegra discurso noutro espaço desta página) que, emocionada, recontou parcelas de sua vida, desde que se iniciou nas primeiras letras até escrever seus primeiros livros e atuar como organizadora de exposições e movimentos culturais na cidade e na Escola superior de agricultura “Luiz de Queiroz” e outros segmentos culturais de nossa cidade.

Na sequência, a contadora de histórias, Carmelina Toledo Piza, de forma dramática e bem-humorada, contou uma história vivida com a criadora dos saraus, Ana Marly. Certa feita, quando se recuperava de cirurgia e recebia a visita da amiga, Carmelina percebeu que seu cachorro estava inquieto no quintal. Como não poderia sair da cama, pediu ajuda a amiga Ana Marly. Que prontamente foi até o quintal, mas não percebeu nada estranho. Como o bichinho não parava de rosnar, a própria Carmelinda criou coragem e amparada pela amiga, foi até o quintal. Onde encontrou o motivo da agitação. Uma cobra passeava tranquilamente pelo quintal, amedrontando o cãozinho. Ao que Carmelina determinou a amiga que, com um rodo, matasse a cobra. Insegura e tremula, Ana Marly confessou a amiga que “nunca tinha matado sequer uma formiga na vida toda!”, como iria matar a cobra? Ao que recebeu, de supetão, o rodo em suas mãos e a determinação de matar a cobra. Fechou os olhos e deu três sarrafadas na visitante intrusa. Quebrando o rodo em várias partes. Tendo recebido o comentário bem-humorado da “paciente” Carmelina. “Até que enfim, matou a cobra e quebrou o pau”. Para riso das amigas e da plateia presente ao Sarau.

Na sequência, a Orquestra Noiva da Colina, sob a regência das maestrinas Ivete Machado e Sandra Marques, apresentaram algumas músicas-raiz, como “Seguindo adiante”, entre outras.

Vieram então as primeiras declamações, como a de Ivana Negri, que declamou um poema de sua autoria, intitulado “Outono”; seguida por Raquel Delvage, que anunciou para outubro deste ano a realização da 6ª. Festa Literária de Piracicaba, no Engenho Central, e declamando poema de sua autoria “Quem sou eu na fila do pão”.

Posteriormente as velhas amigas e escritoras, de Rio das Pedras e Piracicaba, Larissa Molina e Vivian Limongi, apresentaram um pouco a trajetória de ambas, nascidas em Rio das Pedras, que escreveram o primeiro livro quando ambas tinham 12 anos. E seguiram escrevendo, hoje possuindo romances e biografias. Larissa também atua como “ghostwriter”, estando atualmente com sete projetos simultâneos para clientes do Brasil e do exterior.

Após elas, o integrante da APL, Cássio Negri leu um dos textos do seu livro, “Apenas palavras”, intitulado “Intuição”, lançado no ano passado. Sendo seguido pelo escritor Marcelo Silva, que interpretou um conto de Machado de Assis, “O Apólogo” que falava sobre os papeis da agulha e da linha na construção de um vestido de baile.

A cantora Sirlene Martins cantou suas músicas, “Jogo do Bicho” e “Madrugadas Piracicabanas”, de Frei Marcelino de Angatuba, empolgando os convidados. Os que conheciam a letra, a acompanharam suavemente.

Diretora da Galeria 3, de artes plásticas em Piracicaba, Melissa Possi, apresentou fotos da nova empresa, instalada no ano passado na cidade, abrindo-se para exposições e comercialização de trabalhos de autores locais e regionais, realizando oficinas em diversas linguagens artísticas e abrindo também o seu espaço para a realização de eventos, como a festa de aniversário da anfitriã da noite, Elisabete Bortolin, que comemorou seu aniversário por lá.

Nos agradecimentos finais, Bortolin agradeceu a presença de todos, que lotaram o auditório do Museu, transferiu à homenageada da noite, Carmen Piloto, o papel de organizadora do próximo sarau de inverno, em junho e também à equipe do Portal Nova 15, que gravou o Sarau que será apresentado no dia 3 de abril, no “Café co Dorfo”, das 18 às 20hs (ver link em Serviços)

A trajetória literária de Carmen Pilotto

Elisabete Bortolin

Há várias Carmens a partir do nome de nascimento de Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto. A primeira que revejo nessas memórias é minha colega de trabalho na Phillips do Brasil, aqui em Piracicaba, a partir de 1974 e lá se vão já quase cinco décadas. A segunda, também caminhou, como eu, pelo Curso de Letras da Universidade Metodista de Piracicaba e depois trilhou outros caminhos que iam em busca da cultura e saber.

Ao beber da água do Rio Piracicaba, subiu cidade adentro e encontrou-se com a terceira Carmen, que se transformou há 35 anos numa das profissionais mais queridas e respeitadas na área de assuntos administrativos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Sendo que o comichão das atividades culturais nunca mais a deixou.

Foi aprendendo a conhecer aquela instituição e ir deixando suas marcas em livros, eventos, solenidades. Era a Carmen versão ponto 4, conduzindo atividades locais, regionais e internacionais. E caipiracicabanizando-se com participações e convites para entidades importantes da preservação da memória e da cultura locais, como a Academia Piracicabana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, além de incursões pioneiras na organização dos grupos literários da cidade, dos quais a página “Prosa e Verso”, com 25 anos de existência e continuidade, no jornal Tribuna Piracicabana, é seguramente sua contribuição mais expressiva para a cultura piracicabana.

E nunca mais deixou de escrever, organizar, orientar e promover novos e velhos amigos que surgiram em sua frente. Como eu, quando voltei de Santos e recebi da velha e querida amiga, as mãos estendidas, como se tivéssemos nos despedindo “ontem mesmo”, com o mesmo abraço fraterno, jeito carinhoso de acolher e me abrir portas na cidade. “Achegue-se…”, me dizia entre uma e outra atividades que comecei a participar por aqui, em especial no Recanto dos Livros no Lar dos Velhinhos onde diversos escritores, e amigos, tiveram a oportunidade de conviver neste ambiente cultural. Até receber a merecida medalha do Mérito Cultural, em 2014, entre outras conquistas, publicações e articulações no nosso campo da cultura.

Escreveu inúmeros livros, artigos, ensaios, fez curadoria de exposições pela cidade e, em especial, na ESALQ, sua segunda casa. Onde foi construindo, com outros colegas professores e funcionários, momentos marcantes de preservação da história daquele monumento educacional, entre elas, a mais recente, um livreto em homenagem a Ermelinda de Souza Queiroz, esposa do patrono Luiz de Queiroz, daquela instituição. Hoje, uma imagem esculpida em bronze, que acolhe os visitantes do museu da ESALQ.

De sua querida mãe (Dulce Ana da Silva Fernandez) herdou o caráter afetivo e o jeito gostoso de escrever e, em especial, de construir laços de afeto entre os que dela sempre se aproximaram, foram parceiros de suas ideias e ideais, e se engrandeceram com a sua convivência e apoio. Mais do que um curriculum vistoso e competente, suas letras estão espalhadas em diversos livros, publicações históricas locais e nacionais e organizações de eventos literários com grande impacto na cidade e região, como a Festa Literária, que já ocorre há cinco anos, preparando-se para a sexta edição ainda neste ano.

Mas, certamente, não há nada que mais a agrade e a incentive a prosseguir construindo novos desafios do que um bom cafezinho quase sempre ofertado em sua casa, com pessoas queridas e dos quais saem ideias, projetos que vão se viabilizando, tornando-se referências, abrindo espaços a novos autores e amigos e dando a sustentação necessária para o engrandecimento da literatura e das pesquisas históricas em nossa cidade.

E antes que ela invente mais uma moda, corto o caminho e tomo a liberdade de, publicamente, neste momento, externar minha gratidão por sua amizade de tantos anos. Hoje não sou apenas eu a homenageá-la, somos todos nós, os aqui presentes e a todos os outros a quem ela estendeu suas mãos sempre generosas.

Obrigada por tudo, Carmen. Que você continue a inspirar todos nós.

SERVIÇO

Café co Dorfo, Sarau de outono

Fotos: Ivana Negri

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