De 14 a 18 de maio próximos, acontece em Piracicaba a 40 edição da Festa das Nações, que reúne várias entidades sociais, num festival que reúne gastronomia, música, dança e muita, mas muita, solidariedade. Uma história que começou em 1984, quando no segundo mandato do então prefeito Adilson Maluf, quando sua esposa, Rosa Maria Bolonha Maluf, com apoio de várias entidades sociais, começou a pensar no evento no mês de janeiro daquele ano, para realizá-lo em maio, sempre depois do domingo dedicado ao Dia das Mães, um indicativo de data que permanece até os dias atuais.
Sem nenhum tipo de estrutura formal, o grande impulso para a realização do primeiro evento foi dado pelo empresário Kalu Bergamo e Tejada, que eram dirigentes do Lar Franciscano de Menores, onde o espaço era adequado para um grande evento, mas que precisava de reformas e retoques necessários, além de, por ser fechado, possibilitar a cobrança de ingressos a preços módicos para os visitantes. Com essa diretriz aprovada, a equipe da Prefeitura entrou em campo para reformas e ajustes necessários para que eles tivessem um evento grandioso.
“Tive orientação e apoio do Dr. Cortês, um assessor especial do Adilson na área social, ao lado de figuras ilustres do funcionalismo como Altair Mafeis, Pedrinho Negri, entre tantos outros que me ajudavam a dialogar com as entidades pioneiras, como o Cesac, a Casa do Bom Menino, Centro de Reabilitação, Nuprom, Rede de Combate ao Câncer, Lojas Maçônicas da cidade, entre outras”, relembrou Rosa Maluf.
E mais adiante, que também sua prima Talge Maluf, que representava o Nuprom, teve papel decisivo naquela primeira articulação com os voluntários na época e foi uma grande facilitadora para a criação do evento, inspirada em eventos similares que já eram tradição em cidades da região, com menor porte.
Àquele tempo, mulheres de prefeitos do Brasil ainda tinham papeis modestos ou decorativos junto aos maridos/prefeitos. Mas foi a iniciativa da primeira dama do Estado de São Paulo, d. Lucy Montoro, que nos anos 80 idealizou o Fundo Social de solidariedade para o governo estadual, que foi estendido a todas as cidades paulistas, que as esposas se transformaram em “primeiras damas” e passaram a ter uma articulação mais organizada com seus municípios e o Governo do Estado, para o atendimento de demandas sociais.
Rosa relembrou que “nosso primeiro desafio para organizar começou em janeiro de 1984, com a participação de 21 entidades que se juntaram em 13 barracas e, na sequência, que tipo de comidas e bebidas elas poderiam produzir e comercializar. Houve um certo alinhamento das entidades com suas descendências, os italianos, árabes, japoneses, portugueses, franceses, alemães, entre outros. E os pratos típicos começaram a ser pensados e depois produzidos pelos próprios voluntários de cada uma delas, que se transformaram em administradores, chefs de cozinha, caixas, transportadores de equipamentos, cadeiras, mesas, som, e outros objetos necessários ao bom funcionamento de cada barraca. Me lembro que a prefeitura reformou o refeitório do Lar Franciscano transformando-o na principal barraca daquele ano, administrada pelos portugueses. As demais barracas possuíam tamanhos máximos de 4×4 metros, todas muito bem decoradas, com atendentes vestindo roupas típicas também dos países que representavam”
E lembrou mais que, “com o apoio das entidades e organizadores, fui escolhida para ser a primeira presidente da Festa das Nações naquela época. Passei a me reunir quase que diariamente com todos, recebendo ideias e sugestões, criando comissões de apoio para conseguirem patrocínio, divulgarem para a imprensa.”
Outras figuras importantes para a construção do modelo que ainda hoje perdura na festa foram, segundo Rosa, “os funcionários públicos Lucia Potascheff, do então departamento de Turismo e o Pedrinho Negri, ligado a parte administrativa da prefeitura. Ela definiu co envolvimento dos temas como cultura e lazer durante a festa. E o Pedrinho foi a São Paulo, visitou vários consulados e conseguiu apoio para que eles bancassem artistas com música e trajes típicos para virem abrilhantar nossa primeira festa. Que passou a contar também com os grupos típicos dos tiroleses de Santana e santa Olimpia, bairros rurais aqui de Piracicaba.”
Em 2025, cronologicamente seria o tempo da 42ª segunda festa, contudo vale a apena lembrar que por dois anos, por conta da pandemia da Covid 19, o evento não foi realizado.
Ainda segundo Rosa, “estar no poder público naquele momento e poder dizer SIM, foi talvez a minha maior e mais definitiva contribuição ao evento e a sua sobrevivência até hoje. Com ele, as entidades conseguem recursos necessários para se manterem por vários meses, num processo que perdura e vai se aperfeiçoando a cada ano, chegando a trair mais de 50 mil visitantes nos últimos anos.”
Ela lembrou-se, entre risos, de três grandes “problemas” que fugiram à tradição da festa durante os cinco primeiros anos em que ela esteve à frente da organização. “Primeiro foi o sumiço de uma pessoa durante a festa, sugerindo ao esposo que ela tinha sido sequestrada. Até um avião da família Ometto foi mobilizado no dia seguinte para descobrir o paradeiro do carro, que não foi encontrado. A pessoa apareceu serenamente depois de uns dias de susto no marido. A outra foi um embate com o pessoal da barraca Americana, por conta do impasse com a venda de bebidas típicas daquele país, pois o fornecedor que venceu a concorrência para as bebidas, distribuía uma marca concorrente. E houve até uma proposta, felizmente não aceita, que pretendia promover jogos de roleta, como nos cassinos, que foi vetada pela comissão. Tirando essas histórias, de resto tudo correu com perfeição.”
Até hoje, Rosa Maluf é recebida, com seus filhos e netos, com o maior carinho e respeito por todas as barracas na sequencia das mais de 40 festas realizadas. Lembrou-se, por fim, que
“a cidade cresceu muito, antes a festa era um reduto de famílias conhecidas, hoje perdemos a conta do numero de visitantes, muitos de cidades da região. Mas o exemplo de solidariedade, permanece.”