Ermelinda de Souza Queiroz
O exercício político sempre teve registros mais destacados na história, como sendo privilégio dos homens. Existe a frase popular mostrando igualmente que “por traz de um grande homem, há sempre uma grande mulher” e isso não tem o merecido destaque. Creio que os grandes homens públicos de Piracicaba sempre tiveram ao seu lado, mulheres que exerceram indelével influência sobre o comportamento das ações desenvolvidas em prol da política local.
Procurarei, destacar algumas delas, começando por Ermelinda Benedicta Ottoni de Souza Queiroz nasceu em 21 de março de 1856 na cidade do Rio de Janeiro e faleceu 7 de abril de 1936 em São Paulo. Filha do Conselheiro do Império Cristiano Ottoni e de Barbara de Barros Ottoni. Casou-se em 1880, aos 24 anos, com o engenheiro agrônomo, notável empreendedor, Luiz Vicente de Sousa Queiroz e teve um papel decisivo, ao seu lado, na implantação da escola de agronomia que hoje leva o nome do seu idealizador.
Recém-casada, passou a residir no hoje denominado Palacete Boyes, e num certo período mudaram-se para uma casa mais modesta na Fazenda São João da Montanha, uma área de 131 alqueires, então distante a três quilômetros da cidade de Piracicaba. Para auxiliar o esposo na empreitada, ela cuidava pessoalmente, junto com sua equipe, da alimentação de todos os empregados na obra, tendo montado uma grande cozinha para esta atividade e um estoque razoável de alimentos utilizados no dia a dia. Abolicionista, embora a cidade possuísse na época mais de 5.000 escravos, Luiz Vicente – que ela e a família chamavam na intimidade chamava de Lulu e os amigos de Queirozinho – não permitia o trabalho escravo em suas propriedades, antes mesmo da abolição ocorrida em 1888.Está no Museu “Prudente de Moraes”, o genuflexório da família, especialmente construído para as missas celebradas na igreja católica.
Espantava os amigos com a sua postura de apoio ao marido, nas suas ousadias. Era comum vê-la em sua companhia nos jantares que oferecia aos convidados, quando o costume na época reservava às esposas, as refeições na cozinha, longe do marido. Era ousada, determinada e igualmente perspicaz como o marido. Não teve filhos.
Adelaide Benvinda de Morais Barros
No final do século XIX, pontificou entre nós Adelaide Benvinda da Silva Gordo de Morais Barros, mulher do primeiro presidente civil da república, Prudente de Moraes. Ela foi a terceira primeira dama da história republicana, entre 1894 a 1898. Era filha tenente-coronel da Guarda Nacional Antônio José da Silva Gordo (natural de Valença do Minho) e de sua segunda esposa, Ana Brandina de Barros. Nasceu em Santos, em 17 de setembro de 1848. Casou-se com Prudente na residência dos pais, em Santos no dia 28 de maio de 1866.
Do casamento com o presidente nasceram nove filhos, dos quais duas faleceram precocemente, Maria Jovita, aos 11 anos, a primogênita e Maria Teresa, a caçula, no primeiro ano de vida. Sete sobreviveram: Gustavo, Prudente Filho, Antonio, Maria Amélia, Carlota, Julia e Paula. Prudente teve um filho fora do casamento, chamado José que faleceu em 1825.
Todos viveram com os pais no casarão da rua Santo Antonio esquina com a 13 de maio, onde hoje localiza-se o museu em homenagem ao primeiro presidente civil da República, inaugurado no ano de 1957. O casarão foi adquirido em 1870 e anos depois concluído para moradia oficial a família, onde Prudente mandou plantar muitas jabuticabeiras. Antes de se transformar em Museu, foi sede da faculdade de odontologia, do grupo escolar dr. Prudente, da delegacia de ensino, até transformar-se definitivamente em museu.
No final do século XIX coube às mulheres dos presidentes da República e às dos governadores e prefeitos, especialmente, um árduo início de trabalho em prol dos desfavorecidos: pobres, órfãos, doentes, que recebiam apoio através de ações humanitárias. Mas uma das ações de d. Adelaide influenciaram – e ainda hoje mantém raízes em nossa cidade. Foi através da amizade que travou com a missionária metodista Marta Watts, que floresceu a ideia da fundação de uma escola na cidade, o atual Colégio Piracicabano. Os filhos de Adelaide e Prudente foram os primeiros a frequentar a nova instituição de ensino, desde o final do século XIX.
Dona Adelaide, depois da morte do esposo, mudou-se par Berlim, na Alemanha, onde faleceu aos 63 anos, no dia 8 de novembro de 1911. Seu corpo está sepultado no mausoléu em homenagem a Prudente, no Cemitério da Saudade.
Adelaide Benvinda de Morais Barros
Sofia de Oliveira Aguiar Paes de Barros Pereira de Souza
Recortei aqui e ali em livros e informações na internet, uma história saborosa, e creio, pouco conhecida da sociedade local, sobre uma mulher que fez história e foi a 13ª. primeira dama do Brasil. Nascida em São Paulo, no dia 27 de setembro de 1877, viveu contudo na cidade de Piracicaba por muitos anos. Filha de Raphael Tobias Pais de Barros, o segundo Barão de Piracicaba, dono de muitas terras na cidade e região, onde desbravou as plantações de café. Nascido em Itu em 1830 e falecido na mesma cidade no dia 19 de março de 1898. Era filho do primeiro Barão de Piracicaba, Antonio Paes de Barros e de Gertrudes de Aguiar. Casou-se com a prima Leonarda de Barros, filha do Barão de Itu, Bento Pais de Barros e posteriormente com Maria Joaquina de Oliveira, filha do Visconde de Rio Claro, José E. de Oliveira.
Sofia conheceu seu esposo, que depois tornou-se o 13º presidente civil da República, Washington Luis Pereira de Souza, num recital de música que houve em sua casa. Seu futuro marido tinha sido prefeito de Batatais e já na época era figura promissora por representar o interesse dos cafeicultores e canavieiros do Estado. Casaram-se no dia 4 de março de 1900 e tiveram quatro filhos: Florinda, Rafael Luís, Caio Luís e Vítor Luís.
Como slogan “Governar é construir estradas”, foi eleito com 688.528 votos nas eleições de 15 de novembro de 1926.Discreta e elegante, Sofia atuou também na área social no período em que exerceu o cargo de primeira dama do Brasil, entre os anos de 1926 a outubro de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder e transformou o ex presidente Washington Luis em exilado na Suíça.
Foi lá que Sofia faleceu em Lausane, em 28 de junho de 1934, aos 56 anos. Encontrei a informação nos acervos a primeira página do jornal “Correio Paulistano” de 31 de julho de 1934. Praticamente em toda a edição, há uma descrição do cortejo de falecimento da ex primeira dama. A manchete dizia “Vão ser sepultados hoje, no Cemitério da Consolação os restos mortais da Senhora Washington Luis”.
É o mesmo tratamento que o jornal descreveu na legenda da foto que publicou na primeira página, tratando-a como a “senhora Washington Luis”, e não como Sofia. Descreve ainda a matéria que o corpo chegou ao porto do Rio de Janeiro, depois foi transportado noutro navio para o porto de Santos. De lá, foi de trem a cidade de São Paulo, desceu na Estação da Luz e transportado em carro fúnebre para o cemitério da Consolação, onde acham-se recolhidos até hoje os seus restos mortais.
Odila de Souza Diehl
Dos vários capítulos notáveis sobre a presença da mulher piracicabana nos nossos movimentos políticos, há uma, sobretudo, que nos engrandece. É o capítulo dedicado a Odila de Souza Diehl, que participou da revolução constitucionalista de 1932, na qual o Estado de São Paulo insurgiu-se contra o governo de Getúlio Vargas. O “Batalhão Piracicabano”, formado em sua maioria por homens, estudantes da ESALQ, jornalistas, advogados, homens simples da população, que se alistaram para defender grandeza do nosso Estado contra as arbitrariedades políticas daqueles dias.
Em homenagem a eles há, até hoje, nos espaços do Museu Prudente de Moraes, vários documentos, recortes de jornais, objetos e fotos daqueles dias. Há igualmente a Rua Voluntários de Piracicaba, que une a região central ao Bairro Alto, que lhes dedica apreço histórico. Odila, ao lado de inúmeras mulheres piracicabanas, acompanharam os esposos, namorados ou amigos, até as frentes de batalha. Ela nasceu no ano de 1858 e faleceu em 1918. Foi mãe de Paschoal Diehl.
Existem fotos históricas do grupo subindo a Rua Boa Morte para pegar o trem na Estação da Paulista e ir para a guerra. Odila estava ao lado do marido, o advogado e jornalista Jacó Diehl Neto, um dos líderes do nosso batalhão. Ao lado dela perfilaram-se as piracicabanas Presciliana Almeida, Carlinda Barbosa, Nair Barbosa, Matilde Brasiliense, Rosalina Juliano, Maria Celestina Teixeira Mendes, Ana Silveira Pedreira, Etelvina Pedreira, Dulce Ribeiro e Maria de Almeida Silveira.
E conforme relatos na bibliografia local disponível, outras delas serviram como enfermeiras, atuando na retaguarda, como as piracicabanas Nelly Abrahão, Mirtes Soares Arruda, Benedicta Dias Barros, Augusta Braga, Júlia Calil, Maria Isabel Machado César, Lourdes Godinho, Maria José Prates, Luiza Pinto dos Santos, Ambrosina de Campos Toledo, Adelina de Toledo e Silva e Nair de Toledo e Silva.
Há ainda disponível no blog dos Voluntários de Piracicaba, organizado pelo MMDC de nossa cidade, uma foto de autor desconhecido, mostrando a ilustre combatente piracicabana ao lado de outros soldados. Sobre ela, a maior de todas as recordações é a de que trouxe, enrolada em seu próprio corpo, uma bandeira do Estado de São Paulo, como último trunfo da perseverança do grupo paulista contra o regime ditatorial de Vargas à época. A bandeira foi entregue e permanece sob a guarda do nosso Museu Prudente de Moraes, como homenagem ao gesto corajoso da mulher piracicabana.
Quando me deparo com o perfil destas mulheres aumenta em mim a convicção e os conhecimentos sobre nossa terra. E sobre quem guarda nossa história e a bravura da nossa gente em dias de arbítrio e dificuldades.