No próximo domingo, os olhos dos cinéfilos piracicabanos, certamente estarão aguardando o anuncio dos vencedores do “Oscar”, o mais representativo dos festivais do cinema mundial, a ser realizado em Nova Iorque. Mas segue abaixo, com apoio do jornalista Antonio Toledo, especializado em cinema e um dos mais antigos colaboradores da imprensa local sobre o tema, um pouco de uma velha história, que tem como protagonista o ator piracicabano Leonardo Villar, que em 1962, em Cannes/França, ganhou a Palma de Ouro com o filme “O pagador de promessas”, dirigido por Anselmo Duarte.
Pouco se sabe sobre o ator piracicabano e sua vida em nossa cidade. Pois saiu daqui bem jovem e parece que nunca mais voltou à sua terra natal. Foi feito inclusive um documentário sobre ele, intitulado “Um homem só”, realizado em 2000, mas nem por lá há citação sobre a infância e juventude dele entre nós. Apenas há uma referência de que teria passado sua infância em Mombuca.
Ele nasceu em Piracicaba, no dia 23 de julho de 1923 e morreu aos 96 anos, em 3 de julho de 2020 em São Paulo. Por cerca de 60 anos, construiu uma carreira sólida no teatro, televisão e cinema. Ganhou fama internacional ao interpretar o personagem Zé do Burro, protagonista do filme “O pagador de promessas”.
Apesar de ter nascido em Piracicaba, pouca gente sabia, até a sua morte, que o ator era piracicabano. Tanto que sua morte não causou comoção na cidade. Ele saiu muito jovem daqui e ainda não se sabe se teve mais contatos com a cidade. No documentário “Um homem só”, realizado por Joel Pizzini, em novembro de 2000, Villar conta que passou a infância na Fazenda São Jeronimo, que era do seu cunhado, irmão a pintora Tarsila do Amaral. “Saí com 12 anos de lá, é uma lembrança que tenho de Mombuca e da fazenda, é muito boa.” Em nenhum momento no documentário ele refere-se a Piracicaba, nem mesmo que nasceu aqui.
Tinha temperamento reservado e tímido. “Sou uma pessoa calma, reservada, prefiro ficar sozinho”, disse naquele documentário. Era solteiro e contou também no documentário que “Sou uma calma, uma pessoa que fala pouco e gosta de ficar sozinho. Gostaria de ter minha família, meus filhos e netos, acho muito bonito isso, mas por conta do teatro, que desviou minha vida por outro lado, não consegui. Houve uma pessoa que eu amei muito, mas não deu certo eu tinha que fazer minha opção profissional.”
Seu nome de batismo era Leonildo Mota filho do casal de colonos espanhóis Antonio Mota Viñales e Conceição Fernandez Vinãles, que eram nascidos em Estepopona, na província de Málaga, na Espanha, que se mu8daram para Piracicaba. Leonardo era o caçula entre sete irmãos. Antes de se tornar ator, foi alfaiate e assim se sustentava, antes de se mudar para são Paulo.
“Eu trabalhei como alfaiate e era feliz, uma pessoa realizada, porque era um bom alfaiate e ganhava bem “. Aos 17 anos já fazia figurações e era figurinista do Teatro Brasileiro de Comédia. Atraído pelo Teatro, cursou a Escola de arte dramática, com uma bolsa de estudos para alunos pobres. Formou-se na primeira turma da EAD em 1948.
No Teatro, Televisão e Cinema
O teatro foi o espaço no qual Vilar mais atuou. De início, nos anos 1950 até 2011, participa de 42 peças, entre elas “A raposa e as uvas”, que marcou sua estreia profissional em 1953. Contratado pelo Teatro Brasileiro de comédia em 1958, tornou-se instantaneamente celebre por ter sido o primeiro ator dramático a emitir uma palavrão em cena na peça “O panorama visto da ponte”, de Arthur Miller, pelo qual ganha os prêmios SAC e da Associação Brasileira de Crítico Teatrais. A partir daí sua carreira deslanchou e logo em seguida tornou-se protagonista do filme “O pagador de Promessas”, peça escrita pelo dramaturgo Dias gomes, também levado ao cinema com o mesmo Vilar no papel que o alçaria a fama mundial.
Na televisão, foram 35 trabalhos. Começou em 1965 na extinta TV Tupi, na novela “A cor da sua pele”. Em 12972 estreou na Globo, na novela “O primeiro amor”, atuando também com sucesso em outras produções como “Escalada” e Estupido Cupido. Um dos seus trabalhos mais famosos na televisão foi o do fanático religioso Ezequiel em “Barriga de Aluguel”
Na tela grande foram 16 filmes e já no primeiro deles, em 1962m, com o personagem Zé do Burro que o levou a ser reconhecido internacionalmente com sua interpretação. No ano seguinte o mesmo filme foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas não venceu.
Outros filmes marcantes do ator foram “Lampião, o Rei do Cangaço” em 1964, A hora e a vez de augusto Matraga, 1965, A Madona de Cedro”,1968, Ação entre amigos 1998 e o drama musical, Chega de Saudade, em 2008, seu ultimo trabalho no cinema, no papel de um viúvo amargurado, responsável por alguns dos momentos mais emocionantes do filme.
Sobre O Filme
Com Wikipedia
Na década de 1960, Zé do Burro, um homem humilde, enfrenta a intransigência da Igreja ao tentar cumprir a promessa feita em um terreiro de Candomblé, que era carregar uma pesada cruz de madeira por um longo percurso.
Ele é dono de um pequeno pedaço de terra no interior da Bahia. Seu melhor amigo é um burro chamado Nicolau. Quando este adoece, ele não consegue fazer nada para que o animal melhore, então faz uma promessa a uma Mãe de Santo de Candomblé: caso o burro se recupere, promete que dividirá sua terra igualmente entre os mais pobres e carregará uma cruz, desde sua propriedade até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, onde a oferecerá ao padre local. Assim que seu burro se recupera, Zé dá início à sua jornada.
Seguido fielmente pela esposa Rosa, Zé chega ao templo de madrugada. O padre local, que representa a autoridade da religião oficial, se recusa receber a cruz de Zé após ouvir dele a razão pela qual a carregou e as circunstâncias “pagãs” em que a promessa foi feita, impossibilitando seu cumprimento. Todos em Salvador tentam se aproveitar do inocente e ingênuo Zé. Os praticantes de candomblé querem usá-lo como líder contra a discriminação que sofrem da Igreja Católica, os jornais sensacionalistas transformam sua promessa de dar a terra aos pobres em grito pela reforma agrária.
Zé insiste em entrar na Igreja e recebe apoio da população pobre, que acredita que ele tem o direito de pagar sua promessa, criando, assim, uma situação de conflito com o padre. A polícia é chamada para prevenir a entrada de Zé e ele acaba morto em um confronto violento entre policiais e manifestantes que lhe são favoráveis. Na última cena do filme, os manifestantes colocam o corpo morto de Zé em cima da cruz e entram à força na igreja.
Serviço
Como assistir o filme “O pagador de promessas’