Nos últimos anos, o modelo de jornada de trabalho conhecido como escala 6×1 tem sido questionado. Comum em setores como comércio, serviços e alimentação, o modelo exige que o trabalhador cumpra sua carga horária durante seis dias consecutivos, com apenas um dia de folga. Embora essa configuração de jornada seja prática para muitos empregadores, ela tem sido vista como um modelo desgastante para os trabalhadores, que enfrentam uma sobrecarga de horas de trabalho e têm poucas oportunidades de descanso.
Especialistas em direito do trabalho, assim como sindicatos e organizações que defendem os direitos dos trabalhadores, argumentam que jornadas de trabalho mais equilibradas não apenas são necessárias para garantir a saúde dos empregados, mas também contribuem para um ambiente de trabalho mais produtivo e menos suscetível ao absenteísmo e à rotatividade.
Os bancários já estão habituados à jornada 5×2, mas, apesar desse formato, a pressão por metas e as exigências do trabalho ainda geram altos índices de adoecimento, especialmente mental, resultando em estresse e burnout. Vale ressaltar que a discussão sobre a jornada de trabalho é uma tendência global, com diversos países já implementando modelos alternativos de jornada.
Na Inglaterra, empresas testaram a jornada de quatro dias, reduzindo a carga para 32 horas semanais, e muitos aderiram ao modelo, após resultados positivos. A Espanha, propôs reduzir a jornada sem diminuir o salário, com apoio financeiro para pequenas empresas. Na Alemanha, testes realizados em 2024 mostraram que 70% das empresas preferem manter a semana de quatro dias. Na Nova Zelândia, grandes empresas adotaram a semana de quatro dias, resultando em menos estresse e maior satisfação no trabalho.
No entanto, a transição para jornadas mais equilibradas não é simples, especialmente para os empregadores. Empresas que operam com a escala 6×1 muitas vezes enfrentam desafios logísticos e financeiros ao tentar reorganizar suas escalas de trabalho, o que pode envolver a contratação de mais funcionários ou a implementação de novos turnos. Além disso, a necessidade de garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados em um novo formato de jornada exige uma adaptação das convenções coletivas e acordos de trabalho.
Apesar dos desafios, os benefícios de um modelo de jornada mais equilibrada são claros. A redução da carga horária contínua e o aumento dos períodos de descanso podem contribuir para a melhora da saúde física e mental dos trabalhadores, diminuindo os riscos associados ao excesso de trabalho. Para o trabalhador, a possibilidade de ter mais tempo livre, especialmente aos fins de semana, traz um alívio significativo, melhorando sua qualidade de vida e sua relação com a família e o lazer.
É importante destacar que a mudança na escala 6×1 não se trata apenas de uma questão de saúde, mas também de uma mudança cultural. As novas gerações, muitas vezes mais focadas na qualidade de vida e em experiências pessoais, tendem a valorizar o equilíbrio entre o trabalho e o tempo livre. Isso implica que as empresas que não se adaptarem a essas novas expectativas podem acabar perdendo talentos, já que os trabalhadores buscam ambientes que ofereçam mais flexibilidade e bem-estar.
O fim da escala 6×1 exigirá ajustes na legislação trabalhista brasileira para garantir os direitos dos trabalhadores, como o descanso semanal. Embora a CLT já preveja alternativas de jornada, será necessário revisar o modelo atual. Para as empresas, as mudanças podem trazer desafios econômicos, mas a transição reflete a busca por jornadas mais equilibradas, visando um mercado de trabalho mais humano, produtivo e saudável.
José Antonio Fernandes Paiva
Presidente do Sindicato dos Bancários de Piracicaba e região (SindBan)