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⭐ Piracicaba, 5 de junho de 2025 ⭐

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Foto de Dr.ª Juliana Previtalli

Dr.ª Juliana Previtalli

Cardiologista e ecocardiografista

Vape

 

Tarde da noite, as luzes da casa apagadas, a única claridade vinha de baixo da porta do escritório. Os pezinhos descalços não denunciaram a aproximação ao abri-la. Nuno, com três anos, surpreendera o pai fumando cigarros. Não sabia o que era aquilo. O pai, envergonhado, explicou-lhe e prometera-lhe que pararia. Victor Lembi Ávila, 40 anos, fumava escondido e a primeira pessoa a quem confessara fora o filho. Não conseguiu cumprir a promessa e ressentiu-se por dar mau exemplo ao menino que, ao vê-lo fumar, sempre chorava, pegava os cigarros e jogava-os no lixo.

Dependente desde os 30 anos, Vitor fumava dez cigarros por dia. Ao chegar a casa, tomava banho e escovava os dentes antes de abraçar os filhos. Não queria contaminá-los com os resíduos. Marila, a esposa, fingia desconhecer o vício do marido e não tocava no assunto “cigarro”, para o casal não brigar.

De origem humilde — a mãe, Sueli, fora manicure e vendedora de roupas —, Víctor cursara o técnico em Gestão Empreendedora na UNIP, em Limeira. Trabalhara alguns anos com o pai até resolver empreender, montando seu próprio negócio, em 2011 — a HI Hidráulica, empresa que oferece manutenção e reforma de pistões e de cilindros hidráulicos para empilhadeiras de contêiner. Com vinte funcionários, atende os portos de Santos, de Paranaguá, de Salvador, de Navegantes e de Itajaí.

Com frequência, dirige caminhão e toma energéticos à base de cafeína e taurina para reduzir o cansaço e cigarros para controlar o estresse. Percebia-se, constantemente, irritado e ansioso; sem paciência, dava respostas atravessadas à mãe Sueli, que lamentava, dizendo sentir saudades do filho que tivera. Certa vez, Bruna, a irmã, apresentou-lhe o vape, achando que poderia ajudá-lo a parar de fumar. Como Victor também vira um amigo vaporando, resolveu comprar um para si. Em pouco tempo, largou o cigarro de papel e passou a usar, exclusivamente, o cigarro eletrônico.

Atualmente, na quarta geração, os cigarros eletrônicos são vendidos na forma de Pen Drive com USB e entregam nicotina na forma de sal de nicotina com maior concentração e mais palatável, sem causar desconforto ao usuário. Além da nicotina, contêm uma mistura de glicerol, propilenoglicol, ácido benzoico e flavorizantes, substâncias, conhecidamente, carcinogênicas.

Apesar da comercialização proibida desde 2009, Víctor adquire-os, facilmente, por meio de contato no WhatsApp e de entrega em domicílio. Devido à facilidade do uso, passou a consumir em qualquer lugar e a todo momento, ainda que escondido da família.

A indústria do tabaco tenta persuadir os fumantes a trocarem o cigarro convencional pelo eletrônico, com a promessa de redução de danos ou de ajuda para cessar, completamente, o consumo. Na prática, observa-se que os indivíduos seguem utilizando e, em percentual significativo, tornam-se fumantes “duais”, de ambas as formas de tabaco.

Os esportes, sempre, os agradaram: corrida na avenida Cruzeiro do Sul, academia com personal e tênis de campo preenchem a agenda da semana. Certa vez, durante um campeonato de tênis, Víctor saíra da quadra para vaporar entre um “game” e outro — a nicotina acalmava-o e ajudava-o na concentração. Nos fins de semana, leva os filhos Nuno, de 7 anos, e Théo, de 4, para pescar no rio Piracicaba.  A bordo do barco, tapeia os meninos apontando para algo da margem enquanto retira do bolso o pod e expele a fumaça dentro da camiseta.

No fim do ano passado, o casal resolveu mudar o estilo de vida. Víctor e Marila iniciaram dieta alimentar, implementaram a prática de exercícios e, desta lista, ainda constava a cessação do tabagismo. Buscaram a minha ajuda e, no dia seguinte ao retorno de uma viagem a Capitólio-MG, Nuno colou o primeiro adesivo no peito do pai. Passados 4 meses, Victor mostra-se vitorioso na luta contra o cigarro eletrônico.