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⭐ Piracicaba, 31 de março de 2025 ⭐

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Foto de Dr.ª Juliana Previtalli

Dr.ª Juliana Previtalli

Cardiologista e ecocardiografista

Tecendo os fios da vida

Coziam-se os casulos no vapor e a escupineira procurava, até encontrar, os fios de cada meada e passava-os para a fiandeira. Sônia Maria Verde Bortolli e quase todos da família trabalhavam no manejo do bicho-da-seda. O pai, Cesário, herdara uma fazenda em Charqueada. Recebiam as larvas das lagartas da Indústria de Seda Rivabem, que comprava a produção deles e de todos os demais agricultores familiares da região. A cidade chegou a ser chamada “Capital da Seda”.

De lida trabalhosa e minuciosa, a sericicultura é realizada em galpões ou em ranchos com até 80 metros de comprimento ― as sirgarias. Nas três semanas em que o bichinho vive como lagarta, alimenta-se, exclusivamente, com folhas de amoreira. Na propriedade do senhor Cesário, havia sete alqueires com o pomar. Sônia trabalhou em todas as etapas: desde o manejo na fazenda, quando menina, até as funções de fiandeira e de tecelã, quando adulta, as mais elaboradas na indústria. Casou-se, jovem, com Sérgio, que também apreciava a vida no campo. Tanto, que compraram um rancho à beira do rio Teles Pires, na cidade de Sorriso, no Mato Grosso, distante 1800 quilômetros de Piracicaba.

Sônia aprendera a fumar com as amigas, que iam à sua casa acender os cigarros, pois os pais delas as proibiam. Sandra, a irmã mais nova, trabalhava com o pai na fazenda. Plantavam milho, feijão, arroz e cana de açúcar e criavam frangos e os bichos da seda. A fumaça dos cigarros ajudava a espantar os mosquitos.

Pouco se recorda da vida quando não fumava cigarros. Estes ficaram tão presentes na sua rotina, que só conseguia ir ao banheiro se, antes, acendesse um. Ao tragar o cigarro, puxa-se o ar para os pulmões, mas ele, também, vai para o estômago e o intestino, aumentando, muito, os gases intestinais. Além disso, o tabaco provoca irritação no aparelho digestivo, piorando o desconforto. O fato de se experimentar alteração intestinal, como a constipação, quando se abandona o tabagismo, pode, também, ser explicado pelo condicionamento de, sempre, fumar um cigarro antes de ir ao banheiro.

Certa vez, trinta anos atrás, interrompeu o vício durante um ano inteiro, mas, como não conseguia evacuar, voltara a fumar. Em julho de 2023, sofrendo, novamente, dos intestinos, Sônia buscou a ajuda do Dr. Ricardo Tedeschi, que a recomendou a me procurar para tratar o tabagismo. Chegou acompanhada de Sandra e seguiu o tratamento à risca, conseguindo êxito.

Conta que, mais de um ano depois, ainda sente vontade de fumar, principalmente, quando está contrariada, mas seus guardiões, o marido Sérgio ou a irmã Sandra, não a permitem. Tem, sempre, em casa ameixas secas ou uvas passas e não toma mais café. Depois que parou de fumar, o intestino melhorou.

Sônia e o marido planejam viajar, em breve, ao Mato Grosso, mesmo que não possam trazer pacus, tambaquis, cachorras e matrinxãs, já que a pesca, na região, se encontra proibida pelo prazo de cinco anos. O contato com a natureza compensará.

 

 

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