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⭐ Piracicaba, 29 de janeiro de 2025 ⭐

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Dr.ª Juliana Previtalli

Cardiologista e ecocardiografista

Cecílio, na Melhor Idade

Recebeu-me naquela mesma mesa branca de ferro fundido, na varanda da casa rodeada de flores e de plantas. O lugar remete à paz e à tranquilidade, qualidades que Cecílio, aos 84 anos, conquistara. Poliglota, contou-me que fala várias línguas, como o latim, o francês, o inglês, o alemão e o italiano. Quando moço, quisera tornar-se diplomata.

Outra mesa recebia pratos de comida, xícaras de café, copos de chopp e também papéis, lápis e ideias. Quando residia em São Paulo, possuía a “sua mesa”, no Bar Brahma. Lá, sentava-se, findo o trabalho de assessoria política e de comunicação que prestava a grandes escritórios e punha-se a escrever em guardanapos de papel e em papéis de embrulho. Fervilhavam-lhe as ideias que lhe renderam cerca de trinta livros publicados, dentre os quais “Piracicaba, a Florença Brasileira”, que enaltece a cultura da nossa cidade.

Conheci-o durante um exame de ecocardiograma, na Clínica Chicanelli. No laudo, sinais de insuficiência cardíaca, com fração de ejeção reduzida, sequela do infarto que sofrera trinta anos atrás. Convidei-o a participar do projeto antitabagismo Paradas pro Sucesso e, desde então, tomou-me como médica e como amiga, assim como Patrícia Elias, sua filha.

Uma das sequelas do infarto é o desenvolvimento da insuficiência cardíaca, a maior causa de morte entre pessoas acima de sessenta anos, com mais de 60 milhões de afetados em todo o mundo. Antes de morrer — o que, em média, acontece cinco anos após o diagnóstico —, o indivíduo corre ao hospital a toda hora com as pernas inchadas, com cansaço e com falta de ar, pois o coração não consegue bombear o sangue, de forma eficiente, para o corpo. Em resposta, o organismo ativa mecanismos de compensação, incluindo a retenção de sal e de líquidos. O tratamento baseia-se, primordialmente, numa série de remédios que devem ser otimizados e administrados de forma contínua. Em alguns casos, recorre-se ao marca-passo e, até mesmo, ao transplante cardíaco.

Dessa amizade, veio o convite para escrever no site “A Província”. Enchi-me de orgulho e aceitei, planejando pôr, no papel, as histórias dos pacientes, dos amigos e das figuras ligadas ao tabagismo. Inspirada nos textos do Cecílio, adotei o estilo da crônica, com as narrativas entremeadas a informações pertinentes.

Questionei-o sobre os planos para o futuro e disse-me não costumar fazê-los. O jornalismo — termo proveniente do francês journalisme, que remete ao jour, diário — fê-lo pensar somente no dia de hoje. Mas ocupa-se, atualmente, da feitura de dois livros: a biografia de um cientista piracicabano e a da jogadora Magic Paula, além das crônicas semanais publicadas às terças-feiras no JP e na Tribuna.

Cecílio, pai de cinco filhos, recebe, de todos eles, carinho, atenção e zelo. Dos sete netos, com os quais pouco conviveu, todos adultos e espalhados pelo mundo — nos Estados Unidos, na Irlanda, em São Paulo e no Rio Grande do Sul —, nota-lhes a curiosidade pela figura do avô: quem é Cecílio Elias Netto?

Juliana Previtalli é médica cardiologista e idealizadora do projeto antitabagismo Paradas pro Sucesso