Assim preconizou o teólogo e escritor Leonardo Boff: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Neste caso, referia-se principalmente a leitura, mas nos ajudou de certa forma a compreender o mundo atual e todas suas ambiguidades, pois quando aprendemos a respeitar e integrar diferentes perspectivas, nos aproximamos mais da complexidade e da beleza da realidade.
Como é sabido por todos, a sociedade atual configura-se numa eterna divergência conceitual em todos os aspectos e pilares, desde os ideológicos, políticos, até o mais simples dos temas. A mais recente polêmica que fez com o ano letivo nas escolas iniciasse de forma confusa e tensa, que foi a aprovação da lei 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares e equipamentos eletrônicos conectados a internet, tanto dentro da sala de aula, quando nos intervalos.
Apesar de ser recente a implantação da lei, nos últimos anos, o uso de celulares nas escolas tem sido um tema amplamente debatido entre educadores, pais e autoridades educacionais. Por um lado, há quem defenda que os dispositivos móveis representam uma ferramenta poderosa de aprendizado e conectividade; por outro, há aqueles que acreditam que a presença desses aparelhos em sala de aula pode ser prejudicial ao processo de ensino, contribuindo para distrações e dificuldades de concentração. Diante dessa polarização, surge a questão: o banimento do uso de celulares nas escolas seria uma medida necessária ou representaria um retrocesso tecnológico?
Se pensarmos pelo viés da inovação, não seria possível ignorar o papel transformador que a tecnologia desempenha na educação moderna e nos hábitos e dinâmicas da sociedade em geral. Com o acesso à internet e a aplicativos educativos, os celulares oferecem uma vasta gama de recursos que podem complementar e enriquecer o aprendizado. Plataformas como Khan Academy, Duolingo e Google Classroom tornam-se acessíveis na palma da mão, permitindo que os alunos adquiram conhecimento de formas mais interativas e personalizadas.
Além disso, os celulares podem promover a inclusão digital, especialmente para alunos que não possuem acesso a computadores em casa. Com as ferramentas certas, professores podem incorporar o uso de dispositivos móveis em suas aulas, criando dinâmicas mais participativas e estimulando a curiosidade dos estudantes.
Avaliando pelo viés dos desafios e perigos do uso indiscriminado dos mobiles, considerando inclusive que o Brasil é um dos países no topo do ranking de tempo em uso de telas, que acarretam inúmeras síndromes e até doenças emocionais, não temos como negar o outro lado da moeda, visto que também é percebível, que o uso indiscriminado de celulares nas escolas pode trazer uma série de problemas. A distração é um dos principais desafios, com alunos utilizando os dispositivos para acessar redes sociais, jogos e outras atividades que desviam a atenção do conteúdo acadêmico.
Além disso, o uso excessivo de celulares pode prejudicar as interações sociais presenciais, dificultando o desenvolvimento de habilidades interpessoais tão importantes na formação dos jovens. Há também preocupações relacionadas ao cyberbullying, que pode se intensificar com o acesso constante às plataformas digitais.
Diante desses dois cenários colocados, a pergunta que nos vem a mente é se devemos realmente Banir ou regulamentar?
A proposta de banir completamente o uso de celulares nas escolas pode parecer uma solução simples e direta, mas será que é a mais eficaz? Muitos especialistas defendem que o caminho ideal não é o banimento, mas a regulamentação e conscientização sobre o uso responsável da tecnologia. Ao estabelecer políticas claras sobre como e quando os dispositivos podem ser utilizados, as escolas têm a oportunidade de integrar a tecnologia de forma benéfica, ao mesmo tempo em que minimizam seus impactos negativos.
Programas educacionais que ensinam alunos sobre o uso ético e seguro da tecnologia, bem como regras para restringir o uso dos aparelhos durante momentos cruciais, como provas e aulas expositivas, podem ser mais produtivos do que a proibição total. Além disso, envolver os pais nesse processo é essencial para garantir que os jovens compreendam a importância de equilibrar o uso da tecnologia em suas rotinas.
Sendo assim, podemos concluir que o debate sobre o fim do uso dos celulares nas escolas não possui uma resposta única ou simples. Enquanto a tecnologia pode ser uma aliada valiosa para a educação, seu uso inadequado pode, de fato, trazer prejuízos. A solução ideal provavelmente reside em encontrar um equilíbrio que aproveite os benefícios dos celulares enquanto mitiga os desafios associados a eles. Mais do que proibir, é preciso educar.
Assim, cabe à sociedade como um todo — educadores, pais, alunos e legisladores — colaborar para construir um ambiente escolar onde a tecnologia seja uma ferramenta de aprendizado, e não um obstáculo. Somente com diálogo e consciência é que será possível transformar os desafios do presente em oportunidades para o futuro. Aprendamos e sigamos juntos e que consigamos construir essa via pavimentada por mais essa ambiguidade: nas descartar a tecnologia e conseguir estabelecer os filtros e focos necessários.