Escolha um trabalho que ame e nunca terá de trabalhar um dia sequer na vida.
O que pensam dessa frase? Utópica?
Talvez, principalmente olhando para a complexidade e as transformações em curso do mercado de trabalho nas últimas décadas, mas ela pode ser validada quando tal satisfação se encontra estampada no rosto de pessoas realizadas com o que escolheram como ofício.
A frase é do filósofo chinês Confúcio, proferida há milhares de anos, mas hoje ganha outros ares de realidade, sobretudo baseados em pesquisas sobre o comportamento das pessoas no mundo corporativo.
Pensando nessas palavras, volto a minha adolescência nos idos dos anos 1980. Na época, para quem residia na zona rural de Piracicaba, o caminho era fugir da lavoura de cana e trabalhar numa metalúrgica, devido a natureza e a força do setor metalmecânico em nossa cidade, que continua forte até hoje.
Para nossos pais, essa trajetória significava, entre tantas coisas, a certeza de um bom encaminhamento, de realização profissional e independência financeira de seus filhos. Tal expectativa se confirmou para muitos de minha geração, que conseguiram encontrar sentido a partir da visão e experiências de seus familiares e amigos.
No meu caso, não foi tão simples. Contrariando essa dinâmica e a expectativa de meus progenitores, não me interessei pelo caminho da certeza e compus uma verdadeira colcha de retalhos em minha trajetória, até encontrar sentido nas áreas de humanas, mais especificamente educação, comunicação e artes, que não necessariamente se equiparavam a uma carreira mais estável financeiramente. Mas esse fato não tinha grande importância, pois me sentia realizado e motivado.
Deixando minhas lembranças da juventude no passado, retomo o presente, onde, coincidentemente, o Senac São Paulo, instituição que trabalho há 25 anos, realizou uma palestra para seus funcionários recentemente, com a temática “Felicidade no trabalho”, momento este no qual, a mediadora, Renata Rivetti, apresentou as seguintes pesquisas e dados: neste momento, 76% das pessoas estão repensando suas carreiras (InfoMoney); 66% gostariam que o trabalho trouxesse mais satisfação, significado ou realização (Gallup); 86% dos colaboradores, querem ser medidos pela entrega e não horas trabalhadas (Harvard Business Review).
Ao lado da afirmação de Confúcio, que citei no início deste artigo, e das informações das conceituadas instituições, acrescento ainda uma reflexão sobre o que nos motiva e nos mantém em nossos trabalhos nos dias atuais, considerando o preocupante cenário, que ano após ano, apontam as pesquisas, considerável redução do número de funcionários que trabalham de forma engajada, chegando aos preocupantes 20% em 2020, ou seja, menos de um terço do poder colaborativo de qualquer instituição está feliz, motivado e em sintonia com a visão, a missão e os valores dos locais onde trabalham. Pergunto: E os demais? O que podemos fazer para mudar este cenário e percentual?
Certamente a resposta não é simples e representa um grande desafio, tanto para líderes, quanto para o setor de recursos humanos. Se antes um emprego estável e um salário satisfatório eram suficientes para reter seus talentos, hoje não o são. Creio que essas informações conseguem nos ajudar a entender um pouco melhor o alto volume de “turnover”, termo usado corporativamente para alta rotatividade de funcionários nas empresas.
Nesse novo contexto, cada vez mais presenciaremos pessoas vendendo suas competências e trabalhando por projetos, da mesma forma que muitos migrarão para a prática de empreender, em detrimento a tradição dos tradicionais contratos CLTs.
Então, o alerta para qualquer instituição, independente de sua natureza ou setor é: estejam atentas às tendências, como intraempreendedorismo, inovação, domínio tecnológico, proatividade, competências múltiplas e transversais, qualidade de vida, entre outros.
Esses temas devem estar presentes e tornarem-se práticas, desprendendo planejamento e investimentos anuais, pois são determinantes (ou não), para o sucesso na composição de equipes de alta performance, afinal, estamos presenciando um novo mercado de trabalho, em que algumas respostas podem surgir dessas e outras ações e, quem sabe assim, poderemos inventarmos corporativamente a forma de trabalho e os cargos do futuro.