Alguém aí acordou dia 3 de janeiro com uma sensação familiar, de algo que havia vivenciado, além daquela costumeira sensação do pós-festas e começo de um novo ano?
Creio que sim. Infelizmente, 2022 começou cobrando o preço pela felicidade que todos nos encontrávamos, confraternizando com nossas famílias e amigos, aproveitando a sensação de segurança de uma quase pós-pandemia, enfim, a liberdade que sempre tivemos para curtir e aproveitar nossas vidas.
As novas variantes, tanto do vírus SARS-CoV-2 (que causa a Covid-19) quanto do vírus Influenza A (H3N2) – que é um dos principais responsáveis pela gripe comum e pelos resfriados atualmente -, mostraram seu poder de contágio logo na primeira semana. Nesse momento, devemos continuar com todos os cuidados e protocolos de segurança anteriores, minimizando ao máximo a potencialização de disseminação dos vírus.
Não devemos, agora, perder a fé e desanimar, ou sair apontando o dedo na busca de culpados, muito menos nos defender dizendo que não nos expusemos, mas, sim, é hora de enfrentarmos esse novo/velho desafio com cautela e inteligência, principalmente a emocional, afim de não regredirmos a patamares indesejáveis de isolamento, lockdowns, recessão econômica, mais desempregos e expressivo número de vidas perdidas.
Além da agitação que acabei de citar, lembremos que estamos também em um ano de disputa eleitoral e, é fato e percebido por todos, que o movimento dos embates ideológicos e políticos continuam acirrados desde 2018, assim, como a força das crenças, das opiniões, da retórica interminável, principalmente potencializada pelas redes sociais e dos meios eletrônicos.
Fico pensando no poder de nossas convicções e nos desafios que representam as escolhas em nossas vidas, que acabaram por criar uma verdadeira guerra informacional, inclusive no segmento da saúde, com o famoso discurso “vacina ou não vacina; isolamento ou liberação geral”, enfim, todos nos tornamos especialistas em saúde pública e políticas de combate a pandemias.
Automaticamente me vem à mente o poema de Cecília Meireles: “Ou isto ou aquilo…”, onde traduz de forma tão leve o conflito entre a simplicidade de uma escolha óbvia e suas consequências: “ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva! Ou isto ou aquilo: e vivo escolhendo o dia inteiro”.
A partir das escolhas, disso ou daquilo, uma infinidade de afirmações, acusações e atribuições de culpa sempre estão presentes. Faltam indicações de caminhos corretos, as informações em demasia, que muitas vezes podem ou não serem verdadeiras, têm potencial maior por vezes, de confundir do que esclarecer.
Penso na fragilidade que estamos acometidos atualmente pelo sintoma da superficialidade, em muitos aspectos, criada pelo oráculo chamado Google, ou melhor, dos infinitos grupos que estamos inseridos no WhatsApp e que veiculam notícias, sejam verdadeiras ou não, com uma competência assustadoramente mais eficaz que qualquer veículo de comunicação.
O esvaziamento ideológico é percebido quase sempre e prospera superficialidade em todos os âmbitos e tipos de conversas, seja nos debates presenciais e ainda mais nos virtuais, nas salas de aula, em reuniões, eventos, nas rodas de conversas com amigos.
Retorno à questão das escolhas. Ou é isso ou aquilo. Quando decido ficar horas em frente à TV, se por um lado fico relaxado, por outro estou deixando de ler um bom livro e me nutrir de palavras. Quando escolho apenas assistir filmes comerciais, por um lado privilégio o entretenimento raso e momentâneo, mas por outro perco a experiência de prestigiar clássicos carregados de essência.
Se escolho me alimentar apenas das informações advindas da grande rede, tenho velocidade, mas perco a chance de me debruçar numa pesquisa aprofundada com ganho potencializado de conhecimento.
Enfim, tudo se resume a escolhas. Cada qual no seu tempo, cada qual com suas consequências, cada uma delas com sua simplicidade e dificuldade, nos levando, exatamente, até onde nos encontramos nesse momento. Fecho com Meirelles novamente: “Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se isto ou aquilo”.
Para tentar ajudar, de alguma forma, desejo que façam suas melhores escolhas neste momento e encontrem seus caminhos para os mais de 300 dias à frente e, assim, que possam ultrapassar e ir muito além desse confuso e atropelado Déjà Vu. Que 2022 seja surpreendente, motivador, cheio de saúde e realmente novo.