Neste mês de setembro, em que se homenageia a Independência do Brasil, mas que suas estruturas democráticas estão a balançar, torna-se importante, aos brasileiros sonhadores da liberdade, ressaltar os pressupostos narrados por Tucídides, na História da Guerra do Peloponeso, século V, o discurso aos atenienses: a Oração Fúnebre, de Péricles 430 a.C.; que por meio do filósofo da ciência Karl Popper, em A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, Edição USP e Editora Itatiaia, 1974, Vol. I, (págs. 201-202), elaborou um resumo desse discurso, o qual passo a descrevê-lo para que a nossa Pátria, em 2024, “Anno Domini”, século XXI, possa copiá-lo. Disse Péricles:
“O nosso sistema político não compete com instituições que vigoram em qualquer outra parte. Não copiamos os nossos vizinhos, mas tentamos ser um exemplo. Nossa administração favorece a maioria em vez das minorias; por isso é chamada democracia. As leis concedem justiça igual para todos em suas disputas privadas, mas não ignoramos as reivindicações do mérito. Quando um cidadão se distingue, então será ele chamado a servir o Estado, de preferência a outros, não como questão de privilégio, mas como recompensa ao merecimento; e a pobreza não é obstáculo. […] A liberdade de que gozamos estende-se também à vida comum; não temos suspeitas uns dos outros e não importunamos o próximo se ele prefere agir como lhe apraz. […]. Mas esta liberdade não nos priva da lei. Somos ensinados a respeitar os magistrados e a lei e a nunca esquecer que devemos proteger os ofendidos. E somos também ensinados a observar as leis não escritas, cuja sanção repousa apenas no consenso universal do que é justo.
Nossa cidade tem as portas abertas ao mundo; nunca expulsamos um estrangeiro. […] Somos livres de viver exatamente como nos apraz, e estamos sempre prontos a enfrentar qualquer perigo. […] Amamos a beleza sem comprazer-nos em fantasias e, embora tentamos aprimorar nossa inteligência, isso não nos enfraquece as vontades. […]. Não consiste para nós uma desgraça admitir que alguém é pobre, mas consideramos vergonhoso não fazer qualquer esforço para evitar isso. Um cidadão ateniense não deve negligência às coisas públicas quando atende a seus negócios privados. […] Consideramos o homem que não toma interesse pelo Estado não como inofensivo, mas como inútil, e embora apenas poucos possam originar políticas, somos todos capazes de julgá-las. Não encaramos a discussão como uma pedra de tropeço no caminho à ação política, mas como preliminar indispensável no agir sabiamente […]. Acreditamos que a felicidade é o fruto da liberdade, e a liberdade o do valor, e não recuamos ante os perigos da guerra […]. Em resumo, proclamo que Atenas é a Escola da Hélade e que cada ateniense, individualmente, cresce desenvolvendo-se em feliz versatilidade, em presteza para enfrentar emergências e em confiança em si.”
As frases de Péricles devem motivar o espírito dos congressistas, representantes do povo, a servi-los como a merecem, mas, também, serem os guardiões de que é o povo o real governante desta Pátria. E que elas sejam o despertar da fé na justiça, sem o uso da criatividade, mas na razão e no respeito às Leis, com direitos iguais para todos os cidadãos e, com a benção de Deus, sigam firme nos versos do nosso Hino: Verás que um filho teu não foge à luta.
Idico Luiz Pellegrinotti – Professor universitário