O tempo passa impiedosamente e, consultando bibliografias de lendas milenares que narram as atitudes das personagens mitológicas, principalmente as impiedosas, parecem cativar os que assumem poder de decisões monocráticas. O fascínio dos autocratas no poder assemelha-se, na forma humana, às atitudes macabras dos mitos clássicos. O apego ao tempo que se foi o impede de olhar para o futuro e progredir. Os mitos de Saturno e Basilisco se tornaram a cartilha que reflete o desejo de dominação da justiça e políticos para se sustentarem no poder, apesar da passagem do tempo.
Saturno, na mitologia romana, é conhecido por ser deus do tempo e ficou famoso por castrar e matar o pai – Urano – para ficar no trono e por devorar seus filhos recém-nascidos, acreditando que isso o protegeria de um oráculo que previa que um de seus filhos o destronaria. Ele, com medo de perder o trono, devorava seus filhos. Mas, o filho Júpiter foi escondido pela mãe e sobreviveu, e, ao atingir a idade adulta, tomou o trono de Saturno.
A lenda da passagem de Saturno e Júpiter, ao ser transportada para o tempo atual do poder político, se manifesta na corrupção e no cerceamento dos direitos dos cidadãos que podem ameaçar a soberania e a permanência autocrática. O desejo autoritário permite aos aliados devorar a ética e se alimentar da corrupção e, com o pensamento envelhecido, acreditam que não sairão do governo. Mas o tempo é soberano, um novo e lúcido governo surgirá para construir um longo tempo de prosperidade.
Ainda, a história greco-romana aponta o monstro Basilisco, citado pelo historiador romano Plínio, o Velho (23-79 d.C.), como terrível que, sem clemência, destrói tudo e a todos com um olhar e com seu sopro, fazendo com que outros de seu reino se comportassem como súditos, pois não desejavam ser fulminados, mesmo quando se alimentavam deixavam tudo para o monstruoso monarca. O Basilisco é descrito por Plínio como uma serpente que não arrasta o corpo, como as demais, mas fica ereto. Sua ferocidade mata de arbustos, aos que se opõem.
Na lenda, as formas do Basilisco são retratadas de diferentes formas de serpentes: víbora com cabeça de galo e crista em forma de coroa, cabeça de dragão, e outras. A lenda povoou o imaginário de artistas, pintores, dramaturgos e cineastas. A série de J.K. Rowling “Harry Potter e a Câmara Secreta”, a autora introduziu o monstro Basilisco como uma serpente que devora pessoas e petrifica quem olhasse para ele. Mesmo com as diferentes formas, o Basilisco é a encarnação da tragédia, do medo, do diabo e dos pecados de inveja, cobiça e arrogância.
Nestes tempos sombrios do medo, de prisão de pessoas e da arrogância pelos guardiões que usam as leis que não estão no ordenamento constitucionais e jurídicos; o pensar da sociedade é de desconfiança, pois o olhar de indignação e o som de liberdade pode se defrontar com o Basilisco da Justiça Maior que não dará chance de defesa aos acusados contra os devaneios da sua Corte. Pois, a conduta do Basilisco que nos vigia é o desprezo à opinião do povo.
Mas quem será capaz de convencer a solidez da convicção do Basilisco jurídico para ver inocência onde se colocou culpa sem respeitar os direitos fundamentais? Todos têm seu ponto fraco. Para derrotar a criatura é só o colocar em frente do espelho chamado verdade, que refletirá sua imagem, fazendo o Basilisco ver sua forma deformada pela maldade cometida contra as pessoas condenadas injustamente; ele fugirá com gritos de dor e espanto de sua própria deformidade de justiça que oprime e condena no abuso de poder.