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Ídico Luiz Pellegrinotti

Professor universitário

A democracia é traída pelo delírio autoritário

O delírio é mais potente do que qualquer ideologia, porque é dele que surgem as tiranias. A tirania é sustentada em dois princípios individuais de caráter: ambição e crueldade.

A fronteira entre narcisismo e delírio não se pode confundir com ideologia, mas sim com ambição para satisfazer vaidades, atropelando e, sem limites, perdendo o referencial ético, adentrando no vergonhoso campo da ilicitude com a perspectiva de cumprir o ambicionado papel de poder e de dominador. Fantasia criada, inicialmente, como democracia na mente delirante do dominador.

A história das civilizações está repleta de delírios autoritários, que tendem, de tempos em tempos, a saltar da história, repetindo com opressão como se fosse normalidade. E, sem a preocupação da meritocracia, outorga-se oficialmente quem será o guardião das leis, execução compartilhada de poderes e falta de limites aos privilégios em nome de defesa social.

Assim, o delírio no lugar da democracia não dá espaço à dúvida, tanto na antiguidade como em suas repetições em diferentes momentos dos séculos XX e XXI. Quando retorna o delírio autoritário, são fantasias os fatos, e não a fase de loucura dos discursos irreais.

A democracia é vilipendiada à medida que parte da elite política sustentada por setores de comunicação envelhecida e com acadêmicos do atraso, com seus gurus da tragédia, encobrem – ‘passam pano’ – a anormalidade de ambição e crueldade e anulam os traços patológicos, acomodando parte da sociedade a acreditar que é democracia o delírio da “nova justiça” e de governante absolutista. Como dizia o eminente economista Roberto Campos: a loucura humana tem passado glorioso e futuro promissor.

Na história, como hoje, observa-se que a coerção tem força na política. O esforço da comunicação militante nos meios culturais é exaltar como normalidade os delírios de uma justiça injusta e de uma política obsoleta no tempo, para esconder ações que se assemelham à demência.

A facilidade com que poderes oficiais, tomados por delírios e por leis próprias, invertem democracia por dominação por meio do medo e da dúvida que tem as pessoas de exercerem seus direitos legais; e se rendem ao comando de censuras e da violência psicológica aos direitos individuais de que tudo que conseguiram na vida pode ser tirado pelo arbitrário e unidirecional julgamento de culpa.

A força oficial, tanto militarizada quanto policial, a serviço do delírio de poder, executa opressões na ilusão de que a sociedade incorporará as diretrizes dos fatos irreais como reais. Isto é a busca do delírio coletivo, como se todos gritassem aos opressores, na visão de George Orwell, no livro 1984: viva o Grande Irmão!

Quando o poder oficial, por meio de seus pares com os mesmos traços delirantes, se professa guardiões da fugidia democracia, que a sociedade atribui como comportamento anormal ao perceber o excesso, os dominadores se organizam para dar uma aparência como não-loucura.

E, por meio dos discursos, acomodam seus desvios. Na história, fantasiar uma ideologia com apelos sociológicos de igualdade é o entorpecimento que o autoritário fornece para atingir seus objetivos. Hitler delirou uma sociedade nacionalista e racionalmente homogenia.

O povo, quando atacado em suas liberdades com censura policialesca, se manifesta na busca de coibir a anormalidade governamental, mas ao se ver cerceado e julgado como se estivesse no cadafalso e sem o apoio constitucional, ele altera até a matemática e exalta ao Grande Irmão, de Orwell, como verdade que 2 + 2 = 5.

Isto é o fim da democracia.