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Dr.ª Beatriz Abrahão

Fisioterapia e Ergonomia

Paralisia Cerebral

Definição

Paralisia Cerebral (PC) é a deficiência mais comum na infância, caracterizada por alterações neurológicas permanentes que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo, envolvendo o movimento e a postura do corpo.

Essas alterações são secundárias a uma lesão do cérebro em desenvolvimento e podem ocorrer durante a gestação, no nascimento ou no período neonatal, causando limitações nas atividades cotidianas.

Apesar de ser complexa e irreversível, a criança com PC podem ter uma vida rica e produtiva, desde que recebam o tratamento clínico e cirúrgico adequados às suas necessidades.

É importante ressaltar que, nesse caso, a lesão que ocorre no cérebro não é progressiva, ou seja, não piora com o passar do tempo.

Entretanto, as alterações no funcionamento e controle muscular podem levar a alterações ortopédicas que podem se acentuar com o crescimento da criança.

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br

 

Causas

Uma das principais causas de PC é a hipóxia, situação em que, por algum motivo relacionado ao parto, tanto referentes à mãe quanto ao feto, ocorre falta de oxigenação no cérebro, resultando em uma lesão cerebral.

Existem outras complicações, menos recorrentes, que podem provocar a PC. Entre elas estão: anormalidades da placenta ou do cordão umbilical, infecções, diabetes, hipertensão (eclampsia), desnutrição, uso de drogas e álcool durante a gestação, traumas no momento do parto, hemorragia, hipoglicemia do feto, problemas genéticos, prematuridade.

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br

 

Incidência

Cerca de 3 a 4 recém-nascidos a cada 1.000 nascimentos são acometidos por essa condição.

Fonte: https://drdiegodecastro.com

 

Sintomas

Geralmente, ocorre no primeiro ano de vida, quando o pediatra nota algum atraso nos marcos do desenvolvimento (ex.: rolar, sentar e andar), ou percebe alguma diferença entre os movimentos de um membro ou de um lado do corpo.

A criança com paralisia cerebral normalmente apresenta certa rigidez muscular e dificuldade para controlar os movimentos.

A depender do local e tamanho da lesão no cérebro, a criança também pode apresentar outros problemas, como alterações de percepção e um déficit intelectual.

É importante ressaltar que os pacientes com paralisia cerebral podem ter desde alterações muito leves e localizadas, com inteligência praticamente normal (ex.: uma dificuldade isolada nos movimentos de um dos pés), até quadros em que o paciente não consegue sentar sozinho e é dependente para suas atividades cotidianas.

 

Tipos

A Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS) é muito utilizada para agrupar as crianças com paralisia cerebral de acordo com as suas habilidades motoras.

Uma breve descrição de cada nível para a faixa etária dos 6-12 anos pode ser encontrada a seguir:

  • Nível I: A criança anda sem limitações;
  • Nível II: A criança apresenta alguma dificuldade para correr, pular, andar em terrenos irregulares e subir escadas sem apoio;
  • Nível III: A criança precisa de algum apoio para andar, como muletas ou andador. Para longas distâncias, a cadeira de rodas pode ser necessária;
  • Nível IV: A criança geralmente não consegue ficar em pé ou andar sem auxílio e, ainda assim, somente por curtas distâncias e quando é mais nova.

 

O principal meio de locomoção é a cadeira de rodas, mas elas podem ser capazes de utilizar uma cadeira motorizada de forma independente.

  • Nível V: A criança não tem controle de tronco adequado e é dependente dos seus cuidadores para todas as suas atividades de vida diária.

 

Do ponto de vista ortopédico, as crianças com paralisia cerebral podem desenvolver encurtamento de tendões e músculos, que levam a deformidades ósseas e articulares.

Estas alterações podem causar dificuldade para as crianças GMFCS I, II e III caminharem, fazendo com que gastem mais energia e se cansem mais facilmente.

Nas crianças dos níveis IV e V, é comum alterações na coluna, como a escoliose, e nos quadris, que pode inclusive se deslocar de forma gradual durante o crescimento da criança.

 

Diagnóstico

É feito através de um exame físico minucioso pelo médico pediatra ou neuropediatra. Um exame de ressonância magnética do crânio pode ser indicado para que se confirme o diagnóstico e se determine o local e a natureza da lesão cerebral.

Durante o acompanhamento da criança, outros exames podem ser necessários para auxiliar no planejamento do tratamento.

Radiografias do quadril e coluna são fundamentais, principalmente nos pacientes GMFCS IV e V, que têm maior chance de problemas nestes locais.

O primeiro sinal de que o quadril está se deslocando no paciente com paralisia cerebral pode ser apenas uma alteração na radiografia, sem nenhuma alteração externa aparente.

Para as crianças que apresentam dificuldade de andar devido a encurtamentos musculares e tendíneos e/ou deformidades ósseas e articulares, o exame de marcha é muito importante para a compreensão de todas as alterações em sua forma de caminhar e para planejar a melhor estratégia de tratamento.

 

Tratamento

A reabilitação dos pacientes tem como objetivos contemplar o ganho de novas habilidades e minimizar ou prevenir complicações como, deformidades articulares ou ósseas, convulsões, distúrbios respiratórios e digestivos.

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/

 

O tratamento do paciente com paralisia cerebral deve envolver diversas especialidades médicas, incluindo o pediatra, neuropediatra, ortopedista e o fisiatra.

Além disso, uma equipe de profissionais deve estar envolvida com a reabilitação da criança, incluindo o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, o pedagogo, o fonoaudiólogo e o psicólogo.

De forma geral, o objetivo do tratamento das crianças com paralisia cerebral é fazer com que elas desenvolvam o seu máximo potencial e, quando possível, adquiram a independência que será importante na vida adulta.

Infelizmente, não há método conhecido para reverter à lesão cerebral. Portanto, todos os métodos de tratamento buscam controlar as alterações causadas pela mesma.

É importante que o nível do GMFCS seja determinado para auxiliar na definição de qual linha de tratamento deve ser seguida.

Os pacientes GMFCS I, II e III, geralmente têm boa parte de seus objetivos de tratamento ligados à melhora da sua capacidade de andar.

Por outro lado, os pacientes do nível IV e V têm objetivos mais focados no posicionamento adequado, no controle da dor e no tratamento de eventuais alterações no quadril e na coluna.

O médico e os terapeutas podem recomendar diversos métodos para a melhora do controle dos movimentos, do equilíbrio e da força.

Algumas crianças precisam utilizar órteses para estabilizar as articulações e controlar o posicionamento, e algumas ainda necessitam do uso de algum meio auxiliar, como andador ou muletas.

O tratamento da criança com PC em seus primeiros anos de vida é direcionado principalmente ao desenvolvimento motor.

Entretanto, é importante sinalizar que, para a futura independência dessa criança, o desenvolvimento cognitivo e da capacidade de comunicação não podem ser desconsiderados.

Por essa razão, deve-se enfatizar que a integração social e a escolaridade são mandatórias.

Ao frequentar a escola, o convívio com as outras crianças, além de incrementar a capacidade de comunicação e o desenvolvimento cognitivo, também estimulará o desempenho nas atividades motoras.

Devemos lembrar que o equilíbrio familiar também é muito importante para que essa criança consiga desenvolver todo seu potencial. O convívio com irmãos e familiares deve ser estimulado, de forma que a criança esteja sempre inserida nas atividades familiares e sociais.

 

Tratamento com Toxina Botulínica (Botox)

A toxina é aplicada diretamente no músculo afetado, causando o relaxamento e potencializando a possibilidade de reabilitação daquela região.

A utilização de toxina botulínica (Botox) nas crianças portadoras de paralisia cerebral tornou-se um tratamento padrão para hipertonia/espasticidade.

A toxina é aplicada nos músculos mais acometidos pela espasticidade e seu efeito é superior às medicações orais.

Fonte: https://drdiegodecastro.com

 

Importância da fisioterapia

O profissional responsável pelo tratamento ajuda na manutenção da independência do paciente, fazendo com que suas atividades rotineiras sejam realizadas de forma simples e sem dificuldades.

O tratamento fisioterapêutico possibilita também a conscientização dos familiares a respeito de métodos que facilitam essa convivência.

O fisioterapeuta também irá desenvolver um trabalho a fim de tratar a condição motora do paciente, por meio de movimentos que treinem a coordenação motora fina.

Também são realizadas técnicas para corrigir problemas posturais e para conter contraturas e deformidades. Isso pode ser feito por meio do uso de diversos equipamentos.

 

Auxílio na socialização

Mesmo que a fisioterapia foque no desenvolvimento motor, o tratamento desses pacientes com paralisia cerebral também pode estimular a fala.

Durante as atividades é importante que os profissionais estimulem o diálogo e deem a oportunidade de o paciente se expressar, pois isso irá auxiliar muito na sua socialização.

De forma geral, a fisioterapia trabalha tanto a facilitação de mobilidade quanto a independência e melhora da convivência do paciente em sociedade.

Além disso, quando o tratamento acontece logo nos primeiros meses de vida do paciente, pode evitar o agravamento do quadro.

A fisioterapia neurológica, através de alongamentos, fortalecimentos, terapias manuais e simuladores de movimento, oferece tratamento para resolver deficiências motrizes e aperfeiçoar padrões motores, principalmente por meio de princípios neurofisiológicos da facilitação neuromuscular proprioceptiva.

A fisioterapia neurológica pode ser realizada em clínicas ou em home care (no domicílio).

 

Tratamento Cirúrgico

Quando ocorrem encurtamentos musculares e tendíneos e deformidades ósseas e articulares que interferem na função dos órgãos e atrapalham as atividades cotidianas das crianças, a cirurgia ortopédica é muitas vezes indicada.

O exame realizado no laboratório de marcha é muito importante no planejamento cirúrgico das crianças nível I, II e III do GMFCS para que todas as alterações que comprometem a sua capacidade de andar possam ser compreendidas e tratadas de forma adequada.

O principal objetivo é melhorar o alinhamento dos membros inferiores, sem enfraquecer a criança de forma excessiva.

Normalmente esses procedimentos são realizados após os 6-7 anos de idade, sendo que alguns tipos de cirurgias são mais indicados em uma idade mais próxima da adolescência.

As crianças com PC nível IV e V frequentemente requerem procedimentos cirúrgicos para garantir seu conforto e posicionamento adequados. Particularmente os quadris e a coluna devem ser monitorados de perto.

Quanto mais precoces as intervenções nesse nível, geralmente melhores os resultados.

A prevenção é o melhor caminho. Cuide-se, seu corpo agradece!