Mulher e o machismo no Brasil foram debatidos em palestra na Câmara, conduzida pelo pesquisador Helio Hintze
Na tarde de sexta-feira (31), o palestrante Helio Hintze comandou roda de conversa com o tema “Mulher, substantivo feminino: como o discurso do machismo estrutural constrói a ‘mulher’ no Brasil?”. A palestra foi realizada de forma presencial pela Escola do Legislativo, no salão nobre da Câmara Municipal de Piracicaba. O evento contou com a participação da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.
Helio é psicanalista, filósofo e pesquisador transdisciplinar. Ele comandou a palestra de forma dinâmica, com a apresentação de imagens e perguntas que levaram o público a identificar o machismo instalado na sociedade, o qual, segundo o palestrante, passa despercebido e é visto como “natural”. “O meu trabalho é a luta contra o preconceito. O problema é que todos nós temos um preconceito. Às vezes, a gente nem percebe o preconceito instalado dentro da gente”, disse.
O palestrante iniciou a discussão com conceitos sobre a ideia de ser mulher e indagou o público sobre o que é machismo. De acordo com o psicanalista, o machismo está instalado em toda a sociedade: “Machismo é todo entendimento masculino que se considera superior ao feminino”. Ele relatou que o termo está posto na sociedade como próprio da “natureza humana”.
O pesquisador mostrou que os significados das palavras são construídos socialmente e falou sobre como tais ideias são impregnadas dos valores machistas. Ele disse que “todo ser humano está aberto ao aprendizado e às mudanças” e argumentou que “a mulher pode tudo por conta da capacidade que tem”. Durante as atividades, o público apresentou frases que impostam a violência e são ouvidas com frequência no dia a dia, tornando-se populares, repassadas de geração a geração ou até mesmo embutidas em letras musicais.
“É preciso levantar o véu. As ideias que estão por trás e são normalmente violentas em primeiro momento com a mulher podem não parecer, mas acontecem também com o homem”, disse o psicanalista. Ele lembrou que frases como “homem não chora” ou “homem não leva desaforo para casa” instigam a violência cotidiana e citou, de acordo com pesquisas, o número de homens que morrem no trânsito por esses termos, tidos como “ofensas ao ego masculino”.
O psicanalista falou também sobre o aumento dos casos de feminicídios no país, em que a mulher termina o relacionamento, “o homem vai e termina com a existência dela”. Ele destacou que não é o comportamento da mulher que leva à violência.
Silvia Morales, que esteve à frente de eventos relacionados ao Dia Internacional da Mulher em diversos locais da cidade, falou sobre o tema. “A palestra vale para todos ouvirem de forma sincera e objetiva questões que ainda são tabus, mas necessárias para pensar o ‘eu cultural’. A cultura a gente muda; é preciso falar sempre e disseminar todo o conhecimento adquirido hoje”, disse.
“Estamos trabalhando para uma sociedade diferente, uma sociedade mais saudável. Espero que a discussão sobre o assunto possa continuar”, finalizou Helio.