Desde 2018

⭐ Piracicaba, 14 de maio de 2025 ⭐

[wp_dark_mode style="3"]
Foto de Hugo Garbe

Hugo Garbe

Professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

O recuo de Trump

As bolsas asiáticas encerraram mais uma sessão em terreno misto, refletindo um estado crescente de incerteza entre os investidores — não apenas em relação aos fundamentos macroeconômicos da região, mas sobretudo quanto aos sinais contraditórios vindos da política econômica dos Estados Unidos.

Em especial, o recente recuo de Donald Trump nas ameaças tarifárias contra a China provocou desconforto silencioso nos mercados, revelando um movimento que vai além da diplomacia: trata-se de uma hesitação estratégica diante da realidade econômica global.

Trump voltou a usar o comércio exterior como instrumento de pressão, reacendendo o fantasma das guerras tarifárias que marcaram sua administração anterior.

No entanto, o recuo rápido — sugerindo negociações que, segundo autoridades chinesas, sequer foram iniciadas — evidencia não apenas a fragilidade tática da ofensiva americana, mas também um dilema mais profundo: há limites econômicos para o confronto com a China sem que os próprios Estados Unidos sejam afetados por contragolpes inflacionários e rupturas nas cadeias produtivas.

Esse movimento contraditório da presidência norte-americana sugere que a retórica de endurecimento não encontra sustentação prática no atual momento do ciclo econômico global.

O cenário inflacionário interno, os juros persistentemente elevados e a dependência estrutural de importações baratas colocam restrições concretas ao uso de tarifas como ferramenta unilateral.

Assim, o recuo pode ser interpretado menos como uma concessão à China e mais como uma tentativa de administrar os efeitos colaterais de uma escalada comercial em um contexto macro delicado.

Nos mercados asiáticos, esse tipo de sinalização ambígua reforça o comportamento de cautela.

Com a China ainda em processo de recuperação econômica e os estímulos internos se mostrando moderados, o continente não pode se dar ao luxo de operar sob instabilidade externa prolongada.

As flutuações nos índices de Xangai e Shenzhen, combinadas ao desempenho moderado de Tóquio e Seul, refletem essa dificuldade de calibrar expectativas diante de um cenário internacional em constante reposicionamento.

Em última instância, a hesitação de Trump lança uma mensagem clara aos investidores: a estratégia externa dos EUA, embora agressiva na forma, está cada vez mais condicionada pelas restrições econômicas domésticas.

A ausência de uma narrativa coerente — ora ameaçadora, ora conciliadora — mina a previsibilidade que os mercados exigem para operar com confiança.

Enquanto prevalecer esse jogo de sinais cruzados, os mercados asiáticos devem continuar operando em compasso de espera, ajustando-se não apenas aos dados econômicos da região, mas, principalmente, às entrelinhas das declarações e recuos de Washington.

E nisso, a imprevisibilidade é o maior risco.

O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF).

Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas.

Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.