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ARTIGOS

O espaço-tempo em dois teatros

ESCRITO POR Idico Luiz Pellegrinotti

As teorias físicas procuram dar interpretações de realidade ao Cosmos, como a teoria do espaço-tempo einsteiniano, que por meio de suas equações formam uma unidade indissociável. Porém, essa teoria física permite relações de realidades. Nesse sentido, recorro ao espaço-tempo, sociologicamente, para entender o do dia a dia da política brasileira.

Assim, arrisco interpretar que em pleno século XXI, e viajando no espaço-tempo para relacionar dois teatros e a repetição de uma história do ano 415 a.C., escrita pelo dramaturgo Eurípides, encenada no teatro de Dionísio em que narra em sua peça; “As Troianas”, os julgamentos das vencidas na guerra de Troia. E, um teatro contemporâneo chamado: “Colmeia de Brasília”, com direção temerária de um membro dentro dum respeitoso órgão formador da República brasileira.

Eurípedes, com sua elegância e lirismo, expõe por meio da dramaturgia a tirania dos julgamentos dos vencedores. Os historiadores, de todos os tempos, mostram a repetição de virtude e de tirania que se afloram nas palavras: vencedor e vencido. Sendo a primeira, vencedor, o talismã para brutalidade sem limites para abandonar às virtudes e continuar a alimentar uma guerra sem fim. A segunda, vencido, além de explorado e sentenciado, se vê obrigado a viver sem a força da resistência e a cada sílaba de defesa é uma condenação insuportável e desumana por meio de uma lei feita a medida do julgador. Com o poder, o vencedor dá pouca importância a virtude, e se intitula como proprietário de normas e regulamentos que balizam o que é liberdade, cerceando ao vencido o direito de conquistá-la.

Acredito que estamos observando, no presente, cenas de um poema do passado, que foram premonição de Eurípides, dramatizadas nas mulheres troianas dos vencidos pelos gregos. O lirismo das cenas relata o sofrimento das troianas com o anúncio da morte do líder Heitor, e que sua mulher Andrômaca, sua irmã e sua mãe Hécuba, seriam escravas e mulheres dos gregos. Astianax, o neto, que para a avó seria a reconquistaria de Troia, foi anunciado por Taltíbio que será jogado de cima das muralhas, com essa morte, a esperança do libertador é destruída.  O poeta Will Durant (1969), cita partes da agonia da mãe e da avó de Astianax:

Tu, querido, que te aninhas em meus braços, que doce perfume sinto em teus cabelos! Tudo então será nada, meu querido? Nada este seio que te amamentou? Nada as noites e noites que velei à tua cabeceira até derrear-me de cansaço? Beija-me uma última vez. Nunca mais me beijarás. Cinge meu pescoço com teus braços e beija-me na boca… Oh, gentis gregos, encontrastes uma tortura que excede a todas do Oriente! Levai-o depressa! Arrastai-o, arremessai-o do alto das muralhas! Despedaçai-o, feras, depressa! Os deuses que me destruíram não me deixaram braços para salvar o meu filhinho da morte.

A avó, Hécuba, no sofrimento, exclama: com que palavras um poeta gravará na laje de seu túmulo a verdadeira história de meu filhinho? Sugere; “Aqui jaz uma criança que encheu os gregos de terror e, aterrorizados, eles a destruíram”.

O voo do teatro da Tragédia Grega para realidade no palco do teatro chamado de “Colmeia de Brasília”; viajando no tempo-espaço, é sensível que as falas das tragédias das personagens de As Troianas sejam referências para as mulheres trancafiadas arbitrariamente no camarim da Colmeia.

Como para idade antiga e contemporânea o tempo é o mesmo, e, são os fatos milenares que separam as tragédias em dois pontos no espaço; uma dramatizada num teatro como espetáculo e a outra real, representada numa prisão de vencidas como um espetáculo do vencedor que tenta fechar as grades, digo, as cortinas, para esconder o martírio das personagens e calar o público de demostrar as farsas e, com seu filhinho nos braços, as cores da Pátria, gritar: respeito a Constituição Cidadã e liberdade aos direitos do povo.