A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos já trouxe as primeiras consequências para o comércio internacional
Com a reativação de tarifas sobre produtos industrializados, componentes eletrônicos e aço, o protecionismo norte-americano volta à cena com força total — e seus efeitos vão muito além das planilhas de economistas.
Para profissionais brasileiros, especialmente os ligados à produção, logística e comércio exterior, o recado é claro: a geopolítica voltou a mexer nas fichas, e quem não se move perde o jogo.
“O novo protecionismo de Trump tem um impacto direto na carreira de quem trabalha em setores integrados a cadeias globais. As mudanças são rápidas, e os profissionais precisam estar prontos para se adaptar”, afirma Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras e PhD pela Unicamp.
Santos explica que, embora o Brasil possa se beneficiar como alternativa à Ásia em algumas cadeias, o bônus não vem automaticamente.
“Entramos no radar não por competência plena, mas por posição estratégica e capacidade ociosa. O que define quem vai se destacar nesse novo cenário não é o cargo atual, mas a capacidade de se tornar necessário”, diz.
Segundo ele, áreas como supply chain, engenharia de produção e logística devem ganhar destaque, especialmente para profissionais com fluência em inglês, conhecimento técnico e capacidade analítica.
“Empresas querem quem resolva, não quem só acompanhe. Profissionais com domínio de ferramentas como Lean Six Sigma, por exemplo, tendem a se destacar”, afirma o especialista.
Mas o cenário também traz riscos. Setores que dependem fortemente de insumos importados, como máquinas e eletroeletrônicos, podem ser pressionados por margens mais apertadas e perda de competitividade.
“Quem não se atualizar corre o risco de se tornar obsoleto. É como digo: a carreira não é linha reta, é labirinto.
E quem não atualiza o mapa, bate no muro.”
Virgilio vê na conjuntura atual um alerta — e uma oportunidade: “o capital vai onde está o talento. E talento, hoje, não é dom, é projeto.
Investir em conhecimento técnico, idiomas e conexões globais não é luxo, é estratégia de sobrevivência.”
Estudo recente da consultoria McKinsey indica que 16% das empresas norte-americanas cogitam sair da China.
Parte mira o México, mas outra parcela começa a olhar com mais atenção para países do Sul Global.
“A questão é: vamos estar prontos para receber essa demanda ou vamos assistir à oportunidade passar?”, provoca Santos.
Para ele, o momento exige menos reatividade e mais planejamento pessoal.
“A pergunta que todo profissional brasileiro deveria se fazer agora é: em que parte dessa engrenagem eu posso ser insubstituível?”, finaliza.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Autor do livro “Partiu Carreira”, TEDx Speaker, foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.