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⭐ Piracicaba, 31 de março de 2025 ⭐

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Mauro Falcão

Escritor Brasileiro

A AUTO-MENTIRA: O LABIRINTO DA CONSCIÊNCIA

A auto-mentira é o véu que estendemos sobre a realidade para que esta nos pareça mais suportável.

Um subterfúgio sutil, quase imperceptível, pelo qual justificamos inércias, adiamos verdades e tecemos narrativas que nos isentam da responsabilidade de mudar.

No entanto, por mais que possamos fugir do mundo exterior, nunca escapamos de nós mesmos.

Mentir para si não é apenas um engano momentâneo, mas um pacto silencioso com a estagnação.

Cada vez que escolhemos não enxergar, fortalecemos correntes que nos prendem ao que deveria ter sido superado.

O preço da auto-mentira não se paga no instante da negação, mas nos dias, meses e anos que se seguem, quando as consequências de nossa omissão se tornam inescapáveis.

Deixar de reconhecer os próprios erros pode proporcionar um alívio fugaz, mas esse alívio não é liberdade, é atraso.

O tempo que ganhamos ao evitar a dor da verdade será cobrado com juros pelo sofrimento futuro.

Pois a verdade, quando ignorada, não desaparece; ela cresce, se ramifica, se infiltra nas estruturas mais profundas do ser.

A auto-mentira é como guardar uma caixa fechada dentro de si, na esperança de que nunca se abra.

No início, parece seguro, uma forma de isolar as dores e evitar mudanças. Mas, inevitavelmente, o conteúdo da caixa se infiltra na alma, corroendo-a por dentro, até que a tampa já não possa mais conter o que foi reprimido.

Quando a verdade, finalmente, se impõe, não vem como um sussurro, mas como um colapso.

Um pai que cede às vontades do filho para evitar o desconforto da disciplina não está sendo indulgente, mas cúmplice na formação de um caráter sem limites.

Um casal que fecha os olhos para as fissuras de uma relação disfuncional não está protegendo o amor, mas condenando-o à corrosão lenta da desonestidade emocional.

No fundo, todos sabem quando algo precisa ser enfrentado, mas poucos têm coragem de encarar o espelho sem os filtros da autoindulgência.

A auto-mentira é o adiamento da vida autêntica.

Acreditamos que ignorar os problemas os fará desaparecer, mas isso é uma ilusão que apenas os fortalece.

Decisões postergadas transformam-se em dilemas insolúveis, e prazeres imediatos, quando buscados como refúgio, convertem-se em arrependimentos tardios.

“A maior ilusão do homem é acreditar que pode enganar a si mesmo impunemente.

O universo não negocia com a mentira, e a verdade, ainda que ignorada, continua sendo verdade”. (H. Couto)

Viver é um ato de coragem. Requer enfrentar o que é, e não o que gostaríamos que fosse. A verdade pode ser árida, mas é solo firme.

A mentira pode ser doce, mas é areia movediça. O que precisa ser feito, faça agora. Do contrário, a vida fará por você — e, nesse ajuste de contas, jamais seremos nós a ditar os termos.

Mauro Falcão, escritor brasileiro
E-mail: advfalcao@hotmail.com
Fone: (55) 51.995483374