Todos os estados das regiões Centro-Oeste e Sudeste acumularam volumes de chuva inferiores a 30 mm durante o mês de junho, bem como Piauí e Maranhão na Região Nordeste, Tocantins, Acre e Rondônia na Região Norte, e grandes extensões do Paraná na Região Sul. No restante da Região Nordeste, prevaleceram volumes entre 30 e 90 mm. Amazonas e Pará acumularam volumes entre 30 e 120 mm na maior parte dos territórios. Já em Santa Catarina, as chuvas oscilaram entre 60 e 120 mm, e no Rio Grande do Sul, choveu entre 150 e 210 mm. No Amapá e em Roraima, na Região Norte, foram registrados os maiores acumulados de chuva, superiores a 240 mm.
Os valores de armazenamento de água no solo ficaram abaixo de 15% nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, assim como no Piauí e em grandes extensões do Maranhão na Região Nordeste, e no Tocantins, Acre e Rondônia na Região Norte. Nos demais estados do Nordeste, prevaleceu o intervalo entre 15 e 45% de água armazenada, o que também foi registrado no Paraná. Em Santa Catarina, o armazenamento ficou entre 45 e 60%, já no Rio Grande do Sul, entre 60 e 75%. Amazonas e Pará apresentaram maior heterogeneidade, com registro de 15 a 75% de água armazenada no solo. Por fim, no Amapá, o armazenamento ficou entre 75 e 90% e, em Roraima, predominaram valores superiores a 90%.
Na Região Sul, a temperatura máxima ficou abaixo dos 25ºC, com exceção do Paraná, que registrou até 27ºC em algumas áreas. Na Região Sudeste, à exceção de São Paulo, as máximas ficaram entre 25 e 27°C. Em São Paulo e na Bahia, foram registradas temperaturas entre 25 e 29°C. Em Sergipe, Alagoas e Pernambuco, as máximas ficaram entre 27 e 29°C. Já na Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará na Região Nordeste, em grandes áreas de Goiás na Região Centro-Oeste, e no Amapá e Roraima na Região Norte, as máximas variaram de 29 a 31°C. No Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Pará, foram registradas máximas de 29 a 33°C. No Piauí, Maranhão, Tocantins, Rondônia e Acre, as temperaturas máximas ficaram entre 33 e 35°C.
As temperaturas mínimas ficaram abaixo de 13°C em grande parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Paraná, São Paulo e Minas Gerais registraram mínimas de 13 a 16°C. Nos estados do Centro-Oeste e na Bahia, as mínimas ficaram entre 16 e 22°C. Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba na Região Nordeste, bem como Tocantins, Rondônia e Acre na Região Norte registraram mínimas variando de 19 a 22°C. No Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, os valores foram de 19 a 25°C. Por fim, no Maranhão, Pará, Roraima, Amapá e Amazonas, predominaram mínimas de 22 e 25°C.
TEMPO E AGRICULTURA BRASILEIRA
Soja
A colheita da safra 2023/24 da soja pode ser considerada concluída em todo o território brasileiro. O andamento das operações foi notavelmente comprometido no Rio Grande do Sul devido às intensas chuvas registradas recentemente, mas a colheita é considerada tecnicamente concluída no território gaúcho, restam apenas algumas lavouras nas regiões sul e na Campanha, onde os produtores ainda tentam colher grãos que estejam minimamente em condições comerciais. No entanto, após a colheita, mesmo com períodos prolongados de sol, a elevada umidade pelas manhãs vem prejudicando a secagem dos grãos e complicando o processo de trilha e de transporte. A EMATER/RS reportou que a média estadual de produtividade está estimada em 2.923 kg/ha, uma queda de 11,4% perante a média de 3.300 kg/ha que se esperava antes da catástrofe climática que acometeu o Rio Grande do Sul, com chuvas torrenciais e enchentes. Em lavouras já em pós-colheita, onde será semeada a cultura do trigo, as plantas remanescentes estão sendo eliminadas.
Milho 1ª e 2ª safras
A colheita da primeira safra do milho foi finalizada nos principais estados produtores, apenas o Rio Grande do Sul, Maranhão e Piauí continuam com as operações a campo, sendo notável o atraso no Piauí, com 83% da área colhida na safra corrente contra 91% no mesmo período na safra passada, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No entanto, apesar do avanço mais lento no Piauí e no Maranhão, estão sendo obtidos rendimentos satisfatórios. No Rio Grande do Sul, a EMATER/RS aponta que 98% das lavouras de milho primeira safra foram colhidas, favorecidas pelo tempo mais seco. As áreas remanescentes são, principalmente, minifúndios com produção para autoconsumo. Um pequeno alento foi a melhora no desempenho das lavouras tardias devido ao tempo firme e à soma térmica satisfatória. Mesmo assim, a produtividade média estadual foi comprometida pelas condições climáticas adversas, passando de 6.401 kg/ha para 5.966 kg/ha segundo o último levantamento da EMATER/RS.
A colheita da segunda safra do milho avança por todo o território brasileiro em um ritmo mais intenso que o da safra passada, o que se deve, principalmente, ao tempo seco estabelecido em muitos estados no mês de junho. Segundo o último levantamento da Conab, as operações já perfizeram 47,9% da área semeada total, contra 20% na safra 2022/23. Os incrementos mais notáveis são registrados em Goiás (20%), Mato Grosso (62,4%) e no Paraná (42%), contra respectivamente 7%, 33% e 3% no mesmo período na safra passada.
No Mato Grosso, a colheita segue em ritmo acelerado conforme a maturação das lavouras, e está cerca de 30 p.p. superior ao ciclo anterior (Figura 1). À medida que a colheita avança no Estado, favorecida pelo tempo quente e seco, são registrados bons rendimentos nas lavouras, de modo que a atenção do setor tem se voltado para a consolidação da produtividade média final do ciclo 2023/24. O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) estima que o rendimento ficará em torno de 110 sacas/ha, com uma produção de 45,84 milhões de toneladas, uma redução de 12,68% em relação à safra recorde 2022/23, mas ainda um volume bastante superior à capacidade estática de armazenagem no Mato Grosso, de 49,94 milhões de toneladas apenas.
No Mato Grosso do Sul, as temperaturas elevadas, superiores a 35°C em algumas regiões, aliadas à falta de volumes significativos de chuva, adiantaram o ciclo do milho e prejudicaram a definição da produtividade. Segundo a APROSOJA/MS, já estão concretizadas as perdas no potencial produtivo devido ao estresse hídrico observado nos períodos de seca de março a junho. As lavouras semeadas até o primeiro decêndio de março, na janela de semeadura recomendada, sofreram perdas por estresse hídrico principalmente na região sul do estado. Já as áreas semeadas depois, que estão entre V5 e R3, estão passando por uma situação desafiadora, com cerca de 70 dias de seca e, caso contrário, com chuvas insuficientes e esparsas. Em Goiás, por outro lado, estão sendo obtdas bons resultados de produtividade e de qualidade de grãos à medida que a colheita progride.
No Paraná, a área colhida já atingiu 42% da área total semeada (Figura 1) e as lavouras remanescentes, as quais estão entre os estádios de frutificação (14%) e de maturação (86%), se encontram nas condições de desenvolvimento: desfavoráveis (18%), intermediárias (34%) e favoráveis (48%), segundo o DERAL/PR. Também enfrentando os impactos da falta de chuvas, as operações de colheita são favorecidas pela baixa umidade nas lavouras paraenses. No entanto, as lavouras das regiões norte, noroeste, oeste e centro-oeste do Estado estão sendo bastante penalizadas pelo período de estiagem, o qual já soma 30 dias em muitas áreas e prejudicou o enchimento de grãos, estádio muito sensível ao déficit hídrico. Na região noroeste, inclusive, as plantas de algumas lavouras estão sendo destinadas à silagem ou à cobertura de solo. Apenas a região sul do Paraná foge à regra, com ocorrência de pancadas de chuva esporádicas e rendimentos do produto colhido de acordo com as previsões iniciais ou superior.
A colheita do milho ainda está em fases iniciais no Maranhão e no Piauí, mas já são registrados rendimentos abaixo do esperado devido ao volume insuficiente de chuvas e ao ataque de pragas. No Pará, a situação diverge entre os polos de produção: no polo de Paragominas, a redução das chuvas provocou queda no potencial produtivo das lavouras; já no polo de Santarém, as lavouras em enchimento de grãos foram beneficiadas por chuvas frequentes.
FIGURA 1
Algodão
A colheita do algodão, apesar de estar em fase inicial, avança de modo satisfatório pelo país, com os principais estados produtores seguindo um ritmo mais intenso nesta safra em relação ao ciclo passado. No Mato Grosso, o IMEA reportou que as operações alcançaram 1,19% da área (Figura 2), principalmente nos talhões cultivados com algodão de primeira safra. Espera-se que a colheita se intensifique em meados de julho, quando começam os trabalhos de campo nas áreas de segunda safra. O foco continua na aplicação de defensivos e de maturadores para acelerar a maturação. No Mato Grosso do Sul e Goiás, a Conab reportou que a colheita já atingiu, respectivamente, 25 e 14% da área cultivada, beneficiada pelo tempo seco e pelas temperaturas elevadas, que favorecem, também, a maturação. Situação semelhante à do Mato Grosso se observa no Maranhão, onde a colheita avança nas lavouras de primeira safra, que estão principalmente com capulhos abertos e maçãs formadas. As lavouras maranhenses de segunda safra ainda estão formando maçãs e abrindo os primeiros capulhos. Na Bahia, a colheita já contemplou 15,8% da área cultivada (Figura 2), segundo dados da Conab, com maiores avanços nas áreas de sequeiro, onde tem-se obtido fibras de boa qualidade.
Trigo
A semeadura do trigo já foi finalizada nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No Paraná, de acordo com o DERAL/PR, a semeadura atingiu 94% da área projetada para esta safra. As chuvas ao sul do Estado nos últimos dois decêndios de junho favoreceram a semeadura na região, restando semear nas regiões central e norte, onde o baixo volume de chuvas pode prejudicar o desenvolvimento das lavouras. No Rio Grande do Sul, de acordo com dados da EMATER/RS, a semeadura está em cerca de 56% da área prevista, valor levemente abaixo do observado no mesmo período da safra anterior, consequência principalmente do alto volume de chuvas e da umidade excessiva do solo, bem como elevado custo das sementes. Além disso, o alto volume de chuvas em algumas regiões já semeadas provocou irregularidade na emergência e no estande de plantas.
Já em Santa Catarina, de acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (EPAGRI/CEPA), a semeadura se encontra em cerca de 26,74% da área prevista, valor abaixo do observado na safra 2022/23 para o mesmo período, como consequência do clima adverso no Estado observado nos primeiros decêndios de junho. Atualmente, as condições climáticas são favoráveis à semeadura, e as lavouras recém semeadas apresentam bom desenvolvimento. No entanto, há possibilidade de ventos fortes e de queda de granizo no Estado, sendo necessária atenção a potenciais alertas.
Na Bahia, as lavouras apresentam bom desenvolvimento devido à alta luminosidade em conjunto às baixas temperaturas noturnas. Já no Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, de modo geral, as lavouras estão sofrendo com altas temperaturas e déficit hídrico. Em Minas Gerais, enquanto as lavouras irrigadas apresentam bom desempenho, as lavouras de sequeiro sofreram com as altas temperaturas e falta de chuvas, além de ocorrências de brusone em algumas regiões do Triângulo Mineiro, o que pode reduzir o potencial produtivo da cultura. De acordo com a Conab, a colheita das lavouras de sequeiro avança na região leste de Goiás, chegando a 53%, e se inicia em Minas Gerais, em 3%, favorecida pelo tempo seco. É esperada para esta safra uma redução de 11,4% na área plantada, resultado da baixa dos preços do cereal, e aumento de 26,3% na produtividade com relação à safra anterior.
Feijão 1ª e 2ª safras
Segundo o último levantamento da Conab, a colheita das lavouras de feijão primeira safra já foi concluída em todo o território brasileiro e a colheita da segunda safra está em curso, já tendo sido finalizada em alguns estados. De acordo com a EPAGRI/CEPA, em Santa Catarina, as operações de colheita do feijão segunda safra foram encerradas na primeira semana de junho, porém o clima desfavorável durante o final do ciclo prejudicou consideravelmente as operações de colheita, forçando produtores a colherem o feijão com um elevado teor de umidade, o que gerou uma queda na qualidade e uma produtividade média cerca de 4% inferior, quando comparada com a safra passada. Entretanto, estipula-se que, entre a primeira e segunda safra, a produção total gire em torno de 116 mil toneladas, um aumento de 1,76% com relação à produção da safra anterior.
A ausência de chuvas ao final do mês de junho beneficiou as operações de colheita do feijão-caupi nos estados do Paraná e Bahia. No Paraná, o último levantamento divulgado pelo DERAL/PR reportou a conclusão da colheita da segunda safra e estima uma produção de 646,3 mil toneladas, cerca de 34% acima da safra anterior. Já na Bahia, a colheita ainda está em curso e a qualidade dos grãos colhidos durante as últimas semanas do mês de junho tem sido satisfatória, apresentando bons resultados.
Em Minas Gerais, a escassez de chuvas tem afetado o potencial produtivo das lavouras que foram semeadas mais tardiamente, que ainda estão na fase de enchimento de grãos, enquanto as lavouras mais precoces apresentam uma boa evolução nas operações de colheita.