Ranking do LinkedIn revela que, mais do que querer flexibilidade, quem cresce é quem entrega resultado com consistência e visão de negócio
A nova edição do ranking Top Companies 2025, divulgado pelo LinkedIn, aponta uma mudança relevante na dinâmica do mercado de trabalho no Brasil.
Em vez de se limitar a mapear onde os profissionais gostariam de estar, o levantamento revela quais empresas estão estruturando trajetórias consistentes de crescimento — e, ao fazer isso, escancara quais setores vêm moldando as regras nas relações de trabalho.
Segundo Virgilio Marques dos Santos, gestor de carreiras, PhD pela Unicamp e sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, há um denominador comum entre as empresas listadas: o posicionamento estratégico que ocupam dentro da economia brasileira.
“São organizações que atuam no centro da engrenagem nacional. Finanças, energia, mineração, varejo digital, logística. Setores que movimentam o PIB e influenciam diretamente a formulação de políticas públicas em Brasília”, afirma Santos.
Nomes como Itaú Unibanco, Bradesco, Vale, Mercado Livre, Raízen, Dow, Petrobras e Santander não estão no topo por acaso.
São empresas que operam sob regulação intensa — Banco Central, ANP, Cade, Receita Federal — e, por isso, exigem um tipo de profissional capaz de pensar com profundidade e agir com responsabilidade. “Não se trata só de saber fazer. É fazer bem, com clareza institucional e sob pressão”, reforça.
Quem elas estão contratando?
O perfil valorizado desafia algumas das narrativas em alta nas redes. Segundo dados do próprio LinkedIn, as funções mais recorrentes nessas empresas são técnicas, operacionais e analíticas.
No Itaú e no Bradesco, por exemplo, predominam cargos como oficial de negócios, gerente de conta, engenheiro de software.
Na Vale, são engenheiros de manutenção, analistas de operações e operadores de equipamentos pesados. No Mercado Livre, logística e atendimento são áreas-chave.
“A espinha dorsal dessas organizações é formada por quem entrega resultado no dia a dia. Analistas, operadores, engenheiros, desenvolvedores e atendentes são o motor do crescimento. O mercado continua premiando quem resolve problemas reais, com constância”, aponta Santos.
Flexibilidade como conquista — não ponto de partida
O levantamento também traz dados relevantes sobre o modelo de trabalho. Embora empresas como o Itaú já ofereçam 34% das vagas em formato remoto e 65% em modelo híbrido, esse cenário ainda não é a regra. No Bradesco, apenas 0,42% das posições são 100% remotas.
No Mercado Livre, metade das vagas são híbridas. Já em setores como energia, mineração e indústria — Raízen, Vale, Petrobras — a presença física continua predominante.
“Flexibilidade existe, mas vem depois da entrega. Não é ponto de partida, é consequência de uma atuação madura e orientada a resultados. Autonomia no trabalho vem com prova de consistência nas áreas que movem o negócio: dados, engenharia, operação, gestão”, diz Santos.
Ambiente construído, não improvisado
Outro traço comum entre as empresas da lista é o cuidado com a cultura organizacional.
O investimento em marca empregadora é estratégico — e não improvisado. O Itaú, por exemplo, é um dos maiores anunciantes do país.
O Mercado Livre aposta forte em sua imagem como empresa de inovação.
A Vale, após os desastres ambientais, vem trabalhando intensamente para reconstruir sua reputação, especialmente entre jovens talentos.
“O ambiente de trabalho não se vende sozinho. Ele é construído, comunicado e sustentado no cotidiano. Cultura não se improvisa, se projeta”, explica Santos.
Pensar como dono — mesmo sem ter o crachá de sócio
Nas empresas listadas, cresce quem propõe, decide e entrega. Quem pensa como dono, entende o negócio e não espera permissão para tomar iniciativa.
“Essas empresas precisam de gente que assume a bronca, que propõe solução, que aprende rápido e age com visão ampla. Quem depende de validação constante tende a estagnar”, analisa.
A edição 2025 do Top Companies confirma que o Brasil continua a demandar profissionais que atuem com foco, agilidade e senso de impacto.
Para quem busca crescimento, a pergunta que importa já não passa pelo modelo de trabalho ou pelos benefícios acessórios.
“O ponto é: você consegue entregar resultado com qualidade, ritmo e propósito? Porque é isso que está definindo quem avança”, conclui Santos.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Autor do livro “Partiu Carreira”, TEDx Speaker, foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.