Os brasileiros não podem continuar reféns da discórdia
A prolongada greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que se estende por meses, ultrapassou todos os limites do razoável e do bom senso, colocando em risco a economia, as empresas e os trabalhadores.
O alerta é do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), que reforça a urgência de uma solução para o impasse entre a categoria e o Governo Federal.
“Independentemente de quem tenha razão, a sociedade não pode continuar refém da discórdia e arcando com seus ônus”, afirma Rafael Cervone, presidente da entidade e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
As consequências nocivas da paralisação estão escalando, com atrasos na liberação de cargas, documentos retidos e processos aduaneiros estagnados por dias.
Setores que dependem de agilidade, como o farmacêutico e o de alimentos perecíveis, são os mais afetados, mas os prejuízos espalham-se por todas as cadeias produtivas.
Empresas enfrentam custos operacionais mais altos, perda de competitividade e risco de desabastecimento, em um momento no qual a estabilidade econômica é prioritária.
O comércio exterior também é muito impactado.
Em dezembro de 2024, o Ciesp já havia encaminhado ofício ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pedindo solução e apontando os danos causados pelo movimento.
Desde então, a situação só piorou.
Nos terminais de carga, o acúmulo de mercadorias ameaça levar o sistema ao colapso. As empresas ficam sem alternativas, tendo de esperar – até 15 dias, em vários casos – pela liberação de produtos, inclusive itens essenciais.
A greve entrou em uma fase ainda mais crítica com a operação “Desembaraço Zero”, iniciada em 31 de março e que deverá prosseguir até 11 de abril.
A manobra, para quase todas as liberações aduaneiras, repete uma ação semelhante à realizada em fevereiro último, quando mais de 75 mil remessas ficaram retidas.
Desta vez, os efeitos podem ser ainda piores: a desorganização da cadeia de suprimentos tende a pressionar os preços, com estimativa de aumento de até 2,1% no valor final dos produtos, com reflexos diretos na inflação no período da Páscoa.
Se não for resolvida já, a greve pode transformar um problema pontual em uma crise estrutural no comércio exterior brasileiro e nas cadeias de valor.
“Por isso, reforçamos o apelo por uma solução imediata, com a promoção do diálogo e do entendimento entre os auditores e o governo. E, para ontem, é premente atender às demandas urgentes, como a liberação de medicamentos, insumos produtivos e mercadorias perecíveis, antes que os prejuízos se tornem irreversíveis”, enfatiza Cervone.