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⭐ Piracicaba, 30 de janeiro de 2025 ⭐

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Ídico Luiz Pellegrinotti

Professor universitário

A súplica das crianças são as lágrimas

Ao falar de crianças, nos remete ao pensamento de grupos de seres humanos que transbordam de alegria. Nas partes desse pensamento é verdadeiro, mas, como o todo parece demonstrar que é maior que a soma das partes, os fatos passados (não digo história, pois certa ala de militância ideológica consegue fazer da história seu carrossel de fatos de conveniências) em que são narrados por pesquisadores responsáveis e cuidadosos nas referências, nos levam à indignação e à tristeza.

Um fato envolvendo crianças está no ocorrido em Lídice, uma aldeia da antiga Checoslováquia, atualmente República Checa, que foi palco de uma ação em 10 de junho 1942 pelo regime nazista, que separou mais de 80 crianças de seus familiares. O fato histórico chocou autoridades brasileiras que rendeu homenagens do Brasil, em 1944, no Estado do Rio de Janeiro, na época município de Itaverá (hoje município de Rio Claro), criando o distrito com o nome de Lídice. O prêmio Nobel de 1957, Albert Camus (1913-1960) faz referência à Lídice em seu livro: O homem Revoltado, pág. 216.

Em 1980, a escultura Marie Uchytilová (1924-1989), inicia uma homenagem às crianças afastadas de seus pais com um memorial com 80 crianças, retratando em seus rostos, o espanto e o medo. O memorial foi concluído em 2000, com as crianças em tamanho natural de bronze. Na aldeia, pouco se sabe se alguma mãe conseguiu encontrar seu filho. Mas, os olhos das crianças retratam a súplica por seus pais.

No Brasil, mais precisamente Brasília, em 8/1/2023, onde milhares de brasileiros acreditando na Constituição e nas Leis de ter o direito de expressar descontentamentos ou apoio as decisões oficiais, estavam espalhados nos arredores da Praça dos Três Poderes. No meio de uma multidão, houve por parte de alguns baderneiros, já intencionados, provocar tumulto e invasão, a esses o processo legal e penas correspondentes.

Enquanto, a intenção da imensa maioria só pensava em exercer sua ação de cidadania: pedir transparência, por acreditar nos Órgãos Oficiais, do resultado do pleito de 2022. A resposta oficial foi de forma generalizada, em que a ordem, após o cerco de centenas e centenas de cidadãos, com a acusação de que fizeram a invasão dos próprios públicos para derrubada de presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o que não se sustenta nem pelos fatos e nem pelos argumentos processuais dos Ministros da Suprema Corte e do governo eleito. Estas afirmações são de eminentes juristas brasileiros, jornalistas independentes e políticos experientes. Pois, a intenção de golpe foi pouco esclarecida, pelo sumiço das gravações comprobatórias.

A prisão em massa, sem a individualização processual, se tornou uma conduta fora das normas legais, mesmo assim as pessoas estão sendo processadas por iniciativa do autor do processo e enquadradas nos delitos em que o indiciamento propõe. Assim, como a maioria dos presos por golpe que não se comprovaram, estão sendo condenados. O triste desfecho da represália em massa está nos filhos e netos deles, que olham para um horizonte em que não há a quem recorrer; nos gabinetes e corredores da Suprema Corte, que merece respeito, não há o contraditório: se estava no local, é golpista; e estão recebendo penas extremas. Com o silêncio da OAB nacional.

As crianças de Lídice no memorial de Marie Uchytilová, olham um horizonte como se vissem seus pais. As dos presos do dia 8/1/2023 não podem olhar. Pois, suas lágrimas ofuscam a visão dos rostos de seus pais e avós que, condenados por uma ação imaginária, os afastam de seus convívios. As lágrimas dessas crianças são o monumento que pede justiça.