Especialistas explicam que o suicídio é a vontade de interromper uma grande dor, não a vida. É preciso quebrar o tabu, falar abertamente e ajudar sem julgar
O mês de setembro é marcado por uma das campanhas mais importantes de conscientização em saúde mental: o Setembro Amarelo, voltado para a prevenção ao suicídio. Com o lema de 2024, “Se precisar, peça ajuda!”, a campanha busca romper o silêncio em torno desse tema, promovendo a informação como uma aliada para salvar vidas.
De acordo com o último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), feito em 2019, mais de 700 mil suicídios são registrados globalmente a cada ano, com uma estimativa de mais de um milhão de casos ao incluir os subnotificados. No Brasil, o cenário também é alarmante: cerca de 38 pessoas tiram a própria vida diariamente. Esses números reforçam a necessidade de conscientização e ação, especialmente entre os jovens de 15 a 29 anos, grupo no qual o suicídio é a quarta principal causa de morte, depois de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
O suicídio, mostra ainda a OMS, mata mais que HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios no mundo. É um fenômeno complexo, que afeta pessoas independente de origem, sexo, cultura, classe social e idade.
Mas como podemos identificar os sinais e, principalmente, como ajudar quem está passando por um sofrimento tão intenso?
Sinais e como ajudar
Para Juliana Gonzalez, psiquiatra, o diálogo aberto é fundamental:
“O mais interessante é perguntar diretamente. Não ter medo de questionar se a pessoa tem pensado em morrer ou qual a motivação dela para viver. Precisamos vencer esse tabu”.
Depois de identificar que a pessoa pensa em interromper a vida, explica a psiquiatra, nunca pergunte o motivo.
“Os pacientes têm muito medo de julgamento. Isso os inibe de falar, de se abrir. Procurar razões só gera mais culpa. É essencial entender que a situação é uma questão médica e precisa de intervenção psiquiátrica emergencial”, alerta a profissional.
As razões por trás do sofrimento
Muitas vezes, a pessoa que pensa em suicídio não deseja, de fato, tirar a vida, mas sim acabar com uma grande dor.
“Em geral, a pessoa não quer mais estar no grau de sofrimento que está. O suicídio é, para muitos, uma tentativa de fugir da dor, não da vida. São pessoas em elevado grau de depressão, que sentem-se culpados e se veem como um peso para a família, ou por não conseguirem executar as atividades rotineiras como antes”, explica a psiquiatra, mostrando porque é importante ressaltar que a dor pode ser superada com ajuda de profissionais.
Condições como depressão grave são frequentemente associadas a esses pensamentos, mas qualquer motivo pode ser gatilho para essa dor insuportável.
O papel da família e dos amigos
A psiquiatra enfatiza que, ao identificar alguém com a vontade de tirar a vida, apenas diga que entende, ofereça ajuda sem julgar e garanta que a pessoa esteja segura até receber tratamento médico adequado.
Ela também destaca que, em casos graves, como ideação suicida ativa, no qual a pessoa planeja o ato, é necessário o internamento hospitalar, onde uma equipe multidisciplinar (psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional) estará disponível para intervir. Se for o caso de um internamento domiciliar, uma rede de apoio familiar deve se formar para monitorar o paciente até a melhora clínica.
O tratamento, além da internação, pode exigir medicamentos e terapia com psicólogos, que vão ajudar o paciente a desconstruir determinadas crenças, principalmente o sentimento de culpa e dor.
“Não é normal conviver com sofrimento e vontade de tirar a vida. Existem soluções, é possível melhorar”, estimula a psiquiatra.
Onde buscar ajuda
Em casos de emergência, de uma pessoa tentando tirar a vida, ligue imediatamente para o Samu (telefone 192). Se isso for apenas uma ideia ou vontade, ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV), no telefone 188, ou procure um psiquiatra urgentemente. Lembre-se: Você não está sozinho! Há sempre alternativas e a sua vida importa muito.