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⭐ Piracicaba, 25 de novembro de 2024 ⭐

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João Carlos Goia

Gerente do Senac Piracicaba, jornalista pós-graduado
em mídias e mestre em educação

FOMO: será que sofro dessa síndrome?

O despertador toca. Você abre o olho. Começa a despertar. Pega seu celular e vai ver o que aconteceu enquanto você dormia, isso se já não o fez, por uma ou mais vezes durante a madrugada. Esse relato é parecido com sua rotina? Se sim, saiba que é a mesma para mais de 50 milhões de pessoas no mundo e mais de 4 milhões só no Brasil.

A FOMO (Fear Of Missing Out) é algo parecido como medo de ficar por fora do que está rolando. Em alguns casos mais críticos é pavor realmente, que pode dar início a crises de ansiedades ou outras síndromes.

A conectividade exponencial sempre foi uma tendência, bem como a preocupação com os excessos e, a dinâmica do isolamento social, decorrente da pandemia, acabou por impulsionar ainda mais essa necessidade de estar presente por muitas horas na web durante o dia.

Se considerarmos que hoje, apenas 50% do planeta está conectado e, conseguirmos avançar superando o abismo digital que atinge a outra metade da população, obviamente, cada vez mais pessoas estarão on line usufruindo os benefícios da rede, mas também, passíveis de adquirir a FOMO.

O Brasil ocupa um preocupante lugar em tempo dedicado a internet no ranking mundial. Passamos quase 10 horas do dia conectados à rede, independente da interface que estamos utilizando.

Há 10 anos, escrevi um artigo que tratava da necessidade de transcendência de uma rede social, indicando que, se a vida de um avatar na rede, não gerasse ou trouxesse algum benefício para a vida real, isso poderia provocar danos a interação e ao comportamento, principalmente entre jovens e adolescentes.

Destaco que o fenômeno da supressão do real, frente ao virtual deve ser combatido, ou seja, nossa realidade deve gerar o conteúdo para as redes e não o contrário.

Junte a FOMO que explanei no início deste artigo, a nomofobia, que é o medo irracional de ficar sem um aparelho eletrônico ao alcance, especialmente os celulares, mais a necessidade de desejar olhar o que está acontecendo a cada notificação recebida, teremos então, um terreno fértil para o desenvolvimento de algumas síndromes, infelizmente com potencial prejuízo à saúde física e mental.

Para entender se o mal da FOMO te afeta, basta analisar alguns comportamentos, como por exemplo, necessidade de atualizar constantemente o feed das redes sociais para verificar o que existe de novo; necessidade de utilização do aparelho celular a todo momento, inclusive nas refeições, durante o sono, dirigindo e, até mesmo, no banheiro.

A preocupação constante também com a captação midiática de algum momento ou experiência, evidencia a síndrome, em detrimento da contemplação e presença real, como quando estamos diante de um belo pôr do sol e automaticamente apontamos nosso smartphone para captar a imagem e, assim, não a presenciamos através das lentes de nossos olhos.

Na educação, enfrentamos desafios decorridos dessa síndrome, tais como: é possível manter o foco de nossos alunos, por alguns minutos que sejam, sem que caiam na tentação de uma rápida checagem nas atualizações?

Entendam, os celulares e os aplicativos de redes sociais, foram especialmente projetados e desenvolvidos, para manter a atenção presa as poucas polegadas de uma tela de vidro e seu infinito looping.

Muitos professores tentam associar esses aparelhos às rotinas da sala de aula, o que certamente representa algum ganho, mas o desafio existe da mesma forma, pois nessa estratégia metodológica, a batalha é para não derivar do foco do trabalho, para o infinito e disponível arsenal de entretenimento a disposição.

Muitos de vocês que conseguiram chegar até este ponto do artigo, provavelmente já sentiram ou conhecem pessoas que relataram dificuldades em conseguir ler.

Uma simples e prazerosa atividade que sempre ocupou papel de fonte inquestionável de absorção de conhecimento, agora enfrenta dificuldade para sobreviver, frente a guerra latente dos eletrônicos conectados e implorando nossa atenção. Conseguir aquietar a mente e estar num lugar calmo, sem interferências e com o celular distante, parece ser cada vez mais desafiador.

Convido-os então a fazer pequenos exercícios que podem auxiliar no combate dessa e outras fobias. Procurar reduzir esse volume assustador de horas que passamos conectados, em pelo menos 10% do tempo e buscar sair de casa algumas vezes sem o aparelho celular.

Acreditem, o mundo não vai parar se vocês demorarem mais do que meia hora para ler uma mensagem; procurar realmente vivenciar, estar presentes, em momentos significativos, contemplativos, entre outros, permitindo-se estar por algum tempo desconectado da rede e, finalmente, procurar manter esses aparatos eletrônicos em segundo plano, quando estivermos entre pessoas que façam sentido para nossas vidas, como nossas famílias ou amigos próximos, afinal, não inventaram ainda nenhuma experiência mais prazerosa que tomar uma boa taça de vinho e dar boas gargalhadas falando e sentindo o pulsar da vida.

Não neguemos a tecnologia, até porque, nos dias atuais seria impossível, mas sempre busquemos sua utilização como meio e não como fim.